A DOUTRINA BÍBLICA DA MORTE
TEXTO
BASE: Ec. 9:1-6,10
INTRODUÇÃO
É
impossível entendemos plenamente a Escatologia Bíblica sem o entendimento da
Doutrina da Morte, do Estado Intermediário e da Ressurreição dos Mortos, bem
como a crença na imortalidade da alma, pois estes elementos estão diretamente
ligados a todos os eventos escatológicos.
O homem
foi criado com uma constituição que não se aniquila com a morte física, muito
embora, como pena do pecado, sofra as consequências da morte espiritual e
eterna. Esse elemento, a saber, a alma - que
é imorrível do ponto de vista natural - sobrevive fora do corpo,
conscientemente, até que ocorra a ressureição do corpo, para a vida eterna ou
para condenação.
Não
obstante, a morte, em todas as instâncias, esteja associada à separação, com Cristo temos a garantia
de um reencontro, seja dos elementos do ser total do homem, com a ressurreição escatológica ou do
restabelecimento da comunhão com Deus, resultado direto da morte de Cristo. Por
isso a morte não tem poder condenatório sobre aqueles aceitaram a Vida, nem
causa pavor como ocorre com os ímpios.
1.
A IMORTALIDADE DA ALMA
1.1 A Doutrina
Herética da Morte da Alma: Ao
contrário do que nós pentecostais cremos que a alma é imortal e que haverá castigo
e gozo eternos, existem algumas doutrinas que defendem a aniquilação da alma, após a morte do corpo, ao interpretarem,
equivocadamente, textos como Jó 3:13-19; Sl. 6:5; Ec. 9:5 etc. e aqueles que
usam a palavra alma [hb. hephesh; gr.
psychê] como um elemento mortal. [Ez. 18:4,20; Mt.10:28]. A
Doutrina Aniquilacionista defende que após a morte física, o indivíduo
entra no “sono da alma” num estado de
inconsciência; no final dos tempos, os justos ressuscitarão para a vida eterna
e os ímpios reviverão para serem julgados e em seguida irem ao inferno onde o corpo e a alma serão aniquilados para
sempre, ou seja, não mais existirão. Em suma, para o Aniquilacionismo ou
Mortalismo Cristão a alma morre juntamente com o corpo mediante a morte física,
provocando a cessação total da existência humana.
1.2 A
Alma Como Constituição Imaterial e Imorredoura: Quando falamos da imortalidade da alma,
referimo-nos ao homem interior, que é a junção da alma e do espírito. Pois, o
homem exterior se corrompe com a morte, mas, o homem interior [alma-espírito, como elementos invisíveis, imateriais e indissolúveis] transcende
ao final da vida física, ou seja, não se sucumbe na sepultura com a morte do
corpo. [Ec. 12:7; Lc. 23:46; At. 7:59].]. A Bíblia fala da alma como uma
entidade distinta e consciente e, que por sua vez, sobrevive à morte do corpo
[Is. 26:9; Lc. 1:16,47; 16:23,24,27,28; Ap. 6:9-11;7:9,10].
1.3 A
Existência da Alma Fora do Corpo: Existem crenças populares de almas errantes [fantasmas] que vivem vagando pela terra, que por sua vez vêm de
ideia da mitologia portuguesa da “alma
penada”. Todavia, isso não passa de invencionices humanas. Quando uma
pessoa morre, sua alma sai da dimensão física da “terra dos viventes” [Sl. 52:5] e entra numa dimensão metafísica e
espiritual, a saber, o “mundo dos mortos”
[Ec. 9:3]. Não há liberdade para a alma sair de lá, naturalmente, e voltar à
dinâmica da vida [Cp. 2 Sm. 12:21-23; Lc. 16:26]. Isso só
ocorrerá por ocasião da ressurreição, quando as três entidades humanas se
reunirão, como veremos na Aula 4.
2.
A MORTE NA ESFERA HUMANA E ESCATOLÓGICA
2.1
O que é a Morte: Definir morte é uma tarefa difícil, pois,
cada ciência ou fonte de conhecimento tem uma definição particular, seja as
Ciências Biológicas, a Medicina Legal, a Filosofia ou a Teologia. É
interessante dizer, portanto, que a
Morte não é: a “extinção absoluta”,
como afirma o materialismo ; não é o final do ciclo vital do corpo para a alma
reencarnar noutra pessoa, como diz o espiritismo; ou, a personificação de um
esqueleto com túnica preta, um espírito mal ou outro ser iconográfico como se
veem nas culturas e mitologias antigas. Mas, o que é a Morte?
a. Conceituação Biológica: Biologicamente falando, a Morte é a cessação
total da atividade elétrica do cérebro, ocasionando a falência geral do
organismo, ou seja, é o fenômeno natural determinado pela disfunção geral da
consciência e das funções orgânicas; é o estado de falecimento, demarcado com o
final da vida física.
b.
Conceituação
Teológica: a Morte
foi um decreto divino, que entrou em evidência a partir da desobediência de
Adão (cf. Rm. 5:12; 15:21). Deus não é o autor da morte, ele é o oposto a ela;
Dele é a essência da vida (Gn. 2:7; Jó. 33:4; Cl. 3:3 etc.). A morte é
consequência do pecado, e o pecado é instrumento do Diabo. Logo, a morte é um
projeto do diabo, por isso ela está no elenco dos inimigos de Deus (1 Co.
15.26;At. 2.24; Ap. 20.14). Em suma, a Morte é a consequência do pecado
original, impetrada como decreto divino.
2.2 O A
Realidade da Morte: A Morte
não é um ato da injustiça de Deus que, aliás, não criou o homem para morrer,
embora tivesse uma natureza mortal. Se ele não tivesse pecado, também não
morreria. [Gn. 2:17], Porém, ao transgredir, ele recebeu o salário do pecado –
a morte [Rm. 6:23]. Assim, todos os
homens receberam a penalidade da morte, o pior de todos os pavores humanos.
[Rm. 5:12]. É a triste realidade que ninguém pode fugir [Hb. 9:27; Rm. 5:12:], “porque os vivos sabem que hão de morrer...”
[Ec. 9:5A]. Apesar da expectativa de vida está aumentando a cada dia, a
existência humana é efêmera [Ec. 6:6; Tg. 4:14], e é assertiva as palavras de
Paulo: “comamos e bebamos, que amanhã
morreremos” [1 Co. 15:32]. Somos convidados a lembrar de Deus antes deste
terrível dia [Ec. 12:1-7], porque com Cristo passamos a ter outra concepção da
realidade da morte. [Sl. 116:15; 1 Ts. 4:1;Ap. 14:13;], pois como morremos em
Adão, vivemos em Cristo. [1 Co. 15:22]. Assim, para os salvos - mesmo estando
sujeitos a morrer - a morte não mais se aplica como sentença condenatória [2
Tm. 1:10; cf. Rm. 8:2], mas, como um portal que se abre para “estamos com Cristo” [Fp. 1:21-23; cf. 2
Co. 5:8]. A aceitar Jesus, recebemos a vida eterna - avida de Deus que não se
afeta com a morte do corpo [Jo 5:24] e a garantia da imortalidade – a
glorificação do corpo [1 Co. 15:54].
2.3 Considerações
Especiais: No escopo da
Doutrina Bíblica da Morte existem muitas questões a serem analisadas. São
ponderações que precisamos pontuar, a fim de evitarmos contradições e heresias.
Vejamos algumas:
a.
O Dia
Marcado para Morrer:
Não existe na Bíblia fundamento de que todo mundo tem o dia de morrer marcado,
esse é pensamento da filosofia determinista. Ao falar que “há tempo de morrer” [Ec.3:2], Salomão não se refere a um tempo
marcado para morte, e sim, ao tempo [hb. ‘etz , ocasião] como o
“ciclo comum da vida”
b.
A
Morte como uma Lei Natural: Todos que nasceram de Adão sabem que um dia vão morrer. Há uma lei natural [não arbitrária] estabelecida
pelo Criador para todos viverem o seu ciclo existencial [cf. 1 Cr. 17:11]
porém, há uma responsabilidade humana para a preservação e manutenção da vida. [cf. Dt. 30:19]. A morte pode ser
antecipada, pela impiedade, pela imprudência humana e por questões circunstanciais [Ec. 7:17; Jó
22:16; Pv. 10:27; 2 Rs. 4:40,41; Lc. 13:4] e pode ser retardada pela obediência a Palavra de Deus e atitudes cautelosas [Êx. 20:12; Dt. 6:2; Pv. 2:16; 3:2,16;
9:11;13:14; Ec. 8:13; 1 Rs. 3:14]. Se Deus quiser ele livra o homem da morte
[Sl. Sl.68:20; Pv. 14:27], mas, isso está a mercê de Sua soberana vontade, A
Bíblia dia que ele livrou a Pedro da morte, [At. 12:6,7] mas permitiu que seu
amigo Tiago fosse morto ao fio de espada. [v.2].
c.
Entendendo
o Ato de Deus Matar o Homem: O propósito amoroso de Deus é de que o homem tenha vida [Dt. 30:19],
por isso declara que não tem prazer na morte do ímpio [Ez. 18:23]. No entanto,
quando o homem rejeita a Deus, ultrapassando os limites de Sua bondade e
tolerância, como Saul [1 Cr. 13:14], e, em casos específicos, quando ignoram
Seus princípios e Sua autoridade, como Nadabe e Abiú [Nm. 26:61] pode ser privado do dom da vida ou “entregues a morte”. Neste particular, a afirmação de Deus “Eu mato” [Dt. 32:39], refere-se a retribuição da justiça divina, como uma
sentença de morte ao desprezo humano. [Cp. Sl. 89:14A]. Isso pode ser
exemplificado, ainda, com Er e seu irmão Onã, os quais foram mortos por Deus
por serem maus [Gn. 38:7,10]; com o rei Jeorão que foi ferido mortalmente pelos
seus pecados [ 2 Cr. 21:18,19] e com muitos outros que morreram, ao atraírem
para si a ira de Deus [Cp. Sl.78:31]. É assertiva a declaração de que Deus é o Autor
da vida, por isso Ele pode tirar e pode dá [1 Sm. 2:6], sem que se configure
uma ação de injustiça, ainda que isso pareça um “ato estranho” [Cf. Is. 28:21] e difícil de aceitar como a morte de
Uzá [1 Cr. 13:9,10].
3.
AS TRÊS DIMENSÕES DA MORTE
3.1 Morte
Física: Diz respeito à
separação da alma-espírito do corpo, quando o organismo do indivíduo entra em
falência generalizada [Jó 34:14,15]. O corpo vai para a sepultura, onde será
decomposto [Gn. 3:19; Sl. 146:4; Ec. 3:20] ficando num estado de inatividade [Ec.
9:10] e a alma-espírito, que compõe a
parte imorredoura, indissociável e
invisível é introduzido no “mundo dos
mortos” e fica no domínio de Deus [Ec. 12:7; Lc. 16:22,23]. Todos os homens
estão sujeitos à morte física, embora alguns, como Enoque e Elias não
passaram por ela [Hb.11:5; 2 Rs. 2:11]. Até Jesus, como homem, experimentou a
dor da morte [Cf. Rm. 5:6; Hb. 2:9], porém, ao morrer “aniquilou o que tinha império da morte, isto é, o diabo” [Hb.
2:14].
3.2 Morte
Espiritual: Refere-se ao estado
de separação espiritual do homem
para com de Deus, como consequência do pecado. [cf. Ef. 2:1,5]. É o tipo de
morte que o homem experimenta mesmo em vida. [Lc. 9:60] A morte espiritual se
aplica tanto a quem não nasceu de novo ou a quem, mesmo depois de salvo, passou
a viver sob o domínio do pecado. [Ap. 3:1; 1 Tm. 5:6; Tg. 1:15]. Só a graça de
Cristo efetua a “ressureição espiritual”,
seja pela regeneração do pecador [Rm. 8:2] ou pela restauração da comunhão de
uma pessoa já crente [Tg. 5:20].
3.3 Morte
Eterna: Também chamada de segunda morte [Ap. 2:11; 21:8] ou morte escatológica, a morte eterna é a separação permanente do homem para com
Deus. É o destino final de todos aqueles que não aceitaram a Jesus, após
passarem pela declaração condenatória do Juízo Final, quando no Lago de Fogo
estarão no castigo e tormento eternos.
[Ap. 20:14,15]. Não há como “ressuscitar” da morte eterna. Quem passar
para a eternidade sem Cristo, mesmo que tenha uma existência consciente, esse é um estado de morte e, nunca de vida
eterna, pois esta é um privilégio único e exclusivo concedido aos que foram
salvos por meio de Cristo. [Ap. 20:6; 1 Jo. 5:11].
CONCLUSÃO
Para o crente a Doutrina da Morte não causa
pavor nem desenganos, pois, a Bíblia diz que para Deus a morte dos seus santos
é preciosa [Sl. 116:15] e que aqueles que morrem no Senhor são bem-aventurados
[Ap. 14:13]. Essas afirmações se concentram na certeza da ressurreição e da
eternidade ao lado do Senhor [Fp. 4:13-16]. Era esta certeza que levava o
apóstolo Paulo a não temer a morte, ao contrário, tinha desejo de partir [não o desejo desiludido da vida], mas, o
anseio de transpor os umbrais da morte e está com Cristo. [Fp. 1:23], pois só
pra o salvo o “viver é Cristo e o morrer
é ganho” [v.21].
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