domingo, 12 de janeiro de 2020


A DOUTRINA BÍBLICA DA MORTE
TEXTO BASE: Ec. 9:1-6,10

INTRODUÇÃO
É impossível entendemos plenamente a Escatologia Bíblica sem o entendimento da Doutrina da Morte, do Estado Intermediário e da Ressurreição dos Mortos, bem como a crença na imortalidade da alma, pois estes elementos estão diretamente ligados a todos os eventos escatológicos.
O homem foi criado com uma constituição que não se aniquila com a morte física, muito embora, como pena do pecado, sofra as consequências da morte espiritual e eterna. Esse elemento, a saber, a alma - que é imorrível do ponto de vista natural - sobrevive fora do corpo, conscientemente, até que ocorra a ressureição do corpo, para a vida eterna ou para condenação.  
Não obstante, a morte, em todas as instâncias, esteja associada à separação, com Cristo temos a garantia de um reencontro, seja dos elementos do ser total do homem, com a ressurreição escatológica ou do restabelecimento da comunhão com Deus, resultado direto da morte de Cristo. Por isso a morte não tem poder condenatório sobre aqueles aceitaram a Vida, nem causa pavor como ocorre com os ímpios. 

1.    A IMORTALIDADE DA ALMA

1.1    A Doutrina Herética da Morte da Alma: Ao contrário do que nós pentecostais cremos que a alma é imortal e que haverá castigo e gozo eternos, existem algumas doutrinas que defendem a aniquilação da alma, após a morte do corpo, ao interpretarem, equivocadamente, textos como Jó 3:13-19; Sl. 6:5; Ec. 9:5 etc. e aqueles que usam a palavra alma [hb. hephesh; gr. psychê] como um elemento mortal. [Ez. 18:4,20; Mt.10:28].  A Doutrina Aniquilacionista defende que após a morte física, o indivíduo entra no “sono da alma” num estado de inconsciência; no final dos tempos, os justos ressuscitarão para a vida eterna e os ímpios reviverão para serem julgados e em seguida irem ao inferno onde o corpo e a alma serão aniquilados para sempre, ou seja, não mais existirão. Em suma, para o Aniquilacionismo ou Mortalismo Cristão a alma morre juntamente com o corpo mediante a morte física, provocando a cessação total da existência humana.
1.2    A Alma Como Constituição Imaterial e Imorredoura: Quando falamos da imortalidade da alma, referimo-nos ao homem interior, que é a junção da alma e do espírito. Pois, o homem exterior se corrompe com a morte, mas, o homem interior [alma-espírito, como elementos invisíveis, imateriais e indissolúveis] transcende ao final da vida física, ou seja, não se sucumbe na sepultura com a morte do corpo. [Ec. 12:7; Lc. 23:46; At. 7:59].]. A Bíblia fala da alma como uma entidade distinta e consciente e, que por sua vez, sobrevive à morte do corpo [Is. 26:9; Lc. 1:16,47; 16:23,24,27,28; Ap. 6:9-11;7:9,10]. 
1.3    A Existência da Alma Fora do Corpo: Existem crenças populares de almas errantes [fantasmas] que vivem vagando pela terra, que por sua vez vêm de ideia da mitologia portuguesa da “alma penada”. Todavia, isso não passa de invencionices humanas. Quando uma pessoa morre, sua alma sai da dimensão física da “terra dos viventes” [Sl. 52:5] e entra numa dimensão metafísica e espiritual, a saber, o “mundo dos mortos” [Ec. 9:3]. Não há liberdade para a alma sair de lá, naturalmente, e voltar à dinâmica da vida [Cp. 2 Sm. 12:21-23; Lc. 16:26]. Isso só ocorrerá por ocasião da ressurreição, quando as três entidades humanas se reunirão, como veremos na Aula 4. 

2.      A MORTE NA ESFERA HUMANA E ESCATOLÓGICA

2.1    O que é a Morte: Definir morte é uma tarefa difícil, pois, cada ciência ou fonte de conhecimento tem uma definição particular, seja as Ciências Biológicas, a Medicina Legal, a Filosofia ou a Teologia. É interessante dizer, portanto,  que a Morte não é: a “extinção absoluta”, como afirma o materialismo ; não é o final do ciclo vital do corpo para a alma reencarnar noutra pessoa, como diz o espiritismo; ou, a personificação de um esqueleto com túnica preta, um espírito mal ou outro ser iconográfico como se veem nas culturas e mitologias antigas. Mas, o que é a Morte?
a.    Conceituação Biológica: Biologicamente falando, a Morte é a cessação total da atividade elétrica do cérebro, ocasionando a falência geral do organismo, ou seja, é o fenômeno natural determinado pela disfunção geral da consciência e das funções orgânicas; é o estado de falecimento, demarcado com o final da vida física.
b.        Conceituação Teológica: a Morte foi um decreto divino, que entrou em evidência a partir da desobediência de Adão (cf. Rm. 5:12; 15:21). Deus não é o autor da morte, ele é o oposto a ela; Dele é a essência da vida (Gn. 2:7; Jó. 33:4; Cl. 3:3 etc.). A morte é consequência do pecado, e o pecado é instrumento do Diabo. Logo, a morte é um projeto do diabo, por isso ela está no elenco dos inimigos de Deus (1 Co. 15.26;At. 2.24; Ap. 20.14). Em suma, a Morte é a consequência do pecado original, impetrada como decreto divino.
2.2    O A Realidade da Morte: A Morte não é um ato da injustiça de Deus que, aliás, não criou o homem para morrer, embora tivesse uma natureza mortal. Se ele não tivesse pecado, também não morreria. [Gn. 2:17], Porém, ao transgredir, ele recebeu o salário do pecado – a morte [Rm. 6:23].  Assim, todos os homens receberam a penalidade da morte, o pior de todos os pavores humanos. [Rm. 5:12]. É a triste realidade que ninguém pode fugir [Hb. 9:27; Rm. 5:12:], “porque os vivos sabem que hão de morrer...” [Ec. 9:5A]. Apesar da expectativa de vida está aumentando a cada dia, a existência humana é efêmera [Ec. 6:6; Tg. 4:14], e é assertiva as palavras de Paulo: “comamos e bebamos, que amanhã morreremos” [1 Co. 15:32]. Somos convidados a lembrar de Deus antes deste terrível dia [Ec. 12:1-7], porque com Cristo passamos a ter outra concepção da realidade da morte. [Sl. 116:15; 1 Ts. 4:1;Ap. 14:13;], pois como morremos em Adão, vivemos em Cristo. [1 Co. 15:22]. Assim, para os salvos - mesmo estando sujeitos a morrer - a morte não mais se aplica como sentença condenatória [2 Tm. 1:10; cf. Rm. 8:2], mas, como um portal que se abre para “estamos com Cristo” [Fp. 1:21-23; cf. 2 Co. 5:8].  A aceitar Jesus, recebemos a vida eterna - avida de Deus que não se afeta com a morte do corpo [Jo 5:24] e a garantia da imortalidade –  a glorificação do corpo [1 Co. 15:54].
2.3    Considerações Especiais: No escopo da Doutrina Bíblica da Morte existem muitas questões a serem analisadas. São ponderações que precisamos pontuar, a fim de evitarmos contradições e heresias. Vejamos algumas:
a.        O Dia Marcado para Morrer: Não existe na Bíblia fundamento de que todo mundo tem o dia de morrer marcado, esse é pensamento da filosofia determinista. Ao falar que “há tempo de morrer” [Ec.3:2], Salomão não se refere a um tempo marcado para morte, e sim,  ao tempo [hb. ‘etz , ocasião]  como  o “ciclo comum da vida”
b.        A Morte como uma Lei Natural: Todos que nasceram de Adão sabem que um dia vão morrer. Há uma lei natural [não arbitrária] estabelecida pelo Criador para todos viverem o seu ciclo existencial [cf. 1 Cr. 17:11] porém, há uma responsabilidade humana para a preservação e manutenção da vida. [cf. Dt. 30:19]. A morte pode ser antecipada, pela impiedade, pela imprudência humana e por questões circunstanciais [Ec. 7:17; Jó 22:16; Pv. 10:27; 2 Rs. 4:40,41; Lc. 13:4] e pode ser retardada pela obediência a Palavra de Deus e atitudes cautelosas  [Êx. 20:12; Dt. 6:2; Pv. 2:16; 3:2,16; 9:11;13:14; Ec. 8:13; 1 Rs. 3:14]. Se Deus quiser ele livra o homem da morte [Sl. Sl.68:20; Pv. 14:27], mas, isso está a mercê de Sua soberana vontade, A Bíblia dia que ele livrou a Pedro da morte, [At. 12:6,7] mas permitiu que seu amigo Tiago fosse morto ao fio de espada. [v.2].
c.        Entendendo o Ato de Deus Matar o Homem: O propósito amoroso de Deus é de que o homem tenha vida [Dt. 30:19], por isso declara que não tem prazer na morte do ímpio [Ez. 18:23]. No entanto, quando o homem rejeita a Deus, ultrapassando os limites de Sua bondade e tolerância, como Saul [1 Cr. 13:14], e, em casos específicos, quando ignoram Seus princípios e Sua autoridade, como Nadabe e Abiú [Nm. 26:61] pode ser privado do dom da vida ou “entregues a morte”.  Neste particular, a afirmação de Deus “Eu mato” [Dt. 32:39], refere-se a retribuição da justiça divina, como uma sentença de morte ao desprezo humano. [Cp. Sl. 89:14A]. Isso pode ser exemplificado, ainda, com Er e seu irmão Onã, os quais foram mortos por Deus por serem maus [Gn. 38:7,10]; com o rei Jeorão que foi ferido mortalmente pelos seus pecados [ 2 Cr. 21:18,19] e com muitos outros que morreram, ao atraírem para si a ira de Deus [Cp. Sl.78:31]. É assertiva a declaração de que Deus é o Autor da vida, por isso Ele pode tirar e pode dá [1 Sm. 2:6], sem que se configure uma ação de injustiça, ainda que isso pareça um “ato estranho” [Cf. Is. 28:21] e difícil de aceitar como a morte de Uzá [1 Cr. 13:9,10].   

3.    AS TRÊS DIMENSÕES DA MORTE

3.1    Morte Física: Diz respeito à separação da alma-espírito do corpo, quando o organismo do indivíduo entra em falência generalizada [Jó 34:14,15]. O corpo vai para a sepultura, onde será decomposto [Gn. 3:19; Sl. 146:4; Ec. 3:20] ficando num estado de inatividade [Ec. 9:10]  e a alma-espírito, que compõe a parte imorredoura, indissociável e invisível é introduzido no “mundo dos mortos” e fica no domínio de Deus [Ec. 12:7; Lc. 16:22,23]. Todos os homens estão sujeitos à morte física, embora alguns, como Enoque e Elias não passaram por ela [Hb.11:5; 2 Rs. 2:11]. Até Jesus, como homem, experimentou a dor da morte [Cf. Rm. 5:6; Hb. 2:9], porém, ao morrer “aniquilou o que tinha império da morte, isto é, o diabo” [Hb. 2:14].
3.2    Morte Espiritual: Refere-se ao estado de separação espiritual do homem para com de Deus, como consequência do pecado. [cf. Ef. 2:1,5]. É o tipo de morte que o homem experimenta mesmo em vida. [Lc. 9:60] A morte espiritual se aplica tanto a quem não nasceu de novo ou a quem, mesmo depois de salvo, passou a viver sob o domínio do pecado. [Ap. 3:1; 1 Tm. 5:6; Tg. 1:15]. Só a graça de Cristo efetua a “ressureição espiritual”, seja pela regeneração do pecador [Rm. 8:2] ou pela restauração da comunhão de uma pessoa já crente [Tg. 5:20].
3.3    Morte Eterna: Também chamada de segunda morte [Ap. 2:11; 21:8] ou morte escatológica, a morte eterna é a separação permanente do homem para com Deus. É o destino final de todos aqueles que não aceitaram a Jesus, após passarem pela declaração condenatória do Juízo Final, quando no Lago de Fogo estarão no castigo e tormento eternos.  [Ap. 20:14,15]. Não há como “ressuscitar” da morte eterna. Quem passar para a eternidade sem Cristo, mesmo que tenha uma existência consciente, esse é um estado de morte e, nunca de vida eterna, pois esta é um privilégio único e exclusivo concedido aos que foram salvos por meio de Cristo. [Ap. 20:6; 1 Jo. 5:11].    

CONCLUSÃO

Para o crente a Doutrina da Morte não causa pavor nem desenganos, pois, a Bíblia diz que para Deus a morte dos seus santos é preciosa [Sl. 116:15] e que aqueles que morrem no Senhor são bem-aventurados [Ap. 14:13]. Essas afirmações se concentram na certeza da ressurreição e da eternidade ao lado do Senhor [Fp. 4:13-16]. Era esta certeza que levava o apóstolo Paulo a não temer a morte, ao contrário, tinha desejo de partir [não o desejo desiludido da vida], mas, o anseio de transpor os umbrais da morte e está com Cristo. [Fp. 1:23], pois só pra o salvo o “viver é Cristo e o morrer é ganho” [v.21].   


[1] Conf. Dicionário de Religiões, Crenças e Ocultismo, George A. Mather.

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