AS SETENTA SEMANAS
PROFÉTICAS
TEXTO BASE: Daniel 9:20-27
INTRODUÇÃO
O capítulo 9 de Daniel é um dos mais
importantes do seu livro, seja do ponto de vista histórico, profético ou escatológico. O profeta entendeu pelos
livros, que os anos do cativeiro se findavam, então decidiu buscar a Deus em
oração, o que resultou na exposição misteriosa das Setenta Semanas Proféticas.
Estudar sobre fim dos tempos, excluindo
as Setenta Semanas de Daniel, é deixar
uma lacuna imensa no estudo da escatologia, sobretudo, no olhar à Nação de Israel como relógio profético de Deus. Por isso, faz-se necessário incluí-la no
bojo de estudos dos últimos dias.
Neste estudo analisaremos o significado, os propósitos e o cumprimento
das Setenta Semanas, mesmo sabendo que sessenta e nove delas já tenham se
cumprido. A última a se cumprir, representa os dias mais importantes de toda
História, um divisor de águas entre duas Eras significativas: A Dispensação da Igreja e o Reino Messiânico.
1. O SIGNIFICADO E OS
PROPÓSITOS DAS SETENTA SEMANAS PROFÉTICAS
1.1
Considerações Gerais: Depois da
descoberta de que os dias do cativeiro eram de setenta anos e que estes
já estavam no fim [Cp. Dn. 9:2; Jr. 25:11,12], Daniel se dispôs a orar a Deus pelo regresso do seu povo
[vv.3-19], quando teve como resposta imediata a revelação das Setenta Semanas proféticas. [vv. 24-27].
Fazem-se necessárias algumas considerações, antes de analisarmos os objetivos e
cumprimento da profecia. Vejamos:
a) Setenta
Semanas de Anos: A palavra
hebraica usada por Daniel para Semana é shavua,
que significa literalmente “um sete”,
tanto se refere a uma semana de dias [sete dias], [Gn. 29:28] ou uma semana de anos [sete anos], como as semanas do jubileu [cf. Lv. 25:8]. Logo, as
Setentas Semanas somam-se setenta vezes sete anos, a saber, 490 anos.
b) A Relação:
As Setenta Semanas de anos estão relacionadas a Israel e não à Igreja. O v. 24 deixa claro que ela abarcaria o povo
(Israel) e a santa cidade (Jerusalém).
c) Os
Propósitos: O v.24 afirma que
as Setentas Semanas estão “determinadas”,
ou seja, estabelecido como ordem, decidido etc. O mesmo texto mostra que
elas teriam um propósito definindo. As traduções portuguesas usam a preposição
“para”, indicando a intenção e os objetivos das Semanas
Proféticas, que apontam para a sêxtupla ação do Messias antes da instauração do
seu Reino na Terra, como ápice da profecia.
1º. “Extinguir a transgressão”
2º. “Dar fim aos pecados”
3º.
“Expiar a iniquidade”
Observação:
Os primeiros três objetivos se referem à extensão do sacrifício expiatório de
Cristo ao povo de Israel, ou seja, sua restauração
espiritual, quando o pecado do povo será erradicado. Isso só ocorrerá no final da Última Semana [Zc. 12:10; Rm.
11:26].
4º. “Trazer a justiça eterna”:
Refere-se
à implantação de um governo de Justiça Eterna que terá inicio logo que a 70ª Semana se encerrar, com a entrada
do Milênio [Is. 32:1; Jr. 31:31-34]. Nesse tempo o “mistério da injustiça” será banido definitivamente [2 Ts.
2:7].
5º. “Selar a visão e a profecia”.
Ou
seja, o cumprimento pleno das profecias relacionadas ao povo santo. [At.
3:1-21]. Aponta para o Milênio, quando a terra se encherá do conhecimento do
Senhor. [Is. 11:9]
6º. “Ungir os Santo dos Santos”.
Alguns
interpretam como a proclamação de Jesus como Rei, outros preferem a
interpretação de que se trata da purificação do templo e da cidade de
Jerusalém, profanados pelo Desolador, o
Anticristo [2 Ts. 2:4], visto que o “santo dos santos” nunca se refere a
pessoas. Essa interpretação é mais razoável.
1.2
As Três Seções das Setenta Semanas: A
exposição angelical demonstra que as
Semanas proféticas estariam divididas em três sessões propositais, a saber: Sete Semanas, correspondente a 49
anos; Sessenta e Duas Semanas,
equivalentes a 434 anos, e, Uma Semana, ou seja, 7 anos. Cada uma destas Seções
traz consigo algumas particularidades, envolvendo o Povo e a Cidade Santa, como
postos no 1º e 2º tópicos.
1.3
Um Intervalo de Tempo: Sessenta e Nove
Semanas Proféticas já se cumpriram, restando apenas a Última. Entre a 69ª e 70ª Semana, no entanto, existe um intervalo de tempo
que já ultrapassa 2.000 anos; um hiato na História, providencialmente
estabelecido, com objetivos bem delineados como veremos adiante.
2. AS SETE SEMANAS E AS
SESSENTA E DUAS SEMANAS PROFÉTICAS
2.1
As Sete Semanas: O primeiro bloco de
Sete Semanas ou 49 anos está associado ao início da restauração do povo, com o
retorno do exílio para se e reedificar
o Templo e restaurar Jerusalém. A explicação de Gabriel aponta para
início da contagem das Semanas: “Desde a
saída da ordem para restaurar e edificar Jerusalém... sete semanas...”
[v.25]. Muitos estudiosos das Escrituras estão de acordo que a profecia aponta
para o decreto baixado por Artaxerxes Longímano em 445 a.C. [cf. Ne 2]. As
muitas oposições encontradas no contexto da edificação do templo, dos muros e
da cidade, narradas por Neemias e Esdras e pela História judaica, encaixam-se
perfeitamente na profecia de Daniel: “as
ruas e as tranqueiras se reedificarão, mas em tempos angustiosos.” [v.25]. As
Sete Semanas se encerrariam, então, em 396 a.C.
2.2
As Sessenta e Duas Semanas: A
segunda seção de Semanas, correspondente a 434 anos, inicia-se, logo após o
primeiro bloco, Nota-se que a profecia diz: “...
desde a saída da ordem para
restaurar e para edificar Jerusalém, até
ao Messias SETE SEMANAS e SESSENTA E DUAS SEMANAS...” [v.25, grifo nosso].
As 69 semanas [7+62] somam 483 anos, o que somando 445 a.C., o ano do início da
contagem, aos 483 anos das 69 Semanas,
levaria o final para o ano 33 d.C. No entanto, como o
calendário de Dionysio tem um erro de cerca de 4 anos, isso retroage ao ano 29
d.C., o que, historicamente, remota ao ano da morte de Jesus. Muitos estudiosos
concordam que a 69ª se cumpriu na entrada triunfal de Cristo em
Jerusalém. [ ]. Neste particular, a Seção de 62 Semanas abrange os anos finais
do Império Medo-persa, [331 a.C.] de todo o Império Grego [331
a.C. a 168 a.C.]
e os primeiros duzentos anos do Império Romano, no qual se deu o primeiro
advento do Messias.
2.3 O
Final das Sessentas e Nove Semanas: Dois eventos marcantes testemunhariam o
final da 69ª [7+62] conforme o v.26
da profecia de Daniel: “depois das
sessentas e duas semanas...”
a) “...
será tirado o Messias e não será mais”: O primeiro Príncipe,
a saber, o Messias, seria tirado. A profecia aponta para a crucificação de
Cristo no fim da 69ª Semana, conforme a predição de
Isaías [Is. 53:8].
b) “... e
o povo do príncipe, que há de vir, destruirá a cidade e o santuário: A
profecia fala de um segundo príncipe -
o Anticristo. No entanto, está dito que “o
povo do príncipe” destruiria a cidade. Isso se refere à destruição de
Jerusalém e do Templo pelas legiões
romanas no ano 70 d.C. [Cp. Mt. 24:2; Lc. 21:20,24].
c) “... o
povo do príncipe, que há de vir...” observe que a profecia fala do “príncipe” como aquele que haveria de
vir, fazendo-nos entender que a ação do “povo
do príncipe” e a do “príncipe”,
propriamente dito, ocorreria em ocasiões distintas: a primeira [destruição da cidade e do templo] se
cumpriu logo após o final da 69ª, ainda na Era Apostólica e, a
segunda [a profanação do templo]
será futurista, ou seja, ocorrerá na Última Semana Profética [cp. 2 Ts.
2:4].
3. A ÚLTIMA SEMANA
PROFÉTICA
3.1
O Intervalo: Sabe-se que já se
cumpriram 69 Semanas, sendo assim só resta uma. Portanto, a terceira seção [uma semana] não se intercala à segunda [sessenta e duas semanas] como esta à
primeira [sete semanas]. Há uma pausa
no relógio profético, um Hiato ou Intervalo entre a Penúltima e Última
Semana, que vai do Primeiro ao segundo Advento de Cristo, chamado de Dispensação da Igreja, quando se
desvenda o mistério de Cristo [Ef
5:32]. Esse Hiato se dá dentro do “Tempo
dos Gentios, que muitos exegetas entendem como o período em que Jerusalém estaria sob o domínio dos gentios, iniciado
com o cativeiro babilônico até ao Final dos Tempos, expresso no sonho da
Estátua [Dn. 2:31-36] e entendido nas palavras de Jesus: “... e
Jerusalém será pisada pelos gentios, até que os tempos dos gentios se
completem” [Lc 21.24
ACF]. Logo, parece prudente afirmar que o Intervalo entre a 69ª e 70ª Semana é o
tempo que Deus, na sua infinita graça, concedeu aos gentios a oportunidade de
desfrutar da bênção de Abraão [Gl. 3:14], por isso Paulo o chama de “plenitude do tempo dos gentios” [Rm. 11:25, grifo nosso].
3.2
Os Últimos Sete Anos Proféticos: A
Última Semana Profética terá Início com o Arrebatamento da Igreja e se findará
com a Vinda de Jesus em Glória, um período de sete anos que, na Terra
acontecerá a Grande Tribulação. Temas analisados nas próximas Aulas. As ocorrências neste tempo terá como figura
central o “príncipe que há de vir”, que
conforme o v. 27 isso terá três momentos diferentes:
a) O
Acordo no Início da Semana: No início do seu governo, o Anticristo fará um acordo [uma espécie de tratado de paz], com
muitos, por Sete Anos [uma semana]. Período
em que será aclamado como o Messias por Israel e ganhará a aceitação do Mundo
todo [Jo.
5:43]. É desse período que João fala dele como o
cavaleiro do cavalo branco que “cavalgava
como vencedor determinado a vencer”. [Ap. 6:2 NVI].
b) O
Rompimento do Pacto na Metade da Semana: Passados três anos e meio [a
metade da semana], o Anticristo dará evidências de que é um impostor.
Ocorrerá o sacrilégio ou a profanação do templo, quando o príncipe mudará as
leis de culto, atitude que Gabriel descreve como: “... nas asas da
abominação virá o desolador.” [v.27]. Neste tempo o Anticristo reivindicará
para si as prerrogativas do próprio Deus [2 Ts. 2:4] e, certamente, Israel se
desvinculará da aliança [cp. Ap. 12:1,2]. Indignado, o Anticristo começará uma
perseguição sem medida ao povo Santo. Instalar-se-á então, a “Angústia de
Jacó”. [Jr. 30:7], o pior de todos os sofrimentos que Israel já viveu
durante sua história [Cp. Dn. 12:1].
c) A Derrota no Final da Semana: A
profecia prevê que “... o que está determinado será derramado sobre o
assolador”. Sua ação
sanguinária e diabólica só durará três anos e meio [a segunda metade da semana profética].
Seu
governo, que está prefigurado nos dedos de ferro misturado com barro, do sonho
de Nabucodonosor, será destruído com a Revelação Pessoal de Jesus Cristo [2 Ts.
2:8], a “pedra jogada sem mão” de
Daniel 2:34. – Findar-se-á o Tempo dos Gentios, e os todos os reinos do mundo
serão do Senhor Jesus [Ap. 11:15; Dn. 2:44;7:13,14
3.3
A Metade da Semana: Vimos que uma Semana Profética corresponde a sete anos, logo a “Metade da Semana” corresponde a três
anos e meio. A segunda metade da Semana se define como os piores dias de todos
os tempos, nos quais a Nação de Israel passará pelo batismo de fogo [Zc. 13:9].
Se aquele período fosse mais longo, ninguém conseguiria suportar [Mt. 24:22.].
Esses três anos e meio, ou “metade da Semana”, aparecem com outras
nomenclaturas na profecia bíblica, a saber: “tempo, tempos e metade de um tempo” [Dn.7 :25; Ap. 12:14 ]; mil duzentos e sessenta dias [Ap.11:3;12:6]
e quarenta e dois meses [Ap. 11: 2;
13:5]. Referências a Grande Tribulação, propriamente dita.
CONCLUSÃO
As Setenta Semanas Proféticas é a
demonstração dos cuidados de Deus pela Nação e Povo Santo, que apesar de
viverem nas mãos dos gentios, por centenas de anos, serão resgatados no Fim dos
Tempos: Jerusalém será a Nação Mundial de onde sairá a Lei do Senhor e Israel
será restaurado, nacional e espiritualmente, para sempre. Esta nobilíssima
Profecia, é ainda, a prova de que todos os domínios e poderes debaixo dos Céus
são impotentes e efêmeros e, finalmente, que o amor e poder de Deus sempre
triunfarão.