sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020


O TEMPO DOS GENTIOS: JERUSALÉM SOB O DOMÍNIO PAGÃO - 
TEXTO BASE: Lucas 21:20-24; Romanos 11:18-26
INTRODUÇÃO
Prevendo a destruição da Cidade Santa, fato que viria a acontecer poucos anos depois de Sua morte, Jesus profetizou que Jerusalém seria pisada pelos gentios, até que o tempo deles se completasse. Mais tarde, o apóstolo Paulo afirmou que o “endurecimento” dos judeus prevaleceria até que se desse a plenitude dos gentios. 
 Afinal, o que é o “Tempo dos Gentios”? A que se refere a “Plenitude dos Gentios”?  As palavras de Jesus e de Paulo se referem à mesma coisa? Quando começa e quando termina o Tempo dos Gentios? Que importância tem esses temas para o estudo da Escatologia Bíblica? As respostas a estas perguntas ocuparão o escopo deste Estudo.
È importante dizer que há muitas explicações e especulações sobre este assunto, portanto, visto que somos dispensacionalistas, abordaremos este tema sob esta perspectiva.

1. DEFINIÇÃO E PARTICULARIDADES DO TEMPO DOS GENTIOS
1.1 Definições: Muitas discussões têm se travado para explicar o “Tempo dos Gentios” e diversas linhas teológicas têm pluralizado o seu significado. Analisaremos as duas principais interpretações no meio teológico.
a) A primeira, àquela que assegura que o termo se refere ao domínio das potencias gentílicas sobre Israel, ou seja, o período em que a Cidade Santa estaria nas mãos de nações pagãs. Alguns acreditam que esse período se encerrou em 1948, com a fundação do Estado de Israel; outros afirmam que findou em 1967, depois da Guerra dos Seis Dias, quando Jerusalém passou a ser administrada por Israel; e outros ainda, pensam que esse tempo só se completará na Última Semana Profética, quando se dará a investida final à Cidade Santa pelo Anticristo e pelas nações confederadas no Armagedon, quando Jerusalém será libertada, definitivamente, dos domínios gentílicos.   
b) A segunda interpretação é aquela que afirma que o “Tempo dos Gentios” se refere à Era da Igreja, o período de tempo entre a 69ª e 70ª Semanas e que se encerrará quando Jesus arrebatar a sua Igreja. Parece prudente dizer que uma interpretação não é diferente da outra, mas que se completam. A Era da Igreja está dentro do Tempo dos Gentios e faz parte dele. Pois, Deus em Seu amor, revelou a Sua graça aqueles que não eram da linhagem física de Abraão, mas, que estava em Seu querer abençoar nele “todas as famílias da terra” [Gn.12.3]
1.2 O Tempo dos Gentios Sob Duas Perspectivas: Com base nas narrativas de Jesus e Paulo e as abordagens supracitadas, podemos analisar o Tempo dos Gentios sob duas perspectivas: política e religiosa.
a) A Perspectiva Política: O Tempo dos Gentios, do ponto de vista político, define-se como o tempo em que “Jerusalém seria pisada pelos gentios” [Lc. 21:24], ou seja, o tempo da supremacia das nações sobre Israel e a Cidade Santa, somando as duas diásporas [586 a.C. e 70 d.C.]; as diversas conquistas históricas, incluindo o  Califado Ortodoxo, as Cruzadas, o Domínio Otomano etc., culminando com a grande investida do Anticristo e das nações no final da Grande Tribulação. [Ap. 16:12,16 ].
b) A Perspectiva Religiosa: Dentro do Tempo dos Gentios, está o espaço de tempo entre a 69ª e 70ª Semanas Proféticas, um intervalo que já passa de dois mil anos, que como já vimos, refere-se ao tempo que Deus concedeu aos gentios a oportunidade à bênção da salvação, na ocasião em que Israel rejeitou o Messias. É esse tempo que o apóstolo Paulo chama de “Plenitude dos Gentios”, ou a Supremacia da Igreja, majoritariamente formada por gentios, haja vista, Israel ter rejeitado o Messias. [cf. Rm. 11:11,12].
1.3 A Revelação Profética do Tempo dos Gentios: Maioria dos estudiosos da Escatologia concorda de que o Tempo dos Gentios está associado aos quatro últimos Impérios Mundiais, a saber: O babilônico, o medo-persa, o grego e o romano. Estes quatro impérios são apresentados no livro de Daniel na estranha estátua, do sonho de Nabucodonosor que tinha cabeça de ouro, peito e braços de prata, ventre e coxas de bronze, pernas de ferro e pés de ferro misturado com barro [2:31-45] e nas quatro bestas do sonho de Daniel, a saber, um Leão com duas asas de águia; um Urso violento, tendo três costelas na boca; um Leopardo com quatro asas e quatro e cabeças e um Animal indecifrável, forte e espantoso, tendo dentes de ferro, dez chifres e mais um chifre pequeno que nascia entre os outros. [7:1-8].  Finalmente, de forma resumida, dois destes Impérios reaparecem na visão que Daniel teve: um carneiro de dois chifres desproporcionais e um bode com um grande chifre na testa, os quais travavam um confronto mortal [8:1-10]. Os sonhos e a visão profética descrevem um resumo dos governantes mundiais gentílicos que viriam a “pisar a cidade de Jerusalém”.
2. OS QUATRO IMPÉRIOS MUNDIAIS RELACONADOS AO TEMPO DOS GENTIOS
2.1 O Império Babilônico [606-536 a.C.]: A Babilônia foi a primeira Nação a “pisar” a Cidade do Grande Rei. O reino do norte já tinha caído nas mãos dos assírios e, as profecias apontavam para a queda de reino do Sul, quando Jerusalém experimentaria o mesmo que Samaria em 722 a.C. [Cf. 2 Rs. 17:22,23]. Embora Deus tivesse usado os profetas para que a tragédia fosse evitada, o povo prosseguiu em sua rebeldia, virando às costas a Deus - o exílio foi inevitável. [Jr. 25:4-11]. As tropas caldeias, sob o domínio de Nabucodonosor, invadiram, saquearam e destruíram a cidade e o templo entre 606 e 587 a.C. Nesse tempo Jerusalém ficou desolada e completamente destruída. [Lm. 1:1,3,4].
a). A Cabeça de Ouro da Estátua [Dn. 2:32]: Ao narrar os detalhes e interpretar o sonho do rei Daniel acrescentou: “... Tu, ó rei, és rei de reis, pois o Deus dos céus te tem dado o reino, e o poder, e a força, e a majestade [...] tu és a cabeça de ouro. [Dn. 2:37,38].  A Babilônia como cabeça de ouro representa a grandeza e a glória que fora o Império em relação aos outros [Jr.51:4; cp. Dn. 2:39]. Nabucodonosor é chamado de “rei de reis”, para se referir ao seu domínio mundial, bem como ao sua posição inicial sobre aqueles que abrangeriam o “Tempo dos Gentios”. Jesus, porém, é chamado de “Rei dos Reis”, [Ap. 19:16] porque tem proeminência e supremacia sobre todos os governantes do Mundo [Ap. 11:15].
b). O Leão de Duas Asas [Dn. 7:4]: No Sonho de Daniel, o império babilônico, agora representado por Belssazar, corregente de Nabonido, foi visto como um Leão com duas asas. O leão, o animal majestoso e carnívoro, é símbolo da ilustre Babilônia, “a destruidora das nações” [Jr. 4:7]. As asas apontam para a rapidez e voracidade de suas conquistas. O leão alado está presente entre as obras de arte da antiga Babilônia. Uma demonstração de bravura, imponência e força, marcas da majestosa cidade, a maior potência do Oriente Médio Antigo. [Cp. Dn. 4:20-22,30].
c) Ouro, Leão e Águia: Além de ser representada pela “cabeça”, parte mais importante do corpo humano, a Babilônia, também, está simbolizado pelo ouro, o principal dos metais, pelo leão e pela água, que na fauna representam o rei dos animais e a rainha das aves. Os símbolos descrevem as glórias e opulências que determinaram o império babilônico, apesar de que a profecia aponta também, sua humilhação e o fracasso ao prevê que o leão teve as asas arrancadas. [Dn. 7:4], fato que se deu em 536 a.C. como disse Daniel a Belssazar. [5:25-31]. Babilônia caiu, mas se ressurge e reaparece como uma expressão e forma de vida oposta a Deus como se ver em Apocalipse. 
2.2 O Império Medo-Persa [536-331 a.C.]:  O segundo Império relacionado ao Tempo dos Gentios é o medo-persa, e é assim chamado porque a Média e a Pérsia se juntaram para formar um só reino.  A interpretação de Daniel à aparição da escrita na parede do baquete de Belssazar, determinara que a Babilônia cairia diante dos medos e persas [Cf. Dn 5:28]. Este governo teve uma relação amistosa com os judeus [Ed 6:14]: Ciro, o Grande, o primeiro monarca persa [Dn. 1:21] foi chamado por Deus de “meu ungido”, 150 anos antes de nascer [Is. 45:1-7]; constituiu Dario I, rei interino da Babilônia, [Dn. 9:1] quando esta nação foi derrotada, enquanto ele continuava suas conquistas para depois assumir definitivamente [Dn. 6:28; Ed. 5:13] ;  foi ele quem deu ordem para os judeus reedificarem o Templo [Ed. 1:1;5:13]; Dario I, o medo, rei interino da Babilônia [Dn. 5:31;6:28], o qual tinha grande admiração por Daniel, um de seus oficiais [Dn. 6]; Assuero, ou Xerxes I,  filho de Dario, casou-se com Ester [Et. 1:1;2:17] e, Artaxerxes Longímano, filho de Assuero,  de quem Neemias era copeiro foi quem deu a ordem para reedificar Jerusalém, iniciando a contagem das semanas proféticas [Ne. 2]. Jerusalém foi reedificada, retomou a posição de centro do culto judaico, mas, ainda, em mãos dos persas.  
a) O Peito e os Braços de Prata [Dn. 2:32]: Na estátua profética, o império medo-persa está simbolizado no peito e braços de prata, metal ínfero ao ouro, pois apesar de vasto e poderoso, este reino seria inferior ao babilônico como predisse Daniel [2:39]. Os peitos unidos ao tórax representam a união dos dois reinos em um só império; os braços, por sua vez, são apontados como Ciro, o persa [Dn. 6:28] e Dario, o medo [Dn. 5:31].   
b) O Urso Faminto [Dn. 7:5]: Dos quatro animais simbólicos, o Império medo-persa está representado pelo Urso.  No sonho, Daniel via que o animal “se levantava de um lado” [7:5]. Isso mostra que apesar do reino ter sido formado pela Média e pela Pérsia, a última teria se destacado, sendo mais forte. Outro detalhe era as três costelas entre os dentes do urso, que simbolizavam a conquista da Babilônia, do Egito e da Líbia, as três primeiras potências vencidas; elas fizeram uma coligação, mas, não resistiram o poder dos medos e dos persas e foram conquistadas pelos poderosos exércitos rivais - “os dentes” do urso esfomeado.
c) O Carneiro Violento [Dn. 8:3,4,20]: O império medo-persa reaparece numa visão de Daniel numa briga acirrada entre um Carneiro e um Bode. Os vv. 2,3 mostram alguns destaques do Carneiro: 1. “tinha dois chifres”: são correspondentes aos “dois braços da estátua”, símbolos dos dois reinos, a Média e a Pérsia. 2. Os “dois chifres eram grandes”, porém, “um maior que o outro”, sendo que “o maior subiu por último”: a profecia mostra que os dois reinos eram ilustres, porém um deles se destacaria. Isso fala de Ciro, que apesar de ter subido ao trono por último, conseguiu se engrandecer se tronando mais poderoso que Dario. 3. O carneiro “dava cabeçadas para o ocidente, e para o norte e para o sul”: as três direções são os mesmos símbolos das três costelas da boca do Urso: Babilônia, Lídia e Egito, embora ele tenha vencido as outras nações, confirmando a profecia: “nenhum dos animais lhe podia resistir; nem havia quem pudesse livrar-se da sua mão”.  [8:4, NVI]. A história só viria a mudar com a chegada do bode do Oriente, símbolo da Grécia de Alexandre.
2.3 O Império Grego [331-146 a.C.]: O terceiro domínio do Tempo dos Gentios foi o Grego. A queda do império medo-persa começou quando Dario III resolveu enfrentar os invasores de Alexandre em duas grandes batalhas: a de Grânico em 334. a.C. e a de Isso em 333 a.C.  Dario propôs um acordo de paz. Mas foi recusado. E, apesar do rei persa está em maior número, foi derrotado. Assim, as satrapias do império medo-persa foram caindo uma por uma diante de Alexandre que derrotou, definitivamente, o grandioso exército de Dario na batalha de Gaugameia em 331. Assim como o fim do império babilônico, Daniel também previu o declínio e fracasso do Império medo-persa e a ascensão da Grécia [Dn. 11:1-3]. Os judeus foram tratados com brandura e benevolência por Alexandre, pois o monarca, em sua marcha para conquistar Jerusalém, foi recebido por uma multidão vestida de branco, incluindo o sumo-sacerdote e outros levitas, o que fez Alexandre se lembrar de um sonho onde Deus aparecia, fazendo promessas de triunfo em suas batalhas. Porém, após a morte de Alexandre, os governantes gregos, trataram Jerusalém com desprezo e o templo foi profanado. 
a) O Ventre de Bronze: [Dn. 2:32]. O Império grego está representado na estátua no ventre e coxas de bronze [cobre]. Daniel previu que “em seguida surgirá um terceiro reino, reino de bronze, que governará sobre toda a terra”. [2:39 NVI], como de fato foi um reino sem fronteiras, próspero e sem crises econômica.
b) O Leopardo de Quatro Cabeças e Quatro Asas [Dn. 7:6]. Entre os animais simbólicos, o Império grego, tendo como primeiro Imperador, Alexandre, o Grande, está simbolizado no Leopardo. Este a animal é notável pela rapidez e agilidade de seus movimentos o que torna redundante o fato de ter quatro asas, que além do significado de insígnia militar, são símbolos da rapidez das conquistas, pois em apenas em 12 anos, Alexandre conquistou o mundo e chorou por não ter mais reinos para serem conquistados. Apesar de tamanha notoriedade, o rei macedônio não conseguiu realizar o seu sonho dourado: transformar todas as nações do mundo em apenas uma, a Alexandrilândia, uma nação sem guerra, sem fronteiras e sem forasteiros, pois todos seriam gregos. Quanto às quatro cabeças, simbolizam as quatro realezas fundadas pelos seus quatro principais generais, após sua morte, a saber: Egito [Ptolomeu]; Síria [Selêuco]; Lisímaco [Macedônia] e Ásia Menor [Cassandro]. Alexandre morreu sem preparar um sucessor para o seu trono, pois interesses políticos, sem uma ideologia unificada fez-se cumprir a profecia de que o seu reino seria dividido em quatro pessoas que não eram de sua posteridade [cf. 11:4].
c) O Bode Peludo [8:5-12,21,22]:  O Império grego reaparece no capítulo 8, na figura de um Bode.  O próprio anjo explicou a Daniel que “o bode peludo é o rei da Grécia...” [v. 22].  Alguns destaques são importantes frisar: 1.um bode vinha do ocidente [oeste]...” [v.5]. uma referência à Grécia. 2.  sem tocar no chão”: [v.5].  Refere-se à agilidade das tropas de Alexandre, que eram conhecidas como “exércitos-relâmpagos” e suas táticas de guerras, ultramodernas. 3. Esse bode tinha um chifre bem visível entre os olhos” [v.5, NAA]. O chifre notável é referência “ao primeiro rei” [cf. v.29] e ao “rei valente” [11:2],  ou seja, Alexandre Magno, considerado o maior conquistador da Antiguidade. 4.Foi na direção do carneiro que tinha os dois chifres...” [v.6]. Representa as três investidas contra Dario III, que culminou com sua derrota definitiva, na batalha de Gaugamela, em 21 de setembro de 331 a.C.  O v.7 descreve a supremacia de Alexandre sobre Dario III, quando está dito que o bode quebra os dois chifres do carneiro, símbolo do destronamento dos medos e dos persas.  5. O bode se engrandeceu cada vez mais...” [v.8, NAA]. Traduz as muitas conquistas de Alexandre, que em doze anos tinha promovido o reino mais extenso do planeta, até então. 6.Porém, quando estava no auge do seu poder, o seu grande chifre foi quebrado...” [v.8].   O “porém” inicia o sentido inverso do Império grego. O grande chifre quebrado, não fala do final do reino, mas, da morte de Alexandre. Após terminar suas conquistas o monarca se entregou aos vícios e “no auge de seu poder”, morreu vítima da “febre do pântano”, depois de um prolongado banquete no palácio em Babilônia, em 323 a.C., segundo a versão mais aceita. 7. “... em seu lugar saíram quatro chifres bem visíveis...” [v.8]. Os quatro chifres que subiram no lugar do chifre visível, correspondem as “quatro asas” e “quatro cabeças” do leopardo [7:6] e aos “quatro ventos” de 11:4. Ambos simbolizam as quatro facções do império, poucos meses depois da morte de Alexandre, como já vimos acima. Em 11:6-20, a profecia aponta os conflitos entre a dinastia dos selêucidas, a Síria e a dos Ptolomeus, o Egito, chamados de reis do Norte e reis do Sul. 8. ... de um deles [dos quatro chifres] saiu um chifre muito pequeno...”. [v.9].  Finalmente, a profecia fala de um “chifre muito pequeno”, que prefigura um rei dos selêucidas, a saber, Antíloco Epifânio. A narrativa de Dn. 8:9-12 mostra quão cruel teria sido este monarca, o qual tendo como alvo principal a “terra formosa” [8:9; cp. 11:16] e, em sua atrocidade se levantou contra o próprio Deus, mudando as leis sagradas, profanando o sábado e, entre outras coisas sacrificando porcos no Santo Templo. Ele prefigura o Anticristo futuro.
2.3 O Império Romano: [146 a.C. – 476/1.453 d.C.].  Historicamente falando, Roma foi o último dos Impérios Mundiais. Aos poucos, utilizando guerras ultramarinas foi ocupando seu espaço.  Em 212 a.C. enfrentou e derrotou o exército macedônio e, finalmente, em 168 a.C. consegue a vitória total. Neste ano Roma se estabelece como potência mundial. No momento o sistema de governo ainda era o republicano, regido pelo Senado, que veio a se tornar imperialista, quando o Senado proclamou Otávio, o primeiro Imperador, que recebeu o titulo de Augusto, em 27 d.C., No ano de 284 d.C., sob o domínio de Diocleciano, que renunciou o título de príncipe e adotou o de domini [dominato, monarquia absoluta],  o Império foi dividido em dois: O Império Romano do Ocidente, com a capital em Roma que caiu em 476 e, o Império Romano de Oriente, tendo Bizâncio como capital. Este último, conhecido como Império Bizantino, perdurou até 1453 quando Constantinopla caiu. Os governantes romanos que levaram Roma ao apogeu tinha o título de César; foram 12 Césares, encabeçado por Julius, o pai do primeiro Imperador. Quando Jesus nasceu, o imperador era Augusto [Lc. 2:1] e quem reinava na Judeia e em toda a Palestina era Herodes, o Grande, homem violento e sanguinário, pois foi ele quem mandou matar os meninos em Mateus 2:16. Ele Morreu pouco tempo depois e, antes dividiu o governo entre seus filhos: Herodes Arquelau  [4 a.C. a 6 d.C.], o mais velho ficou com a Judeia e governou pouco tempo [Mt.2:22]; Herodes Antipas [4 a.C. a 39 d.C.]  ficou com a Galileia e Pereia e Herodes Filipe  [4 a.C. a 34 d.C.] ficou com os territórios do Nordeste [Cp. Lc. 3:1,19]. Antipas foi o responsável pela prisão e morte de João Batista, por criticar seu casamento com Herodias, mulher de Felipe, seu meio irmão [Mc 6:14-28] e pelo julgamento de Jesus [Lc. 23:11] Outros Herodes, da Bíblia são: Agripa I  [41 d.C. a 44 d.C.], neto de Herodes, o Grande. Foi constituído rei de toda Palestina, pelo Imperador Gaio, assim como era seu avô [At. 12:1,2]. Foi este quem matou Tiago ao fio de Espada [At. 12: ]; e, finalmente, Agripa II [50 d.C. a 70 d.C.], aquele a quem Paulo se apresentou [At. 26:28]. Foi o Império Romano quem crucificou Jesus, destruiu o templo e promoveu as grandes perseguições da Igreja primitiva. 
a) As Pernas de Ferro: O Império Romano está representado nas pernas de ferro da estátua profética. Elas são a parte mais extensa do corpo, que traduz a longevidade do quarto Império; As duas pernas simbolizam a dupla divisão do Império: A direita, o lado Ocidental, com sede em Roma [Itália] e a esquerda, o lado Oriental, com sede em Constantinopla [ou Bizâncio/Grécia]. - Quanto ao metal, ou seja, o ferro, disse Daniel: “o quarto reino será forte como ferro...” [2:40]. Roma, como uma potência férrea, subjugou o mundo inteiro e transformou os povos vencidos em escravos, dos quais era o número deles, duas vezes mais que pessoas livres. O ferro, também, aponta para suas atrocidades, vistas nos sangrentos combates dos escravos, prisioneiros e gladiadores no Coliseu que chegavam a morrer mais de 20 mil por mês, isso sem falar das chacinas e massacres realizados em todo Império.
b) O Animal Espantoso e Feroz: [Dn. 7:7].  No sonho de Daniel, Roma é a representação do mostro aterrorizante. O anjo disse que ele seria o quarto reino [v. 23]. O animal era Terrível e Espantoso, características que definem muito bem os vícios tirânicos, a tirania e a insanidade dos governantes romanos. Ex: Tibério castigava as pessoas arrancando os órgãos sexuais; Calígula cometia incesto com as irmãs e promovia atrativos sádicos envolvendo mulheres casadas e moças livres; Cláudio mandou matar 300 rapazes que suspeitava ser amantes de sua esposa matando em seguida a própria; Nero, o mais paranoico, assassinou a esposa grávida com um pontapé, a mãe, o e outros membros da família. Foi grande perseguidor dos cristãos; Caracala esfaqueou o próprio pai e exilou a esposa e depois mandou executá-la; Gaio obrigava os pais assistirem os filhos serem decapitados e cortava a língua de acusados; Domiciano, conhecido como “o sanguinário”, matou o irmão e o primo e foi autor de vários atos violentos e conspirações. Foi ele o responsável pelo exílio de João na Ilha de Patmos. Observa-se que o animal simbólico “era muito forte e tinha os dentes de ferro” cujo paralelismo se ajusta às pernas da estátua, com as observações já mencionadas. O animal tinha dez chifres e um chifre pequeno que surgia entre eles, cujo significado veremos no tópico 3.
c) Os Pés em Parte de Ferro e em Parte de Barro: Ainda que os pés da estátua contenham elementos escatológicos, maioria dos estudiosos dispensacionalistas concorda que “os pés de ferro com barro” simbolizam aspectos do império romano, que apesar de ter se dividido e caído, ainda espalha os seus vestígios ao longo da história.  A natureza dos pés da estátua foi interpretado por Daniel, como uma firmeza dúbia e uma união instável [cp. 2:41-43], o que teria sido as alianças e os casamentos políticos versus a Revolução Francesa e as guerras napoleônicas etc.  A institucionalização do papado, o surgimento do Renascentismo, a ascensão da Rússia como a Terceira Roma, o Comunismo Ateu, a criação do Mercado Comum Europeu, entre outros marcos e  fatos históricos, como o Nazismo de Hitler, responsável pelo Holocausto na década de 1940 descrevem expressões históricas da influência e domínio dos gentios sobre os judeus até 1948. A partir de então, os conflitos ganha um tom mais religioso que político, como os conflitos entre mulçumanos e judeus travados, visivelmente, a partir da segunda guerra mundial. São  resquícios dos pés de ferro e barro da estátua.
3. O ÚLTIMO GOVERNANTE DO TEMPO DOS GENTIOS
3.1 O Anticristo - O Último Governante Humano: Mesmo que os quatro Impérios Mundiais tenham caído, o Tempo dos Gentios ainda não foi encerrado.  Nos sonhos proféticos de Nabucodonosor e Daniel, os governos históricos estão interligados ao domínio do Anticristo, pois, embora as pernas e pés da estátua e o animal espantoso se refiram ao império romano, é evidente, que alguns elementos e expressões do quarto império sejam aplicados a um governo futurístico [cf. Dn. 2:44]. Vejamos esse simbolismo.
a) A Prefiguração do Anticristo: Daniel afirma que entre os dez chifres do animal espantoso, subia um chifre pequeno, e acrescenta: “neste chifre havia olhos, como os de homem, e uma boca que falava grandes coisas.” [v.8]. Esse chifre simboliza o Anticristo. A profecia paralela descrita por João, diz que a besta que subiu do mar tinha uma boca que proferia blasfêmia. [Ap. 13:5,6]. Subtende-se que o Anticristo além de possuir uma eloquência invejável, também reivindicará para si as glórias e as prerrogativas de Deus. Não devemos confundir o “chifre pequeno” de Daniel 7:7 com o “chifre muito pequeno” descrito em  8:8,9 Este é histórico, refere-se à Antíoco Epifânio. É “o rei feroz de semblante” [Dn. 8:26] que procurou acabar com o culto e o povo de Deus, como já analisamos. Aquele, por sua vez, é escatológico e surgira após o arrebatamento da Igreja [2 Ts. 2:7,8]. 
b) O Ferro e o Barro no Contexto Escatológico: Assim como os pés é a última parte do corpo, eles representam o final dos governos humanos. Para alguns teólogos, o ferro é símbolo do sistema totalitário e o barro, da democracia, dois sistemas diferentes que nos últimos dias conviverão num novo sistema político, cuja proposta de harmonização será fingida, pois, assim como o ferro não se mistura com o barro, a unidade política não será garantia de estabilidade universal. Haverá um Sistema Único, mas, divergente.
3.2 As Nações Confederadas com o Anticristo: Os dez dedos da Estátua simbolizam dez reinos, nações ou integrações politicas que formarão uma colisão à disposição dos intentos do Anticristo em acabar com o Povo Santo. Essa Confederação Política é prefigurada nos dez chifres do animal espantoso [7:7] e nos dez chifres da besta que subiu do mar, vista por João em Patmos [Ap. 13:1]. Por algum motivo, não explícito nas profecias, três destes reinos abandonarão ou serão excluídos do projeto macabro Iníquo [cf. Dn. 7:8]. Há uma possibilidade de essa aglomeração ser montada antes da ascensão do Anticristo, a profecia diz que só após a subida do chifre pequeno, três dos primeiros foram arrancados.  É importante pontuar que o número “dez” é considerado pelos rabinos como o “numero completo ou total”, o que sugere o número da plenitude ordinal e da vida secular desenvolvida. Sob esta visão, os “dez dedos” pode se referir a um número simbólico, associado ao desenvolvimento político completo da Nova Ordem Mundial, liderada pelo Anticristo e, não necessariamente, dez reinos.
3.3 A Última Investida Contra Jerusalém e o Fim do Tempo dos Gentios: O Tempo dos Gentios só se completará quando Jerusalém se libertar, total e definitivamente, das mãos gentílicas. Isso ocorrerá por ocasião da Grande Tribulação, quando o Anticristo e as nações incrédulas se arregimentarem para por fim à Nação Santa. Esse Evento é conhecido na Escatologia como a Batalha do Armagedon [cf. Zc. 14:1-4]. Veremos mais profundamente no Estudo sobre a Vinda de Jesus em Glória.
a) A Efêmera Vitória do Anticristo e de seus aliados: A profecia bíblica aponta que o Anticristo terá um governo próspero, porém passageiro. Diz-se do Cavaleiro do cavalo branco, figura do governante escatológico que “foi-lhe dada uma coroa, e saiu vitorioso, e para vencer.” [Ap.6:2]. Pois, o mesmo receberá poder pra fazer guerra contra Israel e contra todas as nações que não se alinharem ao seu sistema de governo [Ap.13:7]. Em Daniel 8:24,25, embora o contexto profético se refira a Antíoco Epifânio, uma análise cuidadosa nos faz entender que, também, aplica-se ao triunfo momentâneo do Anticristo.  A profecia mostra que seu êxito terá tempo determinado, a saber, quarenta e dois meses [v.5]. Até que o juízo divino se estabeleça sobre ele e a sua confederação e o poder lhes seja tirado [Dn. 7:26].
b) Destruição da Estátua: O Fim dos Governos Humanos: Intrigantemente, o rei Nabucodonosor viu em seu sonho uma pedra lançada – sem que visse quem a lançou – veio em direção à estátua, ferindo-a nos pés e destruindo-a completamente [Dn. 2:34]. Isso é corroborado na expressão de Daniel “mas sem mãos será quebrado” [cf. 8:25]. A interpretação da “pedra cortada sem mãos” foi clara: “Mas, nos dias desses reis, o Deus do céu levantará um reino que não será jamais destruído...” [v.44]. A queda dos governos humanos foi vista por João na visão da volta de Cristo em glória, para destruir o Anticristo e os reis da terra, em sua última batalha contra Jerusalém no Armagedon [Ap. 19: 19-21]. Veremos mais detalhes no Estudo sobre a Grande Tribulação. 
c) A Instalação de um Governo Sempiterno: Quando a pedra destruiu a estátua, o rei viu que ela “se tornou grande monte, e encheu toda a terra” [Dn. 2:34]. Daniel interpretou que isso se tratava do reino que nunca será destruído e de cujas ações abarcariam toda a Terra [cf. vv. 44,45] Isso marcará o início do Reino Pacífico do Messias, o qual reinará com os seus santos [Dn. 7: 14,27]. Veremos os detalhes no Estudo sobre o Milênio. Nesse tempo, Jerusalém sacudira o pó da opressão, levantar-se-á e brilhará o fulgor divino [Is 60:1], assumirá a sua posição de capital política e religiosa do mundo [Is. 2:3; Mq. 4:2] e nunca mais ela será chamada desamparada [Is 62:4,5]. Cumpre-se a profecia do Metre: “Jerusalém será pisada pelos gentios até que o tempo dos gentios se complete”. [Lc. 21:24]. Agora ela será “a coroa de glória na mão do Senhor” [Is. 62:3] e motivo de louvor de toda a Terra. [v.7]. Amém. Veremos mais detalhes no Estudo do Milênio.   

CONCLUSÃO
A Supremacia gentílica sobre Jerusalém representa o poder do governo dos homens que um dia se dobrará ante o domínio eterno de Deus, através de Cristo.  Nota-se que a Estátua do sonho do rei foi analisada de forma decrescente: cada vez menos valiosa; os animais proféticos, no entanto, de forma crescente: cada vez mais violentos. Tais características atestam a deterioração da civilização e governos humanos ao longo dos séculos, ao contrário do Reino de Deus que cresce em poder, em estatura e em glória - começa com uma pedra e depois se torna um lajedo que enche toda a terra (Dn 2.35,36). O reino, o poder  e a glória e pertencem a Deus [Mt. 6: 13].





terça-feira, 14 de janeiro de 2020


AS SETENTA SEMANAS PROFÉTICAS
TEXTO BASE: Daniel 9:20-27

INTRODUÇÃO
O capítulo 9 de Daniel é um dos mais importantes do seu livro, seja do ponto de vista histórico, profético ou escatológico. O profeta entendeu pelos livros, que os anos do cativeiro se findavam, então decidiu buscar a Deus em oração, o que resultou na exposição misteriosa das Setenta Semanas Proféticas.
Estudar sobre fim dos tempos, excluindo as Setenta Semanas de Daniel, é deixar uma lacuna imensa no estudo da escatologia, sobretudo, no olhar à Nação de Israel como relógio profético de Deus. Por isso, faz-se necessário incluí-la no bojo de estudos dos últimos dias. 
Neste estudo analisaremos o significado, os propósitos e o cumprimento das Setenta Semanas, mesmo sabendo que sessenta e nove delas já tenham se cumprido. A última a se cumprir, representa os dias mais importantes de toda História, um divisor de águas entre duas Eras significativas: A Dispensação da Igreja e o Reino Messiânico. 

1. O SIGNIFICADO E OS PROPÓSITOS DAS SETENTA SEMANAS PROFÉTICAS

1.1 Considerações Gerais: Depois da descoberta de que os dias do cativeiro eram de setenta anos e que estes já estavam no fim [Cp. Dn. 9:2; Jr. 25:11,12], Daniel se dispôs a orar a Deus pelo regresso do seu povo [vv.3-19], quando teve como resposta imediata a revelação das Setenta Semanas proféticas. [vv. 24-27]. Fazem-se necessárias algumas considerações, antes de analisarmos os objetivos e cumprimento da profecia. Vejamos:
a) Setenta Semanas de Anos: A palavra hebraica usada por Daniel para Semana é shavua, que significa literalmente “um sete”, tanto se refere a uma semana de dias [sete dias], [Gn. 29:28] ou uma semana de anos [sete anos], como as semanas do jubileu [cf. Lv. 25:8]. Logo, as Setentas Semanas somam-se setenta vezes sete anos, a saber, 490 anos. 
b) A Relação: As Setenta Semanas de anos estão relacionadas a Israel e não à Igreja.  O v. 24 deixa claro que ela abarcaria o povo (Israel) e a santa cidade (Jerusalém).
c) Os Propósitos: O v.24 afirma que as Setentas Semanas estão “determinadas”, ou seja, estabelecido como ordem, decidido etc. O mesmo texto mostra que elas teriam um propósito definindo. As traduções portuguesas usam a preposição “para”, indicando a intenção e os objetivos das Semanas Proféticas, que apontam para a sêxtupla ação do Messias antes da instauração do seu Reino na Terra, como ápice da profecia.  
1º. “Extinguir a transgressão
2º. “Dar fim aos pecados
3º.  Expiar a iniquidade
Observação: Os primeiros três objetivos se referem à extensão do sacrifício expiatório de Cristo ao povo de Israel, ou seja, sua restauração espiritual, quando o pecado do povo será erradicado. Isso só ocorrerá no final da Última Semana [Zc. 12:10; Rm. 11:26]. 
4º. “Trazer a justiça eterna”: Refere-se à implantação de um governo de Justiça Eterna que terá inicio logo que a 70ª Semana se encerrar, com a entrada do Milênio [Is. 32:1; Jr. 31:31-34]. Nesse tempo o “mistério da injustiça” será banido definitivamente [2 Ts. 2:7]. 
5º. “Selar a visão e a profecia”. Ou seja, o cumprimento pleno das profecias relacionadas ao povo santo. [At. 3:1-21]. Aponta para o Milênio, quando a terra se encherá do conhecimento do Senhor. [Is. 11:9]
6º. “Ungir os Santo dos Santos”. Alguns interpretam como a proclamação de Jesus como Rei, outros preferem a interpretação de que se trata da purificação do templo e da cidade de Jerusalém, profanados pelo Desolador, o Anticristo [2 Ts. 2:4], visto que o “santo dos santos” nunca se refere a pessoas. Essa interpretação é mais razoável.  
1.2 As Três Seções das Setenta Semanas: A exposição angelical demonstra que as Semanas proféticas estariam divididas em três sessões propositais, a saber: Sete Semanas, correspondente a 49 anos; Sessenta e Duas Semanas, equivalentes a 434 anos, e, Uma Semana, ou seja, 7 anos. Cada uma destas Seções traz consigo algumas particularidades, envolvendo o Povo e a Cidade Santa, como postos no 1º e 2º tópicos.  
1.3 Um Intervalo de Tempo: Sessenta e Nove Semanas Proféticas já se cumpriram, restando apenas a Última.  Entre a 69ª e 70ª Semana, no entanto, existe um intervalo de tempo que já ultrapassa 2.000 anos; um hiato na História, providencialmente estabelecido, com objetivos bem delineados como veremos adiante.
2. AS SETE SEMANAS E AS SESSENTA E DUAS SEMANAS PROFÉTICAS

2.1 As Sete Semanas: O primeiro bloco de Sete Semanas ou 49 anos está associado ao início da restauração do povo, com o retorno do exílio para se e reedificar o Templo e restaurar Jerusalém. A explicação de Gabriel aponta para início da contagem das Semanas: “Desde a saída da ordem para restaurar e edificar Jerusalém... sete semanas...” [v.25]. Muitos estudiosos das Escrituras estão de acordo que a profecia aponta para o decreto baixado por Artaxerxes Longímano em 445 a.C. [cf. Ne 2]. As muitas oposições encontradas no contexto da edificação do templo, dos muros e da cidade, narradas por Neemias e Esdras e pela História judaica, encaixam-se perfeitamente na profecia de Daniel: “as ruas e as tranqueiras se reedificarão, mas em tempos angustiosos.” [v.25]. As Sete Semanas se encerrariam, então, em 396 a.C.
2.2 As Sessenta e Duas Semanas: A segunda seção de Semanas, correspondente a 434 anos, inicia-se, logo após o primeiro bloco, Nota-se que a profecia diz: “... desde a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém, até ao Messias SETE SEMANAS e SESSENTA E DUAS SEMANAS...” [v.25, grifo nosso]. As 69 semanas [7+62] somam 483 anos, o que somando 445 a.C., o ano do início da contagem,  aos 483 anos das 69 Semanas, levaria  o final  para o ano 33 d.C. No entanto, como o calendário de Dionysio tem um erro de cerca de 4 anos, isso retroage ao ano 29 d.C., o que, historicamente, remota ao ano da morte de Jesus. Muitos estudiosos concordam que a 69ª se cumpriu na entrada triunfal de Cristo em Jerusalém. [ ]. Neste particular, a Seção de 62 Semanas abrange os anos finais do Império Medo-persa, [331 a.C.] de todo o Império Grego [331 a.C. a 168 a.C.] e os primeiros duzentos anos do Império Romano, no qual se deu o primeiro advento do Messias.    
2.3 O Final das Sessentas e Nove Semanas: Dois eventos marcantes testemunhariam o final da 69ª [7+62] conforme o v.26 da profecia de Daniel: “depois das sessentas e duas semanas...”
a) “... será tirado o Messias e não será mais”: O primeiro Príncipe, a saber, o Messias, seria tirado. A profecia aponta para a crucificação de Cristo no fim da 69ª Semana, conforme a predição de Isaías [Is. 53:8]. 
b) “... e o povo do príncipe, que há de vir, destruirá a cidade e o santuário: A profecia fala de um segundo príncipe - o Anticristo. No entanto, está dito que “o povo do príncipe” destruiria a cidade. Isso se refere à destruição de Jerusalém e do Templo pelas legiões romanas no ano 70 d.C. [Cp. Mt. 24:2; Lc. 21:20,24].
c) “... o povo do príncipe, que há de vir...” observe que a profecia fala do “príncipe” como aquele que haveria de vir, fazendo-nos entender que a ação do “povo do príncipe” e a do “príncipe”, propriamente dito, ocorreria em ocasiões distintas: a primeira [destruição da cidade e do templo] se cumpriu logo após o final da 69ª, ainda na Era Apostólica e, a segunda [a profanação do templo] será futurista, ou seja, ocorrerá na Última Semana Profética [cp. 2 Ts. 2:4].  

3. A ÚLTIMA SEMANA PROFÉTICA

3.1 O Intervalo: Sabe-se que já se cumpriram 69 Semanas, sendo assim só resta uma. Portanto, a terceira seção [uma semana] não se intercala à segunda [sessenta e duas semanas] como esta à primeira [sete semanas]. Há uma pausa no relógio profético, um Hiato ou Intervalo entre a Penúltima e Última Semana, que vai do Primeiro ao segundo Advento de Cristo, chamado de Dispensação da Igreja, quando se desvenda o mistério de Cristo [Ef 5:32].  Esse Hiato se dá dentro do “Tempo dos Gentios, que muitos exegetas entendem como o período em que Jerusalém estaria sob o domínio dos gentios, iniciado com o cativeiro babilônico até ao Final dos Tempos, expresso no sonho da Estátua [Dn. 2:31-36] e entendido nas palavras de Jesus: “... e Jerusalém será pisada pelos gentios, até que os tempos dos gentios se completem [Lc 21.24 ACF]. Logo, parece prudente afirmar que o Intervalo entre a 69ª e 70ª Semana  é  o tempo que Deus, na sua infinita graça, concedeu aos gentios a oportunidade de desfrutar da bênção de Abraão [Gl. 3:14], por isso Paulo o chama de  plenitude do tempo dos gentios” [Rm. 11:25, grifo nosso]. 
3.2 Os Últimos Sete Anos Proféticos: A Última Semana Profética terá Início com o Arrebatamento da Igreja e se findará com a Vinda de Jesus em Glória, um período de sete anos que, na Terra acontecerá a Grande Tribulação. Temas analisados nas próximas Aulas. As ocorrências neste tempo terá como figura central o “príncipe que há de vir”, que conforme o v. 27 isso terá três momentos diferentes:
a) O Acordo no Início da Semana: No início do seu governo, o Anticristo fará um acordo [uma espécie de tratado de paz], com muitos, por Sete Anos [uma semana]. Período em que será aclamado como o Messias por Israel e ganhará a aceitação do Mundo todo [Jo. 5:43].  É desse período que João fala dele como o cavaleiro do cavalo branco que “cavalgava como vencedor determinado a vencer”. [Ap. 6:2 NVI].
b) O Rompimento do Pacto na Metade da Semana: Passados três anos e meio [a metade da semana], o Anticristo dará evidências de que é um impostor. Ocorrerá o sacrilégio ou a profanação do templo, quando o príncipe mudará as leis de culto, atitude que Gabriel descreve como: “... nas asas da abominação virá o desolador.” [v.27]. Neste tempo o Anticristo reivindicará para si as prerrogativas do próprio Deus [2 Ts. 2:4] e, certamente, Israel se desvinculará da aliança [cp. Ap. 12:1,2]. Indignado, o Anticristo começará uma perseguição sem medida ao povo Santo. Instalar-se-á então, a “Angústia de Jacó”. [Jr. 30:7], o pior de todos os sofrimentos que Israel já viveu durante sua história [Cp. Dn. 12:1].
c) A Derrota no Final da Semana: A profecia prevê que “... o que está determinado será derramado sobre o assolador”. Sua ação sanguinária e diabólica só durará três anos e meio [a segunda metade da semana profética]. Seu governo, que está prefigurado nos dedos de ferro misturado com barro, do sonho de Nabucodonosor, será destruído com a Revelação Pessoal de Jesus Cristo [2 Ts. 2:8], a “pedra jogada sem mão” de Daniel 2:34. – Findar-se-á o Tempo dos Gentios, e os todos os reinos do mundo serão do Senhor Jesus [Ap. 11:15; Dn. 2:44;7:13,14
3.3 A Metade da Semana: Vimos que uma Semana Profética corresponde a sete anos, logo a “Metade da Semana” corresponde a três anos e meio. A segunda metade da Semana se define como os piores dias de todos os tempos, nos quais a Nação de Israel passará pelo batismo de fogo [Zc. 13:9]. Se aquele período fosse mais longo, ninguém conseguiria suportar [Mt. 24:22.]. Esses três anos e meio, ou “metade da Semana”, aparecem com outras nomenclaturas na profecia bíblica, a saber: “tempo, tempos e metade de um tempo” [Dn.7 :25; Ap. 12:14 ]; mil duzentos e sessenta dias [Ap.11:3;12:6] e quarenta e dois meses [Ap. 11: 2; 13:5]. Referências a Grande Tribulação, propriamente dita.


CONCLUSÃO

As Setenta Semanas Proféticas é a demonstração dos cuidados de Deus pela Nação e Povo Santo, que apesar de viverem nas mãos dos gentios, por centenas de anos, serão resgatados no Fim dos Tempos: Jerusalém será a Nação Mundial de onde sairá a Lei do Senhor e Israel será restaurado, nacional e espiritualmente, para sempre. Esta nobilíssima Profecia, é ainda, a prova de que todos os domínios e poderes debaixo dos Céus são impotentes e efêmeros e, finalmente, que o amor e poder de Deus sempre triunfarão.