Poucas coisas
são tão difíceis de definir, convincentemente, como a Morte. Isto por que as
definições se particularizam, ou seja, as ciências biológicas, a medicina
legal, a filosofia e as diversas religiões têm sua resposta peculiar.
Tentaremos dispor um diálogo entre as ciências e a teologia para criar ou
reconstruir algumas definições satisfatórias Os materialistas definem morte como
uma “extinção absoluta”, ou seja, “morreu acabou-se” na declaração popular;
para os espíritas ela é o final do ciclo individual do corpo de uma pessoa,
quando a alma reencarnará posteriormente em outro corpo que cumprirá, de mesma
forma, o seu ciclo; para a medicina legal a morte é a cessação da atividade
elétrica do cérebro, ocasionando a falência geral do organismo. Mas
teologicamente, o que podemos chamar de morte? Afirmamos neste preâmbulo que a
ela não é um ser pessoal. Diremos com mais detalhes, adiante.
A palavra morte nos originais (Hb.
Mãwet; Gr. Thanatos) é usada mais de trezentas vezes na Bíblia. Aparece na
maioria dos casos como o final da vida física; como antônimo à vida e ao estado de separação do homem de Deus, no
aspecto espiritual.
A princípio se
faz necessário entender o porquê de a morte ter entrado no mundo. A partir
desta compreensão buscaremos construir uma definição para ela. Na Bíblia, a
primeira referência à morte se encontra em Gn. 3.3, que diz “... do fruto da
árvore que está no meio do jardim, disse Deus: não comereis dele, nem tocareis,
para que não morrais” (grifo nosso). Observa-se que o projeto original de Deus,
não incluía a morte do homem, mas ela seria uma realidade, caso este
desobedecesse ao padrão divino. O arqui-inimigo do Criador entra em cena e diz,
através da serpente: “certamente não morrereis” (v.4). O homem, portanto,
estava diante de duas correntes, uma moral e outra ideológica. A primeira era
um compromisso com um princípio divino: “não tocar nem comer o fruto da árvore
que estava no meio do jardim, sob a penalidade de morrer”, a segunda, um
ideário com distorções da verdade imbuída no princípio divino: “a verdade, não
é bem assim, vocês não vão morrer; O que Deus não quer é que vocês sejam iguais
a ele. É exatamente isso que acontece se vocês comerem o fruto.” (paráfrase dos
v.4).
Bem, diante do que foi proposto por
Deus e pelo Diabo, o primeiro casal, ao ser tentado, aderiu o ideário do
inimigo: Pecou, porque erraram o alvo, ao desobedecer ao princípio divino. Aqui
cabe a afirmação paulina: “porque o salário do pecado é a morte” (Rm. 6.23).
Sim, não havia como escapar, Deus havia os avisado que morreriam se
desobedecessem.
Neste contexto, sintetizamos que a
morte foi um decreto divino, que entrou em evidência a partir da desobediência
de Adão (cf.Rm. 5.12; 15.21). Deus não é o autor da morte, ele é o oposto a
ela. Deus é autor e a essência da vida (Gn. 2.7; Jó. 33.4; Cl. 3.3 etc.). A
morte é consequência do pecado, e o pecado é instrumento do Diabo. Logo, a
morte é um projeto do diabo, por isso ela está no elenco dos inimigos de Deus
(1 Co. 15.26;At. 2.24; Ap. 20.14). O SENHOR decretou a morte como consequência
do pecado, assim como o legislador determina a penalidade ao transgressor. Se o
homem não transgredir, não é penalizado, se Adão não pecasse, não morreria.
Aqui há três elementos em evidência: a jurisprudência de Deus, o livre-arbítrio
do Homem e a tentação do Diabo.
Então vamos construir os primeiros
conceitos teológicos de morte:
·
Morte é um decreto divino como consequência à desobediência humana.
·
Morte é a consequência do pecado original.
Voltamos então
ao cenário edêmico. Adão desobedeceu ao princípio moral estabelecido por Deus,
porque deu ouvido ao conjunto de ideias exposto pelo diabo. E aí, ele morreu
naquele momento, como Deus havia dito? A resposta unânime dos teólogos é que
Adão morreu, sim, mas no plano espiritual. Ou seja, a morte tem três dimensões,
física, espiritual e eterna, logo, Adão sofreu a morte espiritual naquele
momento e só depois, logicamente, veio a morrer fisicamente (Gn. 5.5)
Minha
explicação é aparentemente ingênua, mas afirmo que Adão morreu (começou a
morrer) naquele mesmo dia. A Morte Original (impetrada a Adão) é um fenômeno de
uma síndrome de disfunção múltipla dos órgãos, contínua e gradativa. Ou seja,
com o pecado, o relógio biológico de Adão entrou em contagem regressiva até
zerar. Adão começou a morrer, no dia em que pecou. O aguilhão da morte esteve em seu corpo, a
partir daquele momento, alterando o princípio da vida. Em suma, o que a
chamamos de morte, seria o marco zero do desfalecimento humano. Por isso um dos
sinônimos de morrer é falecer.
Podemos então
construir outros conceitos de morte, a partir de então:
· Morte é o estado de falecimento, demarcado com o final da vida física.
· Morte é o fenômeno natural determinado pela disfunção geral da
consciência e das funções orgânicas.
Este é o conceito de morte mais compreensivo
aos seres humanos. Morre-se quando se perde a vida, ou seja, quando há uma
parada cardíaca e/ou respiratória irreversível. Muito embora científica, é uma
definição simples de se entender. Muitas passagens bíblicas inferem esta
verdade. (cf. Gn. 5.27; Ec. 3.2; Mt. 9.18 etc)
Para
compreender o fenômeno da morte, com mais detalhes, faz-se necessário entender
o homem na sua constituição total: corpo alma e espírito. O ser humano
divide-se em duas áreas – o homem físico ou biológico, formado pelo corpo, e o
homem espiritual ou interior, formado pelo espírito e pela alma. (Cf. II Co
4.16; I Ts. 5.23)
A morte física,
nos parâmetros das duas últimas definições é uma realidade apenas para o corpo.
O homem interior (espirito-alma) sobrevive desencarnado à morte física. Ocorre
um desligamento da cadeia que une os elementos humanos, exemplo: O corpo está
ligado à alma através do cérebro e a alma está ligada ao espírito através da
consciência. Com a morte física, o cérebro entra em falência e se quebra o
vínculo entre a alma e o corpo, (cp. Ec. 12.6), portanto a alma continua ligada
ao espírito pela consciência, podendo sobreviver fora do corpo num plano
espiritual controlado por Deus. Salomão diz: “E o pó volte à terra, como o era,
e o espírito volte a Deus, que o deu” (Ec. 12.7) Voltar a Deus, sugere, voltar
ar ao controle de Deus.
Considerando os
três elementos que compõem o homem, a saber, espírito, alma e corpo, afirmamos
que o pecado acarretou morte nestas três instâncias. Neste particular,
define-se morte em três modalidades: física, espiritual e eterna. A definição
destes três tipos de morte aponta “separação”, como a palavra mestra. Logo:
Morte física é
a separação do homem exterior (corpo) do homem interior (espírito-alma). O
espírito e a alma sobrevivem à morte física, permanecendo em plena consciência
num lugar intermediário até a ressurreição (Ap. 6.9,10; Lc. 16.19-31) enquanto
o corpo, inconsciente, decompõe-se até voltar ao seu estado de pó. (cf. Gn
3.19; 35.18; Jó. 34.14,15; Sl. 146.4; Ec. 9.5. Na ressurreição acontece uma
reunião dos três elementos, sejam os justos ou os ímpios (Dn.12.1; Jo. 5.28,29;
At. 24.15; I Co. 15. 52-56)
Morte
Espiritual é o estado em que o homem natural se encontra diante de Deus. É a
separação espiritual da comunhão com Ele, cuja ressurreição só acontece quando
o pecador recebe Cristo como se Salvador. (Ef. 2.1,5; Cl. 2.13) A morte
espiritual se projeta no homem interior e não no corpo como a morte física.
Morte Eterna é
o estado de eterna separação entre o homem e Deus, conferido a todos os que
rejeitarem o plano da salvação. É a chamada segunda morte (Ap. 20.14) e eterna
perdição (2 Ts. 1.9). É o tipo de morte que abarcará o homem total, por isso só
será impetrada após a ressurreição e juízo final.
Aqui se
constroem outras definições de cunho teológico de Morte:
· Morte é o estado de separação entre o corpo e o espírito-alma. (física)
· Morte é o estado de separação espiritual, temporária ou definitiva, do homem
para com Deus (espiritual)
É importante
afirmar que em nenhuma definição de Morte pode se construir a ideia de “não
existência”, pois o indivíduo não se extingue com a Morte como pensam os
materialistas. Ele continua vivendo num estado de pura consciência num lugar
intermediário entre a morte e a ressurreição. Os justos descansam no Paraíso e
os ímpios vivem o início de sofrimento no Hades (Cf. Lc. 16.19-31; Lc. 24.43;
Ap. 6.9,10; I Co 121-4).
Outro fator
importante é o eufemismo bíblico no tratamento da morte. Várias passagens chamam
o falecimento de “dormir” (cf. I Rs. 2.10; At.7.59,60; 11.11; Mt. 27.52,53;
etc. ), que nada tem a ver com o sono do
espírito pregado por alguns cristãos, mas ao estado de descanso que o corpo
(sem consciência) do salvo terá até o dia que Cristo dará a voz de comando os
chamando à vida (Jo. 5.28,29). Outra expressão usada por Paulo para indicar
morte/sepultamento é “semear”, (I Co. 15.42-44) uma alusão à pré-ressurreição,
como algo que é plantado para nascer. Para o crente a morte antecipa a
glorificação do corpo na ressurreição. (I Co. 15.53-55). Logo, a expressão
eufêmica e popular sobre a morte, “passou desta para a melhor” é uma construção
apenas para aqueles que acreditam que morrer é lucro ( Fp. 1.21)
É possível,
então, dá uma definição figurada e puramente cristã da Morte neste sentido:
· Morte é a passagem da vida física e terrena para a vida num plano
espiritual e eterno.
Já que
construímos alguns conceitos para a Morte, então voltamos à ideia de sua
impessoalidade. Sim, perceba que nas definições ela é traduzida como um
decreto, uma consequência, um estado, um fenômeno... Nunca um ser pessoal. A
personificação da Morte é o reflexo de uma cultura que sempre se valeu da
iconografia e elementos mitológicos para definir ideias, seres abstratos e até
sentimentos – a cultura do mundo antigo.
A representação da Morte para os gregos era Tânatos; para os romanos, Libitina; para os
ocidentais, o esqueleto com túnica e
capuz preto e foice na mão; para os norte-americanos o Grim Reaper ... A Bíblia, também, se utiliza
desta forma de linguagem visual para personificar a Morte (cf. Ap. 6.8). Em Êx.
12.23, a praga da morte dos primogênitos foi efetuada por um destruidor que
lembra o anjo da morte, o Grim Reaper e o ceifador do tarô, jogo de cartas francês.
O certo é que
estas personificações não definem que a Morte seja um ser pessoal. Muito
embora, ela seja chamada de inimigo (I Co 15.56) e que será vencida e
finalmente, lançada no inferno (Ap. 20.14), tais expressões figuram a vitória
completa de Cristo, quando eliminará, definitivamente, todo efeito do pecado de
Adão. A afirmação de que a Morte e o lugar dos mortos serão laçados no inferno
é a certeza de que o triunfo de Cristo garantirá à nova geração a certeza de
que estaremos livres das marcas do Diabo de uma vez por todas. O Império da
Morte de desfará quando todos os efeitos da ressurreição de Jesus se concluir na
redenção de todo o universo.
Cabe agora perguntar: como o
cristão deve lidar com a morte? Que postura ele deve assumir diante desta
realidade? A resposta deve começar pelo ensino de Paulo aos tessalonicenses:
“Não quero, porém, irmãos, que sejais ignorantes acerca dos que já dormem, para
que não vos entristeçais, como os demais, que não têm esperança.” ( I Ts.
4.13). Enlutar-se e ficar triste é normal, mas cair na tristeza desesperadora é
negócio “dos demais que não têm esperança”. Repousa no salvo a Gloriosa
Expectativa da vinda de Jesus, ocasião em que os “mortos em Cristo
ressuscitarão" e os vivos serão transformados à semelhança do corpo de
Jesus ( I Ts. 4.16,17; 1 Co 15.52; Fp.3,20). Glória a Deus!
O salvo não dever temer a morte, em
contrapartida não deve pedir pra morrer e nem tirar a vida, muito embora, às
vezes, o desejo de está com o Senhor seja visível (Cf. Fp. 1.23). A vida é uma
dádiva do Criador, e é preciso ser vivida com alegria, gratidão e
responsabilidade. Portanto, quando a morte chegar para nós e para os nossos
entes queridos salvos, devemos encontrar motivos para louvar ao SENHOR, pois a Bíblia
diz que “preciosa é à vista do SENHOR a morte dos seus santos” ( Sl. 116.15).
Sendo assim , tanto a vida como a morte são recursos que nos encaminham à
comunhão com Cristo, por isso devemos afirmar como o apóstolo da alegria:
“Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho” (Fp. 1.21). Amém.
Pb. Sérgio Geremias
Bel. Teologia
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PREFERÊNCIAS:
Dicionário Hebraico-Português
& Aramaico-Português. Petrópolis, RJ. Sinodal, 2001
GILBERTO, Antonio. O Calendário
da Profecia. Rio de Janeiro, CPAD, 1985.
Novo Testamento Interlinear,
Grego-Português, Barueri, SP. Sociedade
Bíblica do Brasil,2004
OLIVEIRA, Raimundo de. As Grandes
Doutrinas da Bíblia. Rio de Janeiro, CPAD, 1987
VINE, W.W. Dicionário Vine, Rio
de Janeiro, CPAD, 2003
WIKIPÉDIA, Enciclopédia Livre.
Morte. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Morte>
quem originou amote o pegado ou Deus ??
ResponderExcluirquem criou ele foi Deus ou pegado ??
se ele foi criada mim defina ela por favor ??
se ela entrou em ação com pegado ??
eu to fazendo estudo sobre isso peço q mim ajude
eu falo o seguinte q a morte ja existia antes de Adão peca quando ele pecou ele entrou em ação serto ou erado ??
A morte é um fenômeno - existe mas não foi criada. Não é um ser pessoal. Passou a existir como consequência do pecado. O pecado é do diabo, logo a morte é resultado do trabalho do diabo; Deus decretou como punição, caso o homem desobedecesse, mas Deus n]ao criou a morte; Ele é a vida e a fonte da vida, tudo que se opõe à vida não procede de Deus. Deus criou o homem para a vida, mas ele escolheu morrer.
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