terça-feira, 14 de janeiro de 2020


AS SETENTA SEMANAS PROFÉTICAS
TEXTO BASE: Daniel 9:20-27

INTRODUÇÃO
O capítulo 9 de Daniel é um dos mais importantes do seu livro, seja do ponto de vista histórico, profético ou escatológico. O profeta entendeu pelos livros, que os anos do cativeiro se findavam, então decidiu buscar a Deus em oração, o que resultou na exposição misteriosa das Setenta Semanas Proféticas.
Estudar sobre fim dos tempos, excluindo as Setenta Semanas de Daniel, é deixar uma lacuna imensa no estudo da escatologia, sobretudo, no olhar à Nação de Israel como relógio profético de Deus. Por isso, faz-se necessário incluí-la no bojo de estudos dos últimos dias. 
Neste estudo analisaremos o significado, os propósitos e o cumprimento das Setenta Semanas, mesmo sabendo que sessenta e nove delas já tenham se cumprido. A última a se cumprir, representa os dias mais importantes de toda História, um divisor de águas entre duas Eras significativas: A Dispensação da Igreja e o Reino Messiânico. 

1. O SIGNIFICADO E OS PROPÓSITOS DAS SETENTA SEMANAS PROFÉTICAS

1.1 Considerações Gerais: Depois da descoberta de que os dias do cativeiro eram de setenta anos e que estes já estavam no fim [Cp. Dn. 9:2; Jr. 25:11,12], Daniel se dispôs a orar a Deus pelo regresso do seu povo [vv.3-19], quando teve como resposta imediata a revelação das Setenta Semanas proféticas. [vv. 24-27]. Fazem-se necessárias algumas considerações, antes de analisarmos os objetivos e cumprimento da profecia. Vejamos:
a) Setenta Semanas de Anos: A palavra hebraica usada por Daniel para Semana é shavua, que significa literalmente “um sete”, tanto se refere a uma semana de dias [sete dias], [Gn. 29:28] ou uma semana de anos [sete anos], como as semanas do jubileu [cf. Lv. 25:8]. Logo, as Setentas Semanas somam-se setenta vezes sete anos, a saber, 490 anos. 
b) A Relação: As Setenta Semanas de anos estão relacionadas a Israel e não à Igreja.  O v. 24 deixa claro que ela abarcaria o povo (Israel) e a santa cidade (Jerusalém).
c) Os Propósitos: O v.24 afirma que as Setentas Semanas estão “determinadas”, ou seja, estabelecido como ordem, decidido etc. O mesmo texto mostra que elas teriam um propósito definindo. As traduções portuguesas usam a preposição “para”, indicando a intenção e os objetivos das Semanas Proféticas, que apontam para a sêxtupla ação do Messias antes da instauração do seu Reino na Terra, como ápice da profecia.  
1º. “Extinguir a transgressão
2º. “Dar fim aos pecados
3º.  Expiar a iniquidade
Observação: Os primeiros três objetivos se referem à extensão do sacrifício expiatório de Cristo ao povo de Israel, ou seja, sua restauração espiritual, quando o pecado do povo será erradicado. Isso só ocorrerá no final da Última Semana [Zc. 12:10; Rm. 11:26]. 
4º. “Trazer a justiça eterna”: Refere-se à implantação de um governo de Justiça Eterna que terá inicio logo que a 70ª Semana se encerrar, com a entrada do Milênio [Is. 32:1; Jr. 31:31-34]. Nesse tempo o “mistério da injustiça” será banido definitivamente [2 Ts. 2:7]. 
5º. “Selar a visão e a profecia”. Ou seja, o cumprimento pleno das profecias relacionadas ao povo santo. [At. 3:1-21]. Aponta para o Milênio, quando a terra se encherá do conhecimento do Senhor. [Is. 11:9]
6º. “Ungir os Santo dos Santos”. Alguns interpretam como a proclamação de Jesus como Rei, outros preferem a interpretação de que se trata da purificação do templo e da cidade de Jerusalém, profanados pelo Desolador, o Anticristo [2 Ts. 2:4], visto que o “santo dos santos” nunca se refere a pessoas. Essa interpretação é mais razoável.  
1.2 As Três Seções das Setenta Semanas: A exposição angelical demonstra que as Semanas proféticas estariam divididas em três sessões propositais, a saber: Sete Semanas, correspondente a 49 anos; Sessenta e Duas Semanas, equivalentes a 434 anos, e, Uma Semana, ou seja, 7 anos. Cada uma destas Seções traz consigo algumas particularidades, envolvendo o Povo e a Cidade Santa, como postos no 1º e 2º tópicos.  
1.3 Um Intervalo de Tempo: Sessenta e Nove Semanas Proféticas já se cumpriram, restando apenas a Última.  Entre a 69ª e 70ª Semana, no entanto, existe um intervalo de tempo que já ultrapassa 2.000 anos; um hiato na História, providencialmente estabelecido, com objetivos bem delineados como veremos adiante.
2. AS SETE SEMANAS E AS SESSENTA E DUAS SEMANAS PROFÉTICAS

2.1 As Sete Semanas: O primeiro bloco de Sete Semanas ou 49 anos está associado ao início da restauração do povo, com o retorno do exílio para se e reedificar o Templo e restaurar Jerusalém. A explicação de Gabriel aponta para início da contagem das Semanas: “Desde a saída da ordem para restaurar e edificar Jerusalém... sete semanas...” [v.25]. Muitos estudiosos das Escrituras estão de acordo que a profecia aponta para o decreto baixado por Artaxerxes Longímano em 445 a.C. [cf. Ne 2]. As muitas oposições encontradas no contexto da edificação do templo, dos muros e da cidade, narradas por Neemias e Esdras e pela História judaica, encaixam-se perfeitamente na profecia de Daniel: “as ruas e as tranqueiras se reedificarão, mas em tempos angustiosos.” [v.25]. As Sete Semanas se encerrariam, então, em 396 a.C.
2.2 As Sessenta e Duas Semanas: A segunda seção de Semanas, correspondente a 434 anos, inicia-se, logo após o primeiro bloco, Nota-se que a profecia diz: “... desde a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém, até ao Messias SETE SEMANAS e SESSENTA E DUAS SEMANAS...” [v.25, grifo nosso]. As 69 semanas [7+62] somam 483 anos, o que somando 445 a.C., o ano do início da contagem,  aos 483 anos das 69 Semanas, levaria  o final  para o ano 33 d.C. No entanto, como o calendário de Dionysio tem um erro de cerca de 4 anos, isso retroage ao ano 29 d.C., o que, historicamente, remota ao ano da morte de Jesus. Muitos estudiosos concordam que a 69ª se cumpriu na entrada triunfal de Cristo em Jerusalém. [ ]. Neste particular, a Seção de 62 Semanas abrange os anos finais do Império Medo-persa, [331 a.C.] de todo o Império Grego [331 a.C. a 168 a.C.] e os primeiros duzentos anos do Império Romano, no qual se deu o primeiro advento do Messias.    
2.3 O Final das Sessentas e Nove Semanas: Dois eventos marcantes testemunhariam o final da 69ª [7+62] conforme o v.26 da profecia de Daniel: “depois das sessentas e duas semanas...”
a) “... será tirado o Messias e não será mais”: O primeiro Príncipe, a saber, o Messias, seria tirado. A profecia aponta para a crucificação de Cristo no fim da 69ª Semana, conforme a predição de Isaías [Is. 53:8]. 
b) “... e o povo do príncipe, que há de vir, destruirá a cidade e o santuário: A profecia fala de um segundo príncipe - o Anticristo. No entanto, está dito que “o povo do príncipe” destruiria a cidade. Isso se refere à destruição de Jerusalém e do Templo pelas legiões romanas no ano 70 d.C. [Cp. Mt. 24:2; Lc. 21:20,24].
c) “... o povo do príncipe, que há de vir...” observe que a profecia fala do “príncipe” como aquele que haveria de vir, fazendo-nos entender que a ação do “povo do príncipe” e a do “príncipe”, propriamente dito, ocorreria em ocasiões distintas: a primeira [destruição da cidade e do templo] se cumpriu logo após o final da 69ª, ainda na Era Apostólica e, a segunda [a profanação do templo] será futurista, ou seja, ocorrerá na Última Semana Profética [cp. 2 Ts. 2:4].  

3. A ÚLTIMA SEMANA PROFÉTICA

3.1 O Intervalo: Sabe-se que já se cumpriram 69 Semanas, sendo assim só resta uma. Portanto, a terceira seção [uma semana] não se intercala à segunda [sessenta e duas semanas] como esta à primeira [sete semanas]. Há uma pausa no relógio profético, um Hiato ou Intervalo entre a Penúltima e Última Semana, que vai do Primeiro ao segundo Advento de Cristo, chamado de Dispensação da Igreja, quando se desvenda o mistério de Cristo [Ef 5:32].  Esse Hiato se dá dentro do “Tempo dos Gentios, que muitos exegetas entendem como o período em que Jerusalém estaria sob o domínio dos gentios, iniciado com o cativeiro babilônico até ao Final dos Tempos, expresso no sonho da Estátua [Dn. 2:31-36] e entendido nas palavras de Jesus: “... e Jerusalém será pisada pelos gentios, até que os tempos dos gentios se completem [Lc 21.24 ACF]. Logo, parece prudente afirmar que o Intervalo entre a 69ª e 70ª Semana  é  o tempo que Deus, na sua infinita graça, concedeu aos gentios a oportunidade de desfrutar da bênção de Abraão [Gl. 3:14], por isso Paulo o chama de  plenitude do tempo dos gentios” [Rm. 11:25, grifo nosso]. 
3.2 Os Últimos Sete Anos Proféticos: A Última Semana Profética terá Início com o Arrebatamento da Igreja e se findará com a Vinda de Jesus em Glória, um período de sete anos que, na Terra acontecerá a Grande Tribulação. Temas analisados nas próximas Aulas. As ocorrências neste tempo terá como figura central o “príncipe que há de vir”, que conforme o v. 27 isso terá três momentos diferentes:
a) O Acordo no Início da Semana: No início do seu governo, o Anticristo fará um acordo [uma espécie de tratado de paz], com muitos, por Sete Anos [uma semana]. Período em que será aclamado como o Messias por Israel e ganhará a aceitação do Mundo todo [Jo. 5:43].  É desse período que João fala dele como o cavaleiro do cavalo branco que “cavalgava como vencedor determinado a vencer”. [Ap. 6:2 NVI].
b) O Rompimento do Pacto na Metade da Semana: Passados três anos e meio [a metade da semana], o Anticristo dará evidências de que é um impostor. Ocorrerá o sacrilégio ou a profanação do templo, quando o príncipe mudará as leis de culto, atitude que Gabriel descreve como: “... nas asas da abominação virá o desolador.” [v.27]. Neste tempo o Anticristo reivindicará para si as prerrogativas do próprio Deus [2 Ts. 2:4] e, certamente, Israel se desvinculará da aliança [cp. Ap. 12:1,2]. Indignado, o Anticristo começará uma perseguição sem medida ao povo Santo. Instalar-se-á então, a “Angústia de Jacó”. [Jr. 30:7], o pior de todos os sofrimentos que Israel já viveu durante sua história [Cp. Dn. 12:1].
c) A Derrota no Final da Semana: A profecia prevê que “... o que está determinado será derramado sobre o assolador”. Sua ação sanguinária e diabólica só durará três anos e meio [a segunda metade da semana profética]. Seu governo, que está prefigurado nos dedos de ferro misturado com barro, do sonho de Nabucodonosor, será destruído com a Revelação Pessoal de Jesus Cristo [2 Ts. 2:8], a “pedra jogada sem mão” de Daniel 2:34. – Findar-se-á o Tempo dos Gentios, e os todos os reinos do mundo serão do Senhor Jesus [Ap. 11:15; Dn. 2:44;7:13,14
3.3 A Metade da Semana: Vimos que uma Semana Profética corresponde a sete anos, logo a “Metade da Semana” corresponde a três anos e meio. A segunda metade da Semana se define como os piores dias de todos os tempos, nos quais a Nação de Israel passará pelo batismo de fogo [Zc. 13:9]. Se aquele período fosse mais longo, ninguém conseguiria suportar [Mt. 24:22.]. Esses três anos e meio, ou “metade da Semana”, aparecem com outras nomenclaturas na profecia bíblica, a saber: “tempo, tempos e metade de um tempo” [Dn.7 :25; Ap. 12:14 ]; mil duzentos e sessenta dias [Ap.11:3;12:6] e quarenta e dois meses [Ap. 11: 2; 13:5]. Referências a Grande Tribulação, propriamente dita.


CONCLUSÃO

As Setenta Semanas Proféticas é a demonstração dos cuidados de Deus pela Nação e Povo Santo, que apesar de viverem nas mãos dos gentios, por centenas de anos, serão resgatados no Fim dos Tempos: Jerusalém será a Nação Mundial de onde sairá a Lei do Senhor e Israel será restaurado, nacional e espiritualmente, para sempre. Esta nobilíssima Profecia, é ainda, a prova de que todos os domínios e poderes debaixo dos Céus são impotentes e efêmeros e, finalmente, que o amor e poder de Deus sempre triunfarão.  

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