terça-feira, 14 de janeiro de 2020


AS SETENTA SEMANAS PROFÉTICAS
TEXTO BASE: Daniel 9:20-27

INTRODUÇÃO
O capítulo 9 de Daniel é um dos mais importantes do seu livro, seja do ponto de vista histórico, profético ou escatológico. O profeta entendeu pelos livros, que os anos do cativeiro se findavam, então decidiu buscar a Deus em oração, o que resultou na exposição misteriosa das Setenta Semanas Proféticas.
Estudar sobre fim dos tempos, excluindo as Setenta Semanas de Daniel, é deixar uma lacuna imensa no estudo da escatologia, sobretudo, no olhar à Nação de Israel como relógio profético de Deus. Por isso, faz-se necessário incluí-la no bojo de estudos dos últimos dias. 
Neste estudo analisaremos o significado, os propósitos e o cumprimento das Setenta Semanas, mesmo sabendo que sessenta e nove delas já tenham se cumprido. A última a se cumprir, representa os dias mais importantes de toda História, um divisor de águas entre duas Eras significativas: A Dispensação da Igreja e o Reino Messiânico. 

1. O SIGNIFICADO E OS PROPÓSITOS DAS SETENTA SEMANAS PROFÉTICAS

1.1 Considerações Gerais: Depois da descoberta de que os dias do cativeiro eram de setenta anos e que estes já estavam no fim [Cp. Dn. 9:2; Jr. 25:11,12], Daniel se dispôs a orar a Deus pelo regresso do seu povo [vv.3-19], quando teve como resposta imediata a revelação das Setenta Semanas proféticas. [vv. 24-27]. Fazem-se necessárias algumas considerações, antes de analisarmos os objetivos e cumprimento da profecia. Vejamos:
a) Setenta Semanas de Anos: A palavra hebraica usada por Daniel para Semana é shavua, que significa literalmente “um sete”, tanto se refere a uma semana de dias [sete dias], [Gn. 29:28] ou uma semana de anos [sete anos], como as semanas do jubileu [cf. Lv. 25:8]. Logo, as Setentas Semanas somam-se setenta vezes sete anos, a saber, 490 anos. 
b) A Relação: As Setenta Semanas de anos estão relacionadas a Israel e não à Igreja.  O v. 24 deixa claro que ela abarcaria o povo (Israel) e a santa cidade (Jerusalém).
c) Os Propósitos: O v.24 afirma que as Setentas Semanas estão “determinadas”, ou seja, estabelecido como ordem, decidido etc. O mesmo texto mostra que elas teriam um propósito definindo. As traduções portuguesas usam a preposição “para”, indicando a intenção e os objetivos das Semanas Proféticas, que apontam para a sêxtupla ação do Messias antes da instauração do seu Reino na Terra, como ápice da profecia.  
1º. “Extinguir a transgressão
2º. “Dar fim aos pecados
3º.  Expiar a iniquidade
Observação: Os primeiros três objetivos se referem à extensão do sacrifício expiatório de Cristo ao povo de Israel, ou seja, sua restauração espiritual, quando o pecado do povo será erradicado. Isso só ocorrerá no final da Última Semana [Zc. 12:10; Rm. 11:26]. 
4º. “Trazer a justiça eterna”: Refere-se à implantação de um governo de Justiça Eterna que terá inicio logo que a 70ª Semana se encerrar, com a entrada do Milênio [Is. 32:1; Jr. 31:31-34]. Nesse tempo o “mistério da injustiça” será banido definitivamente [2 Ts. 2:7]. 
5º. “Selar a visão e a profecia”. Ou seja, o cumprimento pleno das profecias relacionadas ao povo santo. [At. 3:1-21]. Aponta para o Milênio, quando a terra se encherá do conhecimento do Senhor. [Is. 11:9]
6º. “Ungir os Santo dos Santos”. Alguns interpretam como a proclamação de Jesus como Rei, outros preferem a interpretação de que se trata da purificação do templo e da cidade de Jerusalém, profanados pelo Desolador, o Anticristo [2 Ts. 2:4], visto que o “santo dos santos” nunca se refere a pessoas. Essa interpretação é mais razoável.  
1.2 As Três Seções das Setenta Semanas: A exposição angelical demonstra que as Semanas proféticas estariam divididas em três sessões propositais, a saber: Sete Semanas, correspondente a 49 anos; Sessenta e Duas Semanas, equivalentes a 434 anos, e, Uma Semana, ou seja, 7 anos. Cada uma destas Seções traz consigo algumas particularidades, envolvendo o Povo e a Cidade Santa, como postos no 1º e 2º tópicos.  
1.3 Um Intervalo de Tempo: Sessenta e Nove Semanas Proféticas já se cumpriram, restando apenas a Última.  Entre a 69ª e 70ª Semana, no entanto, existe um intervalo de tempo que já ultrapassa 2.000 anos; um hiato na História, providencialmente estabelecido, com objetivos bem delineados como veremos adiante.
2. AS SETE SEMANAS E AS SESSENTA E DUAS SEMANAS PROFÉTICAS

2.1 As Sete Semanas: O primeiro bloco de Sete Semanas ou 49 anos está associado ao início da restauração do povo, com o retorno do exílio para se e reedificar o Templo e restaurar Jerusalém. A explicação de Gabriel aponta para início da contagem das Semanas: “Desde a saída da ordem para restaurar e edificar Jerusalém... sete semanas...” [v.25]. Muitos estudiosos das Escrituras estão de acordo que a profecia aponta para o decreto baixado por Artaxerxes Longímano em 445 a.C. [cf. Ne 2]. As muitas oposições encontradas no contexto da edificação do templo, dos muros e da cidade, narradas por Neemias e Esdras e pela História judaica, encaixam-se perfeitamente na profecia de Daniel: “as ruas e as tranqueiras se reedificarão, mas em tempos angustiosos.” [v.25]. As Sete Semanas se encerrariam, então, em 396 a.C.
2.2 As Sessenta e Duas Semanas: A segunda seção de Semanas, correspondente a 434 anos, inicia-se, logo após o primeiro bloco, Nota-se que a profecia diz: “... desde a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém, até ao Messias SETE SEMANAS e SESSENTA E DUAS SEMANAS...” [v.25, grifo nosso]. As 69 semanas [7+62] somam 483 anos, o que somando 445 a.C., o ano do início da contagem,  aos 483 anos das 69 Semanas, levaria  o final  para o ano 33 d.C. No entanto, como o calendário de Dionysio tem um erro de cerca de 4 anos, isso retroage ao ano 29 d.C., o que, historicamente, remota ao ano da morte de Jesus. Muitos estudiosos concordam que a 69ª se cumpriu na entrada triunfal de Cristo em Jerusalém. [ ]. Neste particular, a Seção de 62 Semanas abrange os anos finais do Império Medo-persa, [331 a.C.] de todo o Império Grego [331 a.C. a 168 a.C.] e os primeiros duzentos anos do Império Romano, no qual se deu o primeiro advento do Messias.    
2.3 O Final das Sessentas e Nove Semanas: Dois eventos marcantes testemunhariam o final da 69ª [7+62] conforme o v.26 da profecia de Daniel: “depois das sessentas e duas semanas...”
a) “... será tirado o Messias e não será mais”: O primeiro Príncipe, a saber, o Messias, seria tirado. A profecia aponta para a crucificação de Cristo no fim da 69ª Semana, conforme a predição de Isaías [Is. 53:8]. 
b) “... e o povo do príncipe, que há de vir, destruirá a cidade e o santuário: A profecia fala de um segundo príncipe - o Anticristo. No entanto, está dito que “o povo do príncipe” destruiria a cidade. Isso se refere à destruição de Jerusalém e do Templo pelas legiões romanas no ano 70 d.C. [Cp. Mt. 24:2; Lc. 21:20,24].
c) “... o povo do príncipe, que há de vir...” observe que a profecia fala do “príncipe” como aquele que haveria de vir, fazendo-nos entender que a ação do “povo do príncipe” e a do “príncipe”, propriamente dito, ocorreria em ocasiões distintas: a primeira [destruição da cidade e do templo] se cumpriu logo após o final da 69ª, ainda na Era Apostólica e, a segunda [a profanação do templo] será futurista, ou seja, ocorrerá na Última Semana Profética [cp. 2 Ts. 2:4].  

3. A ÚLTIMA SEMANA PROFÉTICA

3.1 O Intervalo: Sabe-se que já se cumpriram 69 Semanas, sendo assim só resta uma. Portanto, a terceira seção [uma semana] não se intercala à segunda [sessenta e duas semanas] como esta à primeira [sete semanas]. Há uma pausa no relógio profético, um Hiato ou Intervalo entre a Penúltima e Última Semana, que vai do Primeiro ao segundo Advento de Cristo, chamado de Dispensação da Igreja, quando se desvenda o mistério de Cristo [Ef 5:32].  Esse Hiato se dá dentro do “Tempo dos Gentios, que muitos exegetas entendem como o período em que Jerusalém estaria sob o domínio dos gentios, iniciado com o cativeiro babilônico até ao Final dos Tempos, expresso no sonho da Estátua [Dn. 2:31-36] e entendido nas palavras de Jesus: “... e Jerusalém será pisada pelos gentios, até que os tempos dos gentios se completem [Lc 21.24 ACF]. Logo, parece prudente afirmar que o Intervalo entre a 69ª e 70ª Semana  é  o tempo que Deus, na sua infinita graça, concedeu aos gentios a oportunidade de desfrutar da bênção de Abraão [Gl. 3:14], por isso Paulo o chama de  plenitude do tempo dos gentios” [Rm. 11:25, grifo nosso]. 
3.2 Os Últimos Sete Anos Proféticos: A Última Semana Profética terá Início com o Arrebatamento da Igreja e se findará com a Vinda de Jesus em Glória, um período de sete anos que, na Terra acontecerá a Grande Tribulação. Temas analisados nas próximas Aulas. As ocorrências neste tempo terá como figura central o “príncipe que há de vir”, que conforme o v. 27 isso terá três momentos diferentes:
a) O Acordo no Início da Semana: No início do seu governo, o Anticristo fará um acordo [uma espécie de tratado de paz], com muitos, por Sete Anos [uma semana]. Período em que será aclamado como o Messias por Israel e ganhará a aceitação do Mundo todo [Jo. 5:43].  É desse período que João fala dele como o cavaleiro do cavalo branco que “cavalgava como vencedor determinado a vencer”. [Ap. 6:2 NVI].
b) O Rompimento do Pacto na Metade da Semana: Passados três anos e meio [a metade da semana], o Anticristo dará evidências de que é um impostor. Ocorrerá o sacrilégio ou a profanação do templo, quando o príncipe mudará as leis de culto, atitude que Gabriel descreve como: “... nas asas da abominação virá o desolador.” [v.27]. Neste tempo o Anticristo reivindicará para si as prerrogativas do próprio Deus [2 Ts. 2:4] e, certamente, Israel se desvinculará da aliança [cp. Ap. 12:1,2]. Indignado, o Anticristo começará uma perseguição sem medida ao povo Santo. Instalar-se-á então, a “Angústia de Jacó”. [Jr. 30:7], o pior de todos os sofrimentos que Israel já viveu durante sua história [Cp. Dn. 12:1].
c) A Derrota no Final da Semana: A profecia prevê que “... o que está determinado será derramado sobre o assolador”. Sua ação sanguinária e diabólica só durará três anos e meio [a segunda metade da semana profética]. Seu governo, que está prefigurado nos dedos de ferro misturado com barro, do sonho de Nabucodonosor, será destruído com a Revelação Pessoal de Jesus Cristo [2 Ts. 2:8], a “pedra jogada sem mão” de Daniel 2:34. – Findar-se-á o Tempo dos Gentios, e os todos os reinos do mundo serão do Senhor Jesus [Ap. 11:15; Dn. 2:44;7:13,14
3.3 A Metade da Semana: Vimos que uma Semana Profética corresponde a sete anos, logo a “Metade da Semana” corresponde a três anos e meio. A segunda metade da Semana se define como os piores dias de todos os tempos, nos quais a Nação de Israel passará pelo batismo de fogo [Zc. 13:9]. Se aquele período fosse mais longo, ninguém conseguiria suportar [Mt. 24:22.]. Esses três anos e meio, ou “metade da Semana”, aparecem com outras nomenclaturas na profecia bíblica, a saber: “tempo, tempos e metade de um tempo” [Dn.7 :25; Ap. 12:14 ]; mil duzentos e sessenta dias [Ap.11:3;12:6] e quarenta e dois meses [Ap. 11: 2; 13:5]. Referências a Grande Tribulação, propriamente dita.


CONCLUSÃO

As Setenta Semanas Proféticas é a demonstração dos cuidados de Deus pela Nação e Povo Santo, que apesar de viverem nas mãos dos gentios, por centenas de anos, serão resgatados no Fim dos Tempos: Jerusalém será a Nação Mundial de onde sairá a Lei do Senhor e Israel será restaurado, nacional e espiritualmente, para sempre. Esta nobilíssima Profecia, é ainda, a prova de que todos os domínios e poderes debaixo dos Céus são impotentes e efêmeros e, finalmente, que o amor e poder de Deus sempre triunfarão.  

domingo, 12 de janeiro de 2020

A RESSURREIÇÃO DOS MORTOS
TEXTO BASE: 1 Coríntios 15: 20-23,50-56

INTRODUÇÃO

A Doutrina da Ressurreição é um das mais importantes Ensinos da Fé Cristã. Ela é o grande lenitivo do Cristianismo porque é garantia de que a vida não se encerra na sepultura; ela determina o triunfo sobre a morte, quando o corpo do salvo emergirá do pó para a conquista da imortalidade e da incorrupção ao ser glorificado.  
A palavra ressurreição vem do termo grego Anastasis que significa levantar, subir, tornar a viver, levantar-se dentre os mortos. Embora haja outros termos gregos traduzidos por ressurreição, Anastasis é o que aparece nas referências escatológicas para se referir a Ressurreição Universal e Corpórea.
Neste estudo nosso foco é mostrar a Fundamentação Bíblica sobre o Retorno à Vida e abordar os detalhes da Ressurreição dos Justos e dos Ímpios e, por conseguinte, apresentar a natureza do corpo ressurreto.

1.    FUNDAMENTAÇÃO BÍBLICA DA RESSURREIÇÃO DOS MORTOS

1.1 A Realidade da Ressurreição dos Mortos: Mesmo havendo a negação e muitas heresias acerca do retorno à vida, a Ressurreição dos Mortos é uma realidade incontestável. No AT, essa doutrina não era tão definida, embora sua crença fosse visível. No NT, portanto, a Doutrina da Ressurreição faz parte da centralidade doutrinária da fé Cristã e é descrita com muitos detalhes.
a) O Ensino da Ressurreição no AT: Ainda que a concepção acerca da Ressurreição não fosse tão detalhada, percebe-se que os irmãos neotestamentárias possuíam uma esperança da vida pós-morte. O escritor aos hebreus afirma que Abraão “... cria que Deus era poderoso para ressuscitar Isaque dentre os mortos...” [cp. Hb. 11: 18; Gn. 22:5]. Ainda na era patriarcal, quando nada da Bíblia tinha sido escrito, os servos de Deus criam na ressurreição dos mortos, pois foi Jesus que deu as evidências desse pensamento. [Mt. 22:31,32]. A primeira menção direta da Ressurreição se encontra no cântico de Ana: “O Senhor... faz descer à sepultura e faz subir dela” [1 Sm. 2:6 ACF]. A Ressurreição, também é falada nos escritos poéticos [Jó 19:23-27; Sl. 49:15] e bem mais claramente, nos livros proféticos [cf. Is. 26:19;Ez.3:11,12; Dn. 12:2; Os. 6:2;13:14], sendo as profecias de Daniel e Oseias as mais famosas. Paulo cita Oseias no seu ensino sobre o tema [ Cp. 1 Co. 15: 54:55; Os. 13:14].
b) A Doutrina da Ressurreição no NT: Nos tempos de Cristo e dos apóstolos existiam algumas heresias relacionadas à Ressurreição: A Doutrina dos Saduceus que negavam a realidade da Ressurreição [Mc. 12:18-23; At. 23:8];  A influência de uma doutrina pagã [filosofia gnóstica] presente em Corinto, de que o corpo [matéria irremediavelmente má] era extinto com a morte física, logo a ressurreição corporal não seria possível ou necessária [cf. 1 Co. 11:12], e ainda, os ensinos heréticos dos apóstatas Himeneu e Fileto os quais desviaram alguns da fé. Sua doutrina dizia que a Ressurreição não era uma esperança futura, e sim, já ocorrida num nível espiritual, [cf. 2Tm. 2.16-18]. No entanto, a Ressurreição Corporal e Escatológica é uma realidade comprovada nos ensinos de Cristo Evangelhos [Jo. 5:25,28,29; Lc. 14:14]; em Atos, na pregação de Pedro e João [4:2] e na defesa de Paulo diante de Félix [24:15]; nas epístolas, principalmente na doutrina paulina [1 Co 15:12-55; Rm. 6:5; Fp. 3:11; 1 Ts. 4:16; cp. Hb. 11:35] e no Apocalipse [20:4-6].  O Capítulo 15 de 1 Coríntios é o texto mais completo sobre o assuntos, seja do ponto de vista apologético, seja da consistência doutrinária da Igreja ou do conforto devocional.  
1.2 Tipos de Ressurreição: O Ensino da Ressurreição nas Escrituras pode ser dividido em quatro tipos: Simbólica, Espiritual, Física Temporária e Física Absoluta.
a) A Ressurreição Simbólica: Diz respeito à Ressurreição Nacional referente à Israel. O povo, em consequência de seus pecados foi espalhado pelo mundo e “morreu” como Nação [Ez. 36:17-19].  Portanto, a promessa divina era que Israel seria reunido e ressuscitado, do ponto de vista social, político e espiritual [Dt. 4:27,28; Ez. 36:24; 37:13,14; Jr. 24:6,7; Am. 9:14,15]. Nacionalmente, a restauração ocorreu em 1948 e espiritualmente se dará no final da Grande Tribulação com a vinda de Jesus em glória [Zc. 12:10]. Ficar atento a Israel é crucial, porque essa Nação é considerada o Relógio de Deus no cenário profético [Lc. 21:29-31].
b) A Ressurreição Espiritual: Teologicamente falando, todos o seres humanos morreram em Adão [1 Co 15:22]. Ao aceitar a Cristo como Salvador, o Espírito Santo opera a Regeneração [Tt. 3:5 ] e através deste ato Deus nos ressuscitou em Cristo [Ef. 2:1,5; Cl. 2:12,13]. Essa ressurreição é espiritual, pois Paulo disse: “E nos ressuscitou juntamente com ele, e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus” [Ef. 2:6]. Todavia, nada tem a ver com a ressurreição espiritual dos hereges, que negam a realidade de uma ressureição corporal, apenas diz respeito à mudança do estado de morte pelo pecado de Adão para uma posição de vida, pela justiça de Cristo. [Jo 5:24]. É interessante estudar esse tema porque só quem “ressuscitou com Cristo”, no âmbito espiritual, fará parte da Primeira Ressurreição concernente ao corpo.
c) A Ressurreição Física Temporária: Chama-se de Ressurreição Temporária ou Parcial àquela em que a pessoa volta à vida com limitações quanto ao tempo [morrerá novamente] e quanto à natureza, ou seja, o corpo continua sujeito às debilidades e à corrupção.  Na Bíblia Sagrada encontramos oito casos de ressurreição temporária, a saber: O filho da viúva de Sarepta [1 Rs 17.17-24]; o filho da  sunamita [2 Rs 4.32-37]; o homem que encostou nos ossos de Eliseu [2 Rs 13.20-21; o filho da viúva de Naim [Lc 7.11-15]; a filha do Jairo [Lc 8.41-42; 49-55]; Lázaro [Jo 11.1-44]; Tabita [At 9.36-43] e o jovem Êutico [At (20.9-10].
d) A Ressurreição Física Absoluta: A Ressurreição Absoluta é universal, corporal e escatológica; é àquela em que diz respeito a uma nova ordem de existência humana e está dividida em duas Partes: A Primeira Ressurreição, referente aos justos, dividida em três momentos, simbolizada na colheita dos judeus, a saber, as primícias [Êx. 23:16], a cega geral [Lv.19:9] e o rabisco [Êx. 34:22] e, a Última Ressurreição, atribuída aos injustos, que ocorrerá depois do Milênio. Vide Pontos 2 e 3.

2.    A PRIMEIRA RESSURREIÇÃO
2.1 A Ressurreição dos Justos: Está escrito que “bem-aventurado e santo aquele que tem parte na primeira ressurreição...” [Ap. 20:6]. Só os salvos, de todos os tempos farão parte dela, e isso em três momentos distintos, assim como aconteciam nas colheitas dos tempos bíblicos. A Primeira Ressurreição é chamada de “Ressurreição dos Justos” [At. 24:15],  “Ressurreição da vida” [Jo 5:28], “Melhor Ressurreição” [Hb. 11:35] e “Ressurreição DENTRE os mortos”   [Rm:6:9; At. 4:2], onde os corpos dos santos sairão dos sepulcros “para a vida eterna” [Dn. 12:2] e para uma recompensa venturosa [Lc. 14:14].
2.2 Cristo: As Primícias dos que Dormem: Na semeadura dos judeus, antes de se fazer a colheita geral dos frutos, colhia-se uma porção do que havia de melhor. Essa primeira porção era chamada de primícias [Êx.23:16 ] as quais se apresentavam a Deus na Festa das Primícias ou Pentecostes. [Lv. 23:9-11]. Isso é uma figura da Primeira Ressurreição, ela se inicia com as Primícias. O apóstolo Paulo afirma que: “... Cristo ressuscitou dentre os mortos e foi feito as primícias dos que dormem. [1 Co. 15:23, cf. v.20; At. 26:23]. Aos colossenses Ele declara que Cristo é “o primogênito dentre os mortos, para ter a primazia em todas as coisas”. [Cl 1:18]. Depois da morte e ressurreição de Cristo, muitos santos do Antigo Testamento ressuscitaram e introduziram, com Ele, a Primeira Ressurreição. [Cp.  Mt. 27:52,53]. Paulo, em seus argumentos, mostra que a Ressurreição de Cristo é o centro da nossa fé, da nossa vida, da nossa religião e nossa esperança. [Cp. 1 Co 12:20].  
2.3 A Sega Geral: Os Salvos, no Arrebatamento da Igreja: Jesus fez uma promessa para aqueles que creem nele e que têm a vida eterna, na comunhão do seu sangue e de sua carne: “... eu o ressuscitarei no último dia” [Jo 6:54,60]. Essa era a convicção dos crentes dos tempos de Cristo [Jo 11:24]. O Último Dia é uma referência ao final da dispensação da Graça, marcado pelo Arrebatamento da Igreja. Nesse Dia acontecerá a Ressurreição de todos os salvos desde Abel até o último que morrer antes do Dia de Cristo. Paulo afirma: “Mas cada um por sua ordem: Cristo as primícias, depois os que são de Cristo, na sua vinda” [1 Co 15:23, grifo nosso]. Quando soar a “última trombeta” no Grande Dia do rapto da Igreja todos os salvos mortos ouvirão a voz de Cristo e ressurgirão, para encontrá-Lo nos ares. [Cp. 1 Co 15:52; Jo 5:28; I Ts. 4:16 NAA]. Esse é o segundo momento da Primeira Ressurreição, como prefigura Ceifa Geral dos judeus.
2.4 O Rabisco: os Mártires da Grande Tribulação: na Cultura judaica quando o povo fazia a colheita geral dos seus frutos, alguns eram retardatários no processo da maturação. Esses só seriam colhidos mais tarde, eram os rabiscos. [Cf. Is.17:6; 24:13; M0q. 7:1]. A figura profética indica que a Primeira Ressurreição só será concluída, quando aqueles que forem martirizados por não aceitarem o sinal da besta, na Grande Tribulação, ressuscitarem para a entrada no Milênio. [Ap. 6:9; 20:4]. Eles são os Rabiscos da Primeira Ressurreição.

3.    A ÚLTIMA RESSURREIÇÃO

2.1 A Ressurreição dos Injustos: A chamada Ressurreição dos injustos [At. 24:15] é aquela, como o próprio nome sugere, reservada para os ímpios, que difere da Ressureição dos Justos, quanto ao tempo e quanto aos propósitos
2.2 A Análise do Tempo: É sabido pelo texto bíblico que os justos e os ímpios não ressuscitarão simultaneamente, mas, em ocasiões distintas. Ao fechar a Primeira Ressurreição João escreveu: “Mas os outros mortos não reviveram, até que os mil anos se acabaram...”. [Ap. 20:5]. Logo, os ímpios só ressuscitarão depois do Milênio e antes do Juízo Final. É a Ressurreição DOS mortos.
2.3 A Análise do Propósito: Ao contrário dos justos que ressuscitarão para algum tipo de recompensa de gozo, os incrédulos ressurgirão com objetivos condenatórios. Daniel diz que será para “vergonha e desprezo eterno” [Dn 12:2] e Jesus disse que seria para a condenação [Jo 5:29]. Isso é confirmado na narrativa joanina que declara que a Morte e Hades entregarão os seus mortos para serem apresentados diante do Trono Branco para o Grande Dia do Juízo Final. [Ap. 20:5,6].  Vide Lição 14.  
4. A NATUREZA DO CORPO RESSURRETO

4.1. Considerações Gerais: Há diversas controvérsias quanto ao corpo da ressurreição, porém, uma análise cuidadosa da Palavra de Deus e da Teologia pentecostal nos ajuda a fazermos algumas considerações. Vejamos:
a) Não Será um Corpo Desprovido de Matéria: Interpretações equivocadas da expressão paulina “semeia-se corpo animal, ressuscitará corpo espiritual” [1 Co 15:44] tem levado alguns a ensinarem que o corpo da ressurreição é imaterial. No entanto, a expressão “corpo espiritual”, [gr. soma pneumáticos] faz contraste com corpo natural, ou seja, um corpo sobrenatural e dominado pelo Espírito, longe de ser um corpo desencarnado. Quando Jesus ressuscitou Ele afirmou: “... tocai-me e vede, pois um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho” [Lc. 24:39].
b) Não Será Outro Corpo: O argumento de Paulo em 1 Coríntios 15:44 de que se semeia um corpo animal e se ressuscita num corpo espiritual, também não afirma que o corpo ressurreto é outro no aspecto quantitativo [dois corpos, um antes e outro depois] e sim, outro no aspecto qualitativo [outra natureza] o corpo humano não se extingue com a morte, e sim, desintegra-se. Podemos afirmar que na criação a matéria inanimada [pó da terra] se transforma em matéria biológica [corpo físico]; na morte a matéria biológica se transforma em matéria deteriorada [corpo desintegrado] e na ressurreição a matéria desintegrada se transforma em matéria imperecível, ainda que de natureza diferente para o salvo e para o ímpio.  
4.2 A Natureza do Corpo dos Salvos – “Corpo de Glória”: Ao ressuscitar, o salvo passará pelo processo da glorificação do corpo, quando se libertará, definitivamente, das amarras do pecado e receberá um corpo semelhante ao de Jesus [Fp. 3:21] sem as impressões da natureza carnal [1 Co. 15:50]. O corpo glorificado terá diversas características que o diferenciam do corpo animal, a saber:
a) Incorruptibilidade: Não mais sofrerá a corrupção, pois será revestido da imortalidade. [1 Co 15:54,55. Cp. Lc.20:36; 2 Co 5:4]. O Corpo ressurreto não será levantado do pó com as debilidades físicas com as quais foi sepultado [v.53] e também, não envelhecerá jamais. 
b) Impassibilidade: Não mais estará sujeito às dores e às debilidades do corpo animal. A ressurreição garantirá total imunidade ao sofrimento, seja físico ou emocional; não terá necessidade de se alimentar fisicamente, porém, pode fazer isso [At. 1:4 NVI]; não sofrerá conflitos entre a carne e o espírito e não terá necessidades físicas de nenhuma natureza: como dormir, descansar ou de sexo, por isso após a ressurreição, não haverá casamento [Mt. 22:30]. Também, não haverá chance nenhuma de pecar, porque com a glorificação ficaremos libertos da presença do pecado, não haverá instrumento de tentação nem dentro nem fora de nós.
c) Permeabilidade: Liberdade em relação à matéria, ou seja, capacidade de penetrar substâncias sólidas [Jo 20:26];
d) Agilidade: Habilidade para se mover no tempo e nos espaço na velocidade do pensamento.
e) Perfeição: Será moral, física e espiritualmente perfeito. Por isso se levantará “em glória” e “em vigor” [1 Co 15:43]. O corpo ressurreto não terá insuficiência ou deficiência mental ou cognitiva por possuir maturidade intelectual nivelada. Quem morreu bebê ou idoso avançado terá a mesma capacidade de raciocínio e sentidos; não haverá a presença de nenhuma debilidade ou defeito físico seja de formação, funcionamento ou condição, pois Deus transformará [gr. metaschematidzõ = modificará a forma ou a condição] o nosso corpo à semelhança de Cristo [Fp. 3:21]. Será um corpo próprio, projetado por Deus para um mundo perfeito, por isso o homem ressurreto à imagem de Cristo, será chamado de “homem do céu” ou “homem celestial” [Cp. 1 Co 15:47-49; 2 Co 5:2].
f) Tangibilidade: Embora seja um corpo glorioso será palpável e perceptível. [Lc. 24:49; I Co 15:1-8]. Será um corpo real com capacidade de reconhecimento e atividades celestes reais. Porém, alguns mistérios ainda cercam a realidade do corpo ressurreto, como por exemplo, o modus operandi das aparições e o fato de que Jesus, algumas vezes, não ter sido reconhecido nestas aparições [cp. Jo 20:15; 21:4; Lc. 24:13-35].
g) Integralidade Perfeita: O homem ressurreto será uma unidade completa [corpo, alma e espirito], porém, numa realidade superior à primeira criação [1 Co 15:45,46]. Não será um espírito nem um corpo animal, mas, o homem totalmente redimido – o homem espiritual [v.44], onde seus elementos se tornarão inseparáveis e indissolúveis, por isso não sofrerão a segunda morte. [Ap. 2:11].
4.3 A Natureza do Corpo dos Ímpios – “Corpo do Pecado”: A Bíblia não oferece muitos detalhes de como há de ser o corpo do ímpio após seu ressurgimento, mas, é preciso inferir pelo Ensino Sagrado algumas verdades:
a) Imperecibilidade, Sim, Imortalidade, Não: A imortalidade e a vida eterna são dádivas apenas para os salvos [1 Co 15:53,54; 1 Jo 5:11]. Os ímpios, após ressurretos, terão uma existência perpétua com um corpo que não será destruído. Esse estágio da existência humana dos ímpios é chamado de “vergonha e desprezo eterno” [Dn 12:2] e condenação [Jo 5:29]. Embora seja uma existência que durará para sempre, não  pode ser chamada de vida, mas “morte eterna” ou “segunda morte” [Ap. 20:14]. Logo, os salvos ressuscitarão para a vida, os ímpios, para a morte.
b) Corpo Inglório: O corpo de glória com que os justos ressuscitarão é um corpo redimido ou glorificado, à semelhança do corpo de Cristo [Fp. 3:20]. O ímpio não ressuscitará com este corpo. Se a sua alma-espírito não alcançou a regeneração, também não alcançará o seu corpo. Logo, o corpo da ressurreição dos ímpios, é “o corpo do pecado” com o qual ele morreu, sem a excelência do “corpo espiritual” dos justos, sendo acrescido apenas a imperecibilidade. 
a) Deformidades: É sensato pensar que se o ímpio não vai viver a experiência da glorificação, seu corpo assumirá as mesmas deformidades e fraquezas porque as consequências do pecado não cessarão com a morte física. Será a ressurreição da “vergonhahb. herpah= opróbrio, desgraça, injúria ou uma condição de vergonha que esteja no indivíduo, seja física ou moral e do “desprezo”  hb dera’on = repulsa, horror ou aquilo que é repugnante. [Dn 12:2]. Entende-se que a ressurreição do ímpio, priva-o de qualquer nível de aprimoramento como efeito redentor. Porém, a ideia de que se uma pessoa perder um membro ressuscitará sem ele, não se firma, porque nos obrigaria a pesar que se morrera decapitado, ressuscitaria sem a cabeça. Tal pensamento é inviável. É prudente dizer, que muitas coisas ainda ficarão sem explicação, sendo certo dizer que “em parte conhecemos” [1 Co. 13:9] e que só na eternidade obteremos a compreensão absoluta. [Cp. 1 Jo 3:2].

CONCLUSÃO

A Ressurreição de Cristo serve de consolo de que nós, os Seus servos, não precisamos nos assombrar com a realidade da Morte, pois, mesmo se morrermos nesta vida, nós ressurgiremos num corpo incorruptível à semelhança do Seu próprio corpo para desfrutar, na mais pura perfeição, as glórias e benesses celestiais. A qualquer momento, quando a última trombeta tocar, assumiremos a nova identidade num estágio de existência jamais vivido aqui no Mundo. Aleluia! Que Deus nos ajude a permanecer
O ESTADO INTERMEDIÁRIO E O MUNDO DOS MORTOS
TEXTO: Lucas 16:19-31

INTRODUÇÃO
Para nós, que acreditamos na Palavra de Deus, não somente temos consciência da realidade da morte, como aceitamos o ensino da imortalidade da alma, ou seja, temos convicção de que o homem possui uma constituição que transcende à morte física e que o corpo aguardará o dia da ressurreição.
Se nós admitimos haver ressurreição do corpo e que a alma não morre, logo temos que admitir outra realidade, a de que os mortos existem em algum lugar em situação de consciência ativa. Essa é a Doutrina escatológica do Estado Intermediário e do Mundo dos Mortos, como veremos neste estudo.
Não basta apenas aceitar essa doutrina Bíblia, mas, preparar-se contra as heresias que surgem concernentes a esses assuntos, a fim de receber a consolação pela certeza de que a vida não termina na sepultura. Foi esse o motivo de Paulo combater a ignorância dos tessalônicos e concluir seu argumento dizendo: “consolai-vos uns aos outros com estas palavras” [I Ts. 4: 13,14,18].

1.    O ESTADO E O MUNDO DOS  MORTOS

1.1 O Que é o Estado Intermediário. Estado Intermediário é o conceito teológico da existência humana entre a morte física e a ressurreição. Nesse estágio, o corpo permanece inativo na sepultura e a alma-espírito existe em condição de plena consciência, tanto em relação às lembranças do mundo físico [Lc. 16:25,27,28], como a manifestação de sentimentos [Ap. 6:9-11] e  à convicção do destino esterno [Lc.16:28].
1.2 A Realidade do Lugar do Morto: Se é real a existência humana após a morte, é certo dizer, também, que existe um lugar para onde os mortos vão após a saída da “terra viventes”. Vejamos:
a. O Que é o Lugar dos Mortos: No AT o termo hebraico She’ol e no NT o termo grego Hades.  Significa, com as devidas exceções, “o lugar das almas desencarnadas onde os mortos ficam até a ressurreição de seus corpos”. É claro que se tratando de coisas espirituais, não se pode pensar num lugar com estruturas físicas, no entanto, se a alma é uma coisa real o Lugar dos Mortos também o é.
b. Onde Fica o Lugar dos Mortos: Os teólogos concordam, majoritariamente , que She’ol/Hades está situado nas profundezas da terra [Cf.  Ef. 4:8-10; Cp. Nm 16.30,33; Am. 9.2]. Concordam com isso várias expressões alusivas ao assunto, mostrando aquele que morre “descendo”. [Cp. Gn. 37:35; Sl. 30:3; 86:13; 139:8; Ez. 31:15,17; Am. 9:12, etc].
1.3 O Equívoco Doutrinário sobre o Lugar dos Mortos: Devido à imperfeição de algumas traduções das Escrituras e imaturidade doutrinária de alguns, muitas controvérsias têm surgido em relação ao Lugar dos Mortos. Vejamos os principais equívocos:
a. She’ol - Hades x Sepultura: O problema se dá, principalmente no AT, por conta de palavras polissêmicas [aquelas com vários significados] como as palavras portuguesas  manga e vela, por exemplo. O termo She’ol aparece mais de 70 vezes tendo mais de um significado; diversas vezes é traduzido como sepultura: ora acertadamente, por força da polissemia hebraica, [Sl. 6:5; Cf. 115:17; Ec. 9:10; Is. 38:17,18 ], ora, equivocadamente por descuido dos tradutores [Pv. 7:27]. Certo é que o estudante bem esclarecido entenderá nitidamente os textos onde She’ol, jamais pode se referir à sepultura, pois na nesta não existe nenhuma tipo de existência e ação dinâmica como alguns textos demonstram [Cf. Is. 14:9; Sl. 55:15; Am. 9:2]. Além do mais, o she’ol é visto como um lugar onde os ímpios são atormentados [Sl. 9:17; Hc. 2:5 Ez. 32:17-32]. No NT o conflito se dissipa porque os escritores diferenciam sepultura [gr. mnomeion] do Lugar dos Mortos [gr. Hades] e, quando citam passagens do AT onde she’ol se refere ao Lugar dos Mortos, sempre usavam a palavra correlata Hades e não mnomeion. [Cp. Sl. 16:10; At. 2:27 ]. A ideia neotestamentárias da vida pós-túmulo sempre aponta para uma existência consciente, por isso Paulo desejava “partir para está com o Senhor” [Fp. 1:23; 2 Co. 5:8; cp. Lc. 23:43].
b. Hades x Purgatório: O catolicismo ensina que as almas daqueles que morrem em estado de graça, mas não estão totalmente limpos, passam por um processo de purificação ou castigo temporário como uma forma de preparação para entrarem no Céu. A ideia, que se baseia na interpretação particular de 1 Coríntios 3:12-15, foi introduzida por Agostinho no Séc. IV, mas a palavra só foi usada no Séc. XII, e se tornar dogma no Concílio de Trento [1545-63.  Esse ensino além de trazer controvérsias escatológicas, anula a eficácia do sacrifício de Cristo, como única provisão divina para a salvação [Ef. 2:8,9; Tt. 3:8].
c. She’ol - Hades x Inferno  - Outro equívoco, presente no AT e NT é a tradução dos termos she’ol e Hades para inferno. O Hades e o Inferno são dois lugares diferentes, mas às vezes são confundidos. Vejamos alguns exemplos:
·   “Mas não sabem que ali estão os mortos, que os seus convidados estão nas profundezas do inferno [she’ol]” [Pv. 9:18] É uma tradução equivocada porque no Inferno final, ainda não existe ninguém lá. O mesmo pode-se dizer de Lucas 16:23. O rico estava no Hades e não no Inferno propriamente dito.
·   “... e tenho as chaves da morte e do inferno [Hades]” [Ap. 1:18]. Não se refere às chaves da “casa do Diabo” como dizem alguns avivalistas, trata-se do domínio de Cristo sobre o Hades. As almas não têm autonomia para entrar ou sair de lá [cf. Lc. 16:26; 2 Sm. 12:23] todos estão sob o domínio de Cristo.
·  “E olhei, e eis um cavalo amarelo; e o que estava assentado sobre ele tinha por nome Morte; e o Inferno [Hades] o seguia...”[Ap. 6:]. Fala da matança desenfreada na Grande tribulação, de modo que aparece o instrumento de destruição - a Morte e Lugar para onde os mortos serão introduzidos - o Hades.
·   Há muitas outras traduções equivocados, porém, nenhum é mais confusa do que Apocalipse 20:14 que diz: “E a morte e o inferno foram lançados no lago de fogo” [grifo nosso]. A palavra traduzida por inferno se refere ao Hades e a expressão “Lago de Fogo”, essa sim, refere-se ao Inferno propriamente dito, lugar sofrimento eterno. [vide 3.3].
·  OBS: Embora haja os equívocos, algumas vezes, em que a palavra Inferno aparece nas traduções de português se referem, de fato, ao Lugar de tormento eterno, mas o termo original não é Hades. Ex. Mateus 5:29, 10:28 e 23:33 [Inferno = gr. geena] e em 2 Pe. 2:4 [Inferno = gr. tártaro] O problema é que a palavra inferno é de origem latina inferus = “lugares baixos” que se transformou em Infernus, e que os tradutores usaram para substituir as palavras gregas Hades, Geena e Tártaro e por vezes, produz grande confusão. 

2.        O LUGAR DOS MORTOS ANTES DA RESSURREIÇÃO DE CRISTO

2.1 Um único Lugar, Três Compartimentos: Não é unanimidade entre os teólogos a ideia de que, antes da morte e ressurreição de Jesus, o She’ol fosse um único lugar para onde iam todos os mortos, porém, esse pensamento sobressai no meio evangélico. Para alguns, mesmo no AT, os ímpios “desciam” e os justos “subiam” após a morte. [Cp. Lc. 16:23].   Nessa interpretação, o she’ol é o lugar para onde vão as almas dos ímpios e as “nações que se esquecem de Deus” e não dos fiéis [cf. Sl. 9:17; 55:15]; os justos, porém, “serão recebidos em glória” [Sl. 73:24]. Porém, parece mais razoável, entre os pentecostais a ideia de um Lugar dos Mortos para todos [Gn. 37:35; Is. 38:10; Dt. 32:22 NVI], um Lugar nas profundezas da Terra,  tendo um compartimento para os justos, chamado Seio de Abraão e um Lugar de Sofrimento para os Ímpios, sendo separados por um grande abismo, conforme o texto de Lucas 16:19-31.
2.2 O Seio de Abraão: o Paraíso dos Justos: O texto supracitado diz que Lázaro “morreu e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão” [v.22]. A expressão “foi levado”, chama-nos atenção para o fato de que a Bíblia diz que os justos são recolhidos, oferecendo-nos a ideia de um estágio melhor [cf.  2 Cr 34:28,  Nm. 20:24,26; 2 Rs. 22:20]. O epíteto Seio de Abraão [paraíso] se refere a uma das três expressões usadas pelos judeus para se referir ao estado de futuro de bem-aventurança. As outras duas eram Jardim do Éden e Trono da Glória. A teologia judaica incluía o “Seio de Abraão” como parte de descanso e consolo do She’ol, onde ficavam as almas dos justos, gozando as bênçãos de forma provisória e incompleta, pois o melhor ainda está por vir com a glorificação do corpo no dia do arrebatamento da Igreja.
2.3 O Lugar de Tormento: O texto lucano diz que o rico também morreu e foi sepultado. [v.23]. Não se faz menção de uma busca angelical, aliás, a Bíblia diz que os ímpios são ceifados [cp. Sl 37:2; Ap. 14:19]. Jesus acrescenta a informação “no Hades, [o rico] ergueu os olhos, estando em tormentos...” [v.22 ARC 2009]. Isso mostra que, esse compartimento, em contraste com o Seio de Abraão, já é sombrio, doloroso, e abrasador, mesmo que de forma provisória, pois rico chega a dizer que estava atormentado. [v.24]. Não tem como escapar. Só Deus, pela Sua onipresença, tem acesso direto ao Lugar dos mortos [Sl. 139:8], pois, “o She’ol está nu perante Ele” [Jó 26:6; Pv.15:11]. No Hades os incrédulos estão sob a égide de Deus, reservados para o castigo eterno. [2 Pe. 2:4,9].
2.4 O Abismo Divisório: As Cadeias da Escuridão: É dito no texto em apreço que Abraão respondeu ao rico: ... além disso, está posto um grande abismo entre nós e vós...”. [v.26, grifo nosso] O terceiro compartimento, que, aliás, dividia o Seio de Abrão do Lugar de Tormento é chamado de “grande abismo”.  Estudiosos da bíblica afirmam que se trata “das cadeias da escuridão”, onde estão presos um grupo de demônios, reservados para o dia do julgamento dos anjos caídos [2 Pe. 2:4; 1 Co. 6:3].  Pedro afirma que Deus os lançou no Inferno [gr. Tártaro = o mais profundo do abismo], como punição temporária de um pré-julgamento, até o dia da penalidade definitiva, ideia confirmada por Judas em sua epístola [Jd. 6]. Acredita-se que estes demônios serão soltos, provisoriamente, como uma forma de castigo aos que experimentarão a Grande Tribulação, quando o poço do abismo será aberto [cf. Ap. 9:1-5].

3.    O LUGAR DOS MORTOS APÓS A RESSURREIÇÃO DE JESUS

2.1 A Transferência do Paraíso: Uma das mais belas promessas de Cristo à Igreja é a de que “as portas do inferno [Hades] não prevalecerão contra ela”. Essa promessa se torna bem mais robusta diante das passagens de Efésios 4:8-10 e Ap. 1:18 que abordam a abrangência da obra redentora de Cristo, trazendo benefícios até aos que já dormiam na fé.
a. A Ida de Jesus ao Hades:  É certo dizer, que com a encarnação, Jesus assumiu todas as condições humanas, tanto no estágio da vida como na morte [Hb. 2:14]. Logo, como todos os mortais, seu corpo foi sepultado e sua alma foi ao Hades. Ele disse ao ladrão crédulo: “... hoje estarás comigo no Paraíso” [Lc. 23:43]. Ele não usou a palavra Hades, e sim Paradeisos, pois, certamente o ladrão conhecia a doutrina do descanso no “Seio de Abrão”. Ao morrerem, ambos foram ao Mundo dos Mortos. Assim, Aquele que subiria “acima de todos os céus” [Ef. 4:10] descia às “profundezas da Terra” [v.9] para encerrar seu estágio de humilhação e celebrar o seu triunfo sobre a morte [Ap.1:18]. Pois, a profecia previa que nem seu corpo sofreria a destruição, nem sua alma permaneceria no Hades [At. 16:10]. A expressão “fui morto, mas eis aqui estou vivo para todo o sempre” [Ap.1:18] caracteriza-se como o grito da vitória. [cp. Mt. 28:18].
b. A Mudança do Paraíso: Paulo anuncia o argumento sobre o triunfo de Cristo citando a poesia profética do Salmo 68:18, ao dizer “subindo ao alto, levou cativo o cativeiro e deu dons aos homens” [cf. Ef. 4:8]. É entendido desta afirmação que com a ressurreição, Jesus inicia o sentido inverso de sua encarnação: sua exaltação triunfante. Ao ascender aos céus, transferiu as almas dos justos para cima [um estágio de antegozo], como havia prometido [Lc. 16:22], e, a partir de então o Paraíso foi mudado para o terceiro céu [ Cf. 2 Co 12:1-4].  João viu as almas dos mártires da Grande Tribulação, debaixo do altar, no céu [ Ap. 6:9]. 
3.2 A Nova Configuração do Lugar dos Mortos: A concepção teológica como acima citado, mostra que depois da morte de Cristo, mas precisamente depois de Sua ressurreição e ascensão o Lugar dos Mortos passou a ter uma nova estrutura: os ímpios continuam descendo ao Hades, numa espécie de prisão preventiva onde aguardam o Juízo Final e os justos, tem seus corpos à semelhança dos ímpios sepultados, mas, suas almas sobem para o descanso provisório no Paraíso. É justificada  a aspiração do apóstolo dos gentios  “mas temos confiança e desejamos antes deixar este corpo, para habitar com o Senhor[ 2 Co. 5:8, grifo nosso].

3.3 O Fim do Lugar dos Mortos: A Bíblia diz que Jesus se manifestou para desfazer as obras do Diabo. [1 Jo. 3:8]. A Morte é o salário do pecado e Hades passou a existir como  parte desta maldição. Quando todo império do mal for desfeito, a Morte será vencida, definitivamente [1 Co. 15:26]. Então, tanto a Morte como o Hades serão lançados no Lago de Fogo, onde estarão, também, todos os não salvos [Ap. 20:14,15]. Isso determinará no sentido completo da palavra “a morte da própria morte”, então, começará o Dia da Eternidade.  

CONCLUSÃO

A expressão de que “nenhuma condenação há para quem está em Cristo” é uma garantia consoladora para nós, que sempre desfrutaremos dos benefícios da salvação. Partiremos desta terra para um estado antecipatório das dádivas e celestes no paraíso e depois da ressurreição viveremos a plenitude da obra redentora de Cristo em um estágio de vida inimaginável. Permaneçamos firmes, com a graça de