domingo, 12 de janeiro de 2020

O ESTADO INTERMEDIÁRIO E O MUNDO DOS MORTOS
TEXTO: Lucas 16:19-31

INTRODUÇÃO
Para nós, que acreditamos na Palavra de Deus, não somente temos consciência da realidade da morte, como aceitamos o ensino da imortalidade da alma, ou seja, temos convicção de que o homem possui uma constituição que transcende à morte física e que o corpo aguardará o dia da ressurreição.
Se nós admitimos haver ressurreição do corpo e que a alma não morre, logo temos que admitir outra realidade, a de que os mortos existem em algum lugar em situação de consciência ativa. Essa é a Doutrina escatológica do Estado Intermediário e do Mundo dos Mortos, como veremos neste estudo.
Não basta apenas aceitar essa doutrina Bíblia, mas, preparar-se contra as heresias que surgem concernentes a esses assuntos, a fim de receber a consolação pela certeza de que a vida não termina na sepultura. Foi esse o motivo de Paulo combater a ignorância dos tessalônicos e concluir seu argumento dizendo: “consolai-vos uns aos outros com estas palavras” [I Ts. 4: 13,14,18].

1.    O ESTADO E O MUNDO DOS  MORTOS

1.1 O Que é o Estado Intermediário. Estado Intermediário é o conceito teológico da existência humana entre a morte física e a ressurreição. Nesse estágio, o corpo permanece inativo na sepultura e a alma-espírito existe em condição de plena consciência, tanto em relação às lembranças do mundo físico [Lc. 16:25,27,28], como a manifestação de sentimentos [Ap. 6:9-11] e  à convicção do destino esterno [Lc.16:28].
1.2 A Realidade do Lugar do Morto: Se é real a existência humana após a morte, é certo dizer, também, que existe um lugar para onde os mortos vão após a saída da “terra viventes”. Vejamos:
a. O Que é o Lugar dos Mortos: No AT o termo hebraico She’ol e no NT o termo grego Hades.  Significa, com as devidas exceções, “o lugar das almas desencarnadas onde os mortos ficam até a ressurreição de seus corpos”. É claro que se tratando de coisas espirituais, não se pode pensar num lugar com estruturas físicas, no entanto, se a alma é uma coisa real o Lugar dos Mortos também o é.
b. Onde Fica o Lugar dos Mortos: Os teólogos concordam, majoritariamente , que She’ol/Hades está situado nas profundezas da terra [Cf.  Ef. 4:8-10; Cp. Nm 16.30,33; Am. 9.2]. Concordam com isso várias expressões alusivas ao assunto, mostrando aquele que morre “descendo”. [Cp. Gn. 37:35; Sl. 30:3; 86:13; 139:8; Ez. 31:15,17; Am. 9:12, etc].
1.3 O Equívoco Doutrinário sobre o Lugar dos Mortos: Devido à imperfeição de algumas traduções das Escrituras e imaturidade doutrinária de alguns, muitas controvérsias têm surgido em relação ao Lugar dos Mortos. Vejamos os principais equívocos:
a. She’ol - Hades x Sepultura: O problema se dá, principalmente no AT, por conta de palavras polissêmicas [aquelas com vários significados] como as palavras portuguesas  manga e vela, por exemplo. O termo She’ol aparece mais de 70 vezes tendo mais de um significado; diversas vezes é traduzido como sepultura: ora acertadamente, por força da polissemia hebraica, [Sl. 6:5; Cf. 115:17; Ec. 9:10; Is. 38:17,18 ], ora, equivocadamente por descuido dos tradutores [Pv. 7:27]. Certo é que o estudante bem esclarecido entenderá nitidamente os textos onde She’ol, jamais pode se referir à sepultura, pois na nesta não existe nenhuma tipo de existência e ação dinâmica como alguns textos demonstram [Cf. Is. 14:9; Sl. 55:15; Am. 9:2]. Além do mais, o she’ol é visto como um lugar onde os ímpios são atormentados [Sl. 9:17; Hc. 2:5 Ez. 32:17-32]. No NT o conflito se dissipa porque os escritores diferenciam sepultura [gr. mnomeion] do Lugar dos Mortos [gr. Hades] e, quando citam passagens do AT onde she’ol se refere ao Lugar dos Mortos, sempre usavam a palavra correlata Hades e não mnomeion. [Cp. Sl. 16:10; At. 2:27 ]. A ideia neotestamentárias da vida pós-túmulo sempre aponta para uma existência consciente, por isso Paulo desejava “partir para está com o Senhor” [Fp. 1:23; 2 Co. 5:8; cp. Lc. 23:43].
b. Hades x Purgatório: O catolicismo ensina que as almas daqueles que morrem em estado de graça, mas não estão totalmente limpos, passam por um processo de purificação ou castigo temporário como uma forma de preparação para entrarem no Céu. A ideia, que se baseia na interpretação particular de 1 Coríntios 3:12-15, foi introduzida por Agostinho no Séc. IV, mas a palavra só foi usada no Séc. XII, e se tornar dogma no Concílio de Trento [1545-63.  Esse ensino além de trazer controvérsias escatológicas, anula a eficácia do sacrifício de Cristo, como única provisão divina para a salvação [Ef. 2:8,9; Tt. 3:8].
c. She’ol - Hades x Inferno  - Outro equívoco, presente no AT e NT é a tradução dos termos she’ol e Hades para inferno. O Hades e o Inferno são dois lugares diferentes, mas às vezes são confundidos. Vejamos alguns exemplos:
·   “Mas não sabem que ali estão os mortos, que os seus convidados estão nas profundezas do inferno [she’ol]” [Pv. 9:18] É uma tradução equivocada porque no Inferno final, ainda não existe ninguém lá. O mesmo pode-se dizer de Lucas 16:23. O rico estava no Hades e não no Inferno propriamente dito.
·   “... e tenho as chaves da morte e do inferno [Hades]” [Ap. 1:18]. Não se refere às chaves da “casa do Diabo” como dizem alguns avivalistas, trata-se do domínio de Cristo sobre o Hades. As almas não têm autonomia para entrar ou sair de lá [cf. Lc. 16:26; 2 Sm. 12:23] todos estão sob o domínio de Cristo.
·  “E olhei, e eis um cavalo amarelo; e o que estava assentado sobre ele tinha por nome Morte; e o Inferno [Hades] o seguia...”[Ap. 6:]. Fala da matança desenfreada na Grande tribulação, de modo que aparece o instrumento de destruição - a Morte e Lugar para onde os mortos serão introduzidos - o Hades.
·   Há muitas outras traduções equivocados, porém, nenhum é mais confusa do que Apocalipse 20:14 que diz: “E a morte e o inferno foram lançados no lago de fogo” [grifo nosso]. A palavra traduzida por inferno se refere ao Hades e a expressão “Lago de Fogo”, essa sim, refere-se ao Inferno propriamente dito, lugar sofrimento eterno. [vide 3.3].
·  OBS: Embora haja os equívocos, algumas vezes, em que a palavra Inferno aparece nas traduções de português se referem, de fato, ao Lugar de tormento eterno, mas o termo original não é Hades. Ex. Mateus 5:29, 10:28 e 23:33 [Inferno = gr. geena] e em 2 Pe. 2:4 [Inferno = gr. tártaro] O problema é que a palavra inferno é de origem latina inferus = “lugares baixos” que se transformou em Infernus, e que os tradutores usaram para substituir as palavras gregas Hades, Geena e Tártaro e por vezes, produz grande confusão. 

2.        O LUGAR DOS MORTOS ANTES DA RESSURREIÇÃO DE CRISTO

2.1 Um único Lugar, Três Compartimentos: Não é unanimidade entre os teólogos a ideia de que, antes da morte e ressurreição de Jesus, o She’ol fosse um único lugar para onde iam todos os mortos, porém, esse pensamento sobressai no meio evangélico. Para alguns, mesmo no AT, os ímpios “desciam” e os justos “subiam” após a morte. [Cp. Lc. 16:23].   Nessa interpretação, o she’ol é o lugar para onde vão as almas dos ímpios e as “nações que se esquecem de Deus” e não dos fiéis [cf. Sl. 9:17; 55:15]; os justos, porém, “serão recebidos em glória” [Sl. 73:24]. Porém, parece mais razoável, entre os pentecostais a ideia de um Lugar dos Mortos para todos [Gn. 37:35; Is. 38:10; Dt. 32:22 NVI], um Lugar nas profundezas da Terra,  tendo um compartimento para os justos, chamado Seio de Abraão e um Lugar de Sofrimento para os Ímpios, sendo separados por um grande abismo, conforme o texto de Lucas 16:19-31.
2.2 O Seio de Abraão: o Paraíso dos Justos: O texto supracitado diz que Lázaro “morreu e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão” [v.22]. A expressão “foi levado”, chama-nos atenção para o fato de que a Bíblia diz que os justos são recolhidos, oferecendo-nos a ideia de um estágio melhor [cf.  2 Cr 34:28,  Nm. 20:24,26; 2 Rs. 22:20]. O epíteto Seio de Abraão [paraíso] se refere a uma das três expressões usadas pelos judeus para se referir ao estado de futuro de bem-aventurança. As outras duas eram Jardim do Éden e Trono da Glória. A teologia judaica incluía o “Seio de Abraão” como parte de descanso e consolo do She’ol, onde ficavam as almas dos justos, gozando as bênçãos de forma provisória e incompleta, pois o melhor ainda está por vir com a glorificação do corpo no dia do arrebatamento da Igreja.
2.3 O Lugar de Tormento: O texto lucano diz que o rico também morreu e foi sepultado. [v.23]. Não se faz menção de uma busca angelical, aliás, a Bíblia diz que os ímpios são ceifados [cp. Sl 37:2; Ap. 14:19]. Jesus acrescenta a informação “no Hades, [o rico] ergueu os olhos, estando em tormentos...” [v.22 ARC 2009]. Isso mostra que, esse compartimento, em contraste com o Seio de Abraão, já é sombrio, doloroso, e abrasador, mesmo que de forma provisória, pois rico chega a dizer que estava atormentado. [v.24]. Não tem como escapar. Só Deus, pela Sua onipresença, tem acesso direto ao Lugar dos mortos [Sl. 139:8], pois, “o She’ol está nu perante Ele” [Jó 26:6; Pv.15:11]. No Hades os incrédulos estão sob a égide de Deus, reservados para o castigo eterno. [2 Pe. 2:4,9].
2.4 O Abismo Divisório: As Cadeias da Escuridão: É dito no texto em apreço que Abraão respondeu ao rico: ... além disso, está posto um grande abismo entre nós e vós...”. [v.26, grifo nosso] O terceiro compartimento, que, aliás, dividia o Seio de Abrão do Lugar de Tormento é chamado de “grande abismo”.  Estudiosos da bíblica afirmam que se trata “das cadeias da escuridão”, onde estão presos um grupo de demônios, reservados para o dia do julgamento dos anjos caídos [2 Pe. 2:4; 1 Co. 6:3].  Pedro afirma que Deus os lançou no Inferno [gr. Tártaro = o mais profundo do abismo], como punição temporária de um pré-julgamento, até o dia da penalidade definitiva, ideia confirmada por Judas em sua epístola [Jd. 6]. Acredita-se que estes demônios serão soltos, provisoriamente, como uma forma de castigo aos que experimentarão a Grande Tribulação, quando o poço do abismo será aberto [cf. Ap. 9:1-5].

3.    O LUGAR DOS MORTOS APÓS A RESSURREIÇÃO DE JESUS

2.1 A Transferência do Paraíso: Uma das mais belas promessas de Cristo à Igreja é a de que “as portas do inferno [Hades] não prevalecerão contra ela”. Essa promessa se torna bem mais robusta diante das passagens de Efésios 4:8-10 e Ap. 1:18 que abordam a abrangência da obra redentora de Cristo, trazendo benefícios até aos que já dormiam na fé.
a. A Ida de Jesus ao Hades:  É certo dizer, que com a encarnação, Jesus assumiu todas as condições humanas, tanto no estágio da vida como na morte [Hb. 2:14]. Logo, como todos os mortais, seu corpo foi sepultado e sua alma foi ao Hades. Ele disse ao ladrão crédulo: “... hoje estarás comigo no Paraíso” [Lc. 23:43]. Ele não usou a palavra Hades, e sim Paradeisos, pois, certamente o ladrão conhecia a doutrina do descanso no “Seio de Abrão”. Ao morrerem, ambos foram ao Mundo dos Mortos. Assim, Aquele que subiria “acima de todos os céus” [Ef. 4:10] descia às “profundezas da Terra” [v.9] para encerrar seu estágio de humilhação e celebrar o seu triunfo sobre a morte [Ap.1:18]. Pois, a profecia previa que nem seu corpo sofreria a destruição, nem sua alma permaneceria no Hades [At. 16:10]. A expressão “fui morto, mas eis aqui estou vivo para todo o sempre” [Ap.1:18] caracteriza-se como o grito da vitória. [cp. Mt. 28:18].
b. A Mudança do Paraíso: Paulo anuncia o argumento sobre o triunfo de Cristo citando a poesia profética do Salmo 68:18, ao dizer “subindo ao alto, levou cativo o cativeiro e deu dons aos homens” [cf. Ef. 4:8]. É entendido desta afirmação que com a ressurreição, Jesus inicia o sentido inverso de sua encarnação: sua exaltação triunfante. Ao ascender aos céus, transferiu as almas dos justos para cima [um estágio de antegozo], como havia prometido [Lc. 16:22], e, a partir de então o Paraíso foi mudado para o terceiro céu [ Cf. 2 Co 12:1-4].  João viu as almas dos mártires da Grande Tribulação, debaixo do altar, no céu [ Ap. 6:9]. 
3.2 A Nova Configuração do Lugar dos Mortos: A concepção teológica como acima citado, mostra que depois da morte de Cristo, mas precisamente depois de Sua ressurreição e ascensão o Lugar dos Mortos passou a ter uma nova estrutura: os ímpios continuam descendo ao Hades, numa espécie de prisão preventiva onde aguardam o Juízo Final e os justos, tem seus corpos à semelhança dos ímpios sepultados, mas, suas almas sobem para o descanso provisório no Paraíso. É justificada  a aspiração do apóstolo dos gentios  “mas temos confiança e desejamos antes deixar este corpo, para habitar com o Senhor[ 2 Co. 5:8, grifo nosso].

3.3 O Fim do Lugar dos Mortos: A Bíblia diz que Jesus se manifestou para desfazer as obras do Diabo. [1 Jo. 3:8]. A Morte é o salário do pecado e Hades passou a existir como  parte desta maldição. Quando todo império do mal for desfeito, a Morte será vencida, definitivamente [1 Co. 15:26]. Então, tanto a Morte como o Hades serão lançados no Lago de Fogo, onde estarão, também, todos os não salvos [Ap. 20:14,15]. Isso determinará no sentido completo da palavra “a morte da própria morte”, então, começará o Dia da Eternidade.  

CONCLUSÃO

A expressão de que “nenhuma condenação há para quem está em Cristo” é uma garantia consoladora para nós, que sempre desfrutaremos dos benefícios da salvação. Partiremos desta terra para um estado antecipatório das dádivas e celestes no paraíso e depois da ressurreição viveremos a plenitude da obra redentora de Cristo em um estágio de vida inimaginável. Permaneçamos firmes, com a graça de 

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