Por: Sergio
Geremias Santana*
1.
OS APARENTES PREDILETISMOS DE DEUS
De fato,
diante de algumas passagens bíblicas, analisadas sem amparo da exegese e do
contexto histórico, léxico-gramatical e teológico em que o texto está inserido,
pode-se concluir que Deus usa de certos prediletismos com determinadas pessoas,
porém, se assim fosse, o Seu caráter justo e Sua natureza imparcial seriam
postos em xeque. É certo afirmar, portanto, que Deus não tem filhos prediletos
ou preferidos, ainda que em resposta ao comportamento de algumas pessoas, Ele
lhes outorga certos privilégios, ou quando há um propósito espiritual, Ele aje
com ações prioritárias que podem ser vistas como predileção a alguém.
Convido-lhe,
caro leitor a analisar junto comigo alguns textos das Escrituras e tirar
conclusões lógicas e sensatas. Em toda a Bíblia encontramos, diversas vezes,
Deus revelando preferência acentuada por alguém, mas isso é apenas aos olhares
do leitor desprevenido da hermenêutica bíblica.
Em Romanos
9.13, Paulo faz uma citação condensada de Ml. 1.2,3 em que Jacó aparece como
amado de Deus em detrimento de Esaú, pois é assim que está escrito: Amei
a Jacó e odiei a Esaú. O mesmo princípio é visto em Dt. 14.12, quando
Moisés afirma: "... o SENHOR te escolheu, de todos os povos que há sobre a face
da terra, para lhe seres o seu próprio povo", o que demonstra o
amor de Deus por Israel acima de todas as demais nações. Não seria isso
um tratamento diferenciado, traduzido por prediletismo?
Bem, antes de
qualquer coisa, é bom que se diga que podemos pontuar duas maneiras de analisar
a suposta predileção de Deus. Primeiro vamos ao caso de Jacó. Algumas
atitudes de Deus são reações privilegiadas, ou seja, é a resposta a uma atitude
do homem que faz jus a certas vantagens, que muitas vezes, o faz ser confundido
como um predileto de Deus. Isso aconteceu com Jacó.
Deixando de
lado as complexidades de oposição da teologia arminiana e calvinista, e
centralizando nossa análise num argumento simples, afirmamos que, quando Deus
diz que amou a Jacó e odiou ou aborreceu a Esaú, não se refere a um ato
arbitrário de sua natureza; não é preferência a um, em detrimento do outro; não
é predominância caprichosa de atenção a X
com intenção de desprezar a Y. Tais comportamentos são peculiares ao ser
humano, nunca a Deus. Na verdade o amor de Deus por Jacó e seu aborrecimento a
Esaú, referem-se a ações pelas quais Ele responde a postura de ambos. Jacó,
mesmo imbuído em falhas, estava sempre em busca das promessas, das bênçãos
patriarcais e dos privilégios divinos, ainda que os buscasse de maneira errada.
Esaú, por sua vez, estava atento aos gozos temporais e ao prazer imediato, a
ponto de dá pouca atenção às promessas e benesses pactuais, chegando a negociar
os valores espirituais na tentativa de se satisfazer física e materialmente.
É
interessante dizer que o nível de intimidade que um homem desenvolve com Deus o
faz parecer predileto. A Bíblia diz que Deus falava com Moisés face a face, como qualquer
fala com o seu amigo; (Êx. 33.11). Foi esta relação íntima que fez com que
Daniel fosse chamado de homem muito
amado (Dn. 9.23; 10.11,19); Abraão foi
qualificado como o amigo de Deus
(2 Cr. 20.7) e Davi, recebe o epíteto de homem
segundo o coração de Deus (At. 13.22).
Em contrapartida, outros indivíduos, por desprezarem ao Senhor e sua
vontade, foram chamados de filhos de Belial, como por exemplo, os filhos de Eli
(I Sm. 2.12). Na verdade a maneira como os homens se relacionam com Deus é que
os fazem ser honrados ou desprezados por Ele. Em 1 Sm. 2.30, o próprio
assegura: "... aos que me honram honrarei, porém os que
me desprezam serão desprezados"
Ora,
o que impede de Deus amar, proteger e outorgar privilégios a uma pessoa que se
chega a ele com fez Jacó? E, o que há de errado no ato dele privar alguém dos
mesmos benefícios por ser um prevaricador como foi Esaú? É assim que se pode
entender sua natureza justa quando afirma: "... terei misericórdia de quem eu
quiser ter misericórdia, e terei compaixão de quem eu quiser ter
compaixão"(cf. Êx. 33.19; Rm 9.15). Não se trata, aqui, de um
querer arbitrário, mas, de um ato gracioso àqueles que optam por se aproximar
da vontade divina em um nível de intimidade diferente de outros.
No
Novo testamento temos um exemplo clássico de um aparente prediletismo de Jesus
no relacionamento que ele tinha com seus discípulos. Eram 12 aqueles que ele
escolheu como apóstolos, portanto, três dentre eles pareciam ser os preferidos,
a saber: Pedro Tiago e João. O ouvinte há de concordar que estes três faziam
parte do círculo íntimo de Jesus, e aparecem com ele em ocasiões específicas
como em sua transfiguração (Mt. 17.1); na oração particular do Getsêmane
(Mc.14.33); na ressurreição da filha de Jairo (Lc. 8.51) e em outras
oportunidades. Na verdade, não é correto
dizer que Jesus os teve como prediletos, mas que eles desenvolveram condições
de serem tratados com certo teor de diferenciação. A prova de que não era uma
ação ardilosa é que os irmãos primitivos os tinham como colunas da Igreja ( cf.
Gl.2.9). Isso mostra que eles faziam jus as aparentes prioridades.
Se
a relação de Jesus com Pedro, Tiago e João ressoa como prediletismo, há algo
ainda mais restrito a se observar. Dos três discípulos íntimos havia um que
possuía uma relação mais estreita com o Mestre: Este era capaz de está tão
perto que reclinava a cabeça no peito de Jesus. Por manter uma intimidade tão
forte com o seu Senhor, a Bíblia o chama de "o discípulo a quem Jesus
amava" (Jo. 13.23; 20.2; 21.7,20). Isso se devia a sua intimidade com o
Senhor e não por ser ele o preferido dentre os demais.
Conclui-se
dessa observação que se há níveis de intimidade diferentes, também há respostas
divinas específicas.
Como
o tempo e o espaço nos são escassos, queremos ser sucinto na segunda
observação: a predileção de Deus pelo povo de israel. Já vimos que Deus parece
ter amado esta Nação acima dos outros povos. Na verdade há uma implicação espiritual,
a saber, o projeto salvífico, culminando com o Messias. Deus teria que escolher
pessoas e o fez, escolhendo Abraão e dele levantou uma Nação, que seria um povo
sacerdotal como está escrito em I Rs. 8.53: "...Pois tu para tua herança
os elegeste de todos os povos da terra..."
Israel foi
escolhido como povo especial para cumprir uma missão especial. Porém, a luz do
Novo Testamento, uma pessoa não seria tratada com especialidade diante da
responsabilidade da salvação apenas POR ser descentemente da Nação Santa. O
apóstolo Paulo afirma que tanto para as benesses da redenção como para o
castigo as medidas são equânimes (justas) tanto para judeus como para gentios
(cf. Rm. 1.16; 2.9)
Assim sendo,
concluímos: Deus não tem filhos prediletos, ele tem um tratamento diferenciado,
muitas vezes, como uma retribuição justa a intensidade da comunhão que o homem
desenvolve com ele ou quando quer efetivar um propósito específico através de
determinada pessoa. Isso está longe de ser chamado prediletismo.
2.
O AMOR E A JUSTIÇA DE DEUS - COMO HARMONIZÁ-LOS?
Decerto,
conciliar os atributos opostos de Deus não é tarefa fácil, mas um olhar
cuidadoso nos fará entender como eles se manifestam equilibradamente. Uma das
maneiras de facilitar o entendimento da união entre a sua justiça e seu amor
é fortalecendo o argumento de que o amor
de Deus é justo e sua justiça é amorosa.
Isso é quase impossível no tocante ao homem, mas quando se refere a Deus, no
tratamento com o seu povo, é assim que acontece.
A manifestação
mais bela e nobre da união da justiça e do amor de Deus foi revelada na cruz.
Ao pecar, o homem tinha a morte como consequência, impetrada pela justiça
divina, portanto, Pelo amor, Deus o
enxergava com carências de ajuda. Isso é claramente manifesto em Is. 59.1,2 que
diz: "Eis que a mão do SENHOR não está encolhida, para que não possa salvar;
nem agravado o seu ouvido, para não poder ouvir. Mas as vossas iniquidades
fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu
rosto de vós, para que não vos ouça".
Então, como
dois atributos opostos se unificariam e seriam levados a efeito cabalmente? A
Cruz de Cristo foi, sem dúvida, o instrumento desta conciliação: Fragmento da
poesia do hino 18 de nossa Harpa Cristã diz: Luz divina resplandece! Mostra ao triste pecador, que na cruz estão
unidos a justiça e o amor... Jesus, conforme Paulo afirma em Rm. 1.17, é a
essência da justiça de Deus e ao mesmo tempo, é também, a expressão máxima do
seu amor.
Mas vamos
analisar a equalização da justiça e do amor de Deus na vida do crente. Na
verdade o tratamento de Deus para com seus filhos é um tratamento de amor. Só
que existem ações desse amor que são condicionadas a nossa atitude para com
ele. Quando fugimos à regra que ele estabelece, somo passivos a sua repreensão
ou castigo, e aí como já fomos justificados em Cristo, o que chamamos de
aplicação da justiça de Deus, na verdade é o lado justo do seu amor. Salomão
confirma isso quando diz: "Porque o SENHOR repreende aquele a
quem ama, assim como o pai ao filho a quem quer bem"( Pv. 3.12).
Note bem que a
repreensão aparece aí como fruto do amor de Deus. O Escritor aos Hebreus,
dentro desta ótica fala da disciplina como instrumento que Deus se utiliza para
corrigir seus filhos (Hb. 12.8). No v.9 ele indaga: "... que filho há a quem o pai
não corrija?" Assim sendo, por ser justo, Deus não omite o seu
castigo, quando merecemos. Aliás, ao proceder assim Ele está nos mostrando seu
amor e o faz com o objetivo de não nos deixar perecer com o mundo (1 Co.
11.32). Elifaz, apesar de falar algumas coisas infundadas, acerta quando diz: "...
bem-aventurado é o homem a quem Deus repreende; não desprezes, pois, a correção
do Todo-Poderoso." (Jo
5.17)
Logo, a
justiça e o amor de Deus se misturam neste processo. E não há nada,
extraordinariamente difícil, para se entender isso. No entanto, no tratamento
para com os pecadores, a compreensão destes atributos assume outro significado.
É fácil de
entender pela Bíblia que nós fomos
alcançados pelo amor de Deus e vivemos debaixo deste amor, logo o castigo de
Deus é fruto de seu amor justo e gracioso. Já o pecador é amado no aspecto
coletivo, ou seja, é fruto do amor altruísta de Deus que como resultado deste
amor, deu seu Filho para salvar a humanidade. (Jo 3.16; Rm. 5.8). Na verdade,
individualmente, Deus aborrece aqueles que aceitam viver no pecado. E, quando
tem que aplicar sua justiça, é com base na sua ira. Por isso o salmista afirma:
"Os
loucos não pararão à tua vista; odeias a todos os que praticam a
maldade." (Sl.5.5). A Justiça de Deus, portanto, neste aspecto, é
a retribuição justa e severa como punição ao pecado do homem. Ao contrário do
crente, em que a justiça de Deus é aplicada para correção, para o pecador
insolente a justiça divina promove juízo destruidor. Por isso o escritor da carta anônima diz: "Horrenda
coisa é cair nas mãos do Deus vivo."(Hb. 10.31).
O Amor de Deus
pelo pecador é centrado em Cristo. A justiça de Deus também é cristocêntrica.
Se o pecador rejeitar a Jesus, está rejeitando o produto do amor de Deus,
restando para ele uma justa retribuição de juízo. Por isso a missão do Espírito
Santo é convencer o homem do pecado (mostrar sua condição diante de Deus); da
justiça (mostrar que a solução para seu estado debilitado está unicamente em
Jesus) e do juízo (mostrar que se a justiça de Deus revelada na pessoa de Jesus
for ignorada, restará apenas o castigo eterno).
Finalizando,
afirmamos que o amor e a Justiça de Deus tem também um aspecto escatológico.
Seu amor (em versão diferenciada) ofertará até ao final, o escape para homem;
e, sua Justiça garantirá a vida eterna a quem respondeu positivamente a seu
amor e graça e a perdição, a todos aqueles, que optaram em seguir seus intentos
perversos, em detrimento daquilo que que
ele planejou para o homem.
E válido
concluir dizendo que a imposição da Justiça e do Amor de Deus, na experiência
humana, depende de como o indivíduo se posiciona diante daquilo que Deus propõe
para ele. Os dois atributos, mesmo sendo opostos, se convergem: o amor
se aplica com justiçae a justiça se manifesta com acom amor , no
relacionamento com o salvo; para o pecador, portanto, seu amor é altruísta e sua justiça é a
manifestação de sua ira efetuando juízo ao pecado.
3.
POR QUE DEUS SENDO TÃO BOM, PERMITE TANTAS MISÉRIAS E CALAMIDADES NO MUNDO?
Deixando de
lado os fatos calamitosos que marcaram a História deixando um saldo de milhões
de pessoas mortas, doentes e desabrigadas e focando apenas aqueles relacionados
ao terceiro milênio, vemos quão grande sofrimento à humanidade vem enfrentando.
Desde os inocentes que morreram no maior ataque terrorista da história, nos
EUA, em 2001, como o tsunami na Indonésia, em dezembro de 2004, o terremoto da
china em 2008 e o Grande Terremoto do Leste do Japão, em 2011 que juntos
deixaram mais de 300.000 mortos, instigam os homens a questionarem a natureza
de Deus. Como pode um Deus sendo bondoso permitir tamanhas calamidades? Por que
Ele não age para evitar tantos males? Se Ele pode, por que não o faz? E, se Ele
não faz como é possível entender que Ele é um Deus bondoso? Perguntas como
estas os céticos fazem, pondo dúvida no caráter de Deus.
Quero convidar
os caros leitores a analisarem comigo as calamidades do mundo sob quatro
vertentes. Primeiro vamos começar observando as leis naturais e cosmológicas
estabelecidas pelo Criador. Deus ao criar o Universo estabeleceu princípios
pelos quais o Cosmo é regido. Os capítulos 1 e 2 de Gêneses e algumas passagens do livro de Jó dos
proféticos apontam algumas destas leis, leis estas que fazem com que o universo
tenha mobilidade e harmonia, porém, a imprudência humana desde a Queda, vem
castigando o Cosmo, agredindo a Natureza, causando um desequilíbrio ambiental generalizado.
Desde meados do século XIX, a temperatura dos oceanos e
do ar perto da superfície da Terra, o chamado Aquecimento Global, tem ganhado
proporções exorbitante. E como todos sabem, muitas calamidades climáticas em
proporções assustadoras, como enchentes, maremotos, terremotos e outras
desordem da natureza, devem-se a agressão que o homem tem causado ao meio
ambiente. Logo, a culpa não é de Deus, mas do próprio homem. Através da
exploração irresponsável dos bens naturais, o homem tem sido o causador de
muitas calamidades. Deus estabeleceu leis boas e justas para manter o universo
em harmonia, o homem as alterou, e assim seus semelhantes colhem os resultados,
infelizmente.
Em segundo
lugar, é razoável estudar sobre as calamidades e o caráter de Deus, sob a visão
de sua soberania. Ele é soberano sobre
sua Criação. Se ele proteger ou destruir, ninguém pode acusá-lo de injusto. O
Patriarca Jó afirma que ninguém deve perguntá-lo; Que fazes? (9.12). Ora, se
Algo é nosso, fazemos disso o que quisermos; Deus também. Ele é soberano
quando faz e quando deixa de fazer
determinada coisa. O salmista diz que "...tudo que o Senhor quis, ele
fez..." (Sl 135.6). Note bem que ele pode fazer - Ele é Todo
Poderoso; mas Ele só faz quando quer e isso não diminui em nada Sua natureza
soberana.
Quando
Nabucodonosor chamou os três judeus, oferecendo-os a chance de se livrarem da
fornalha de fogo ardente, eles disseram: Não necessitamos de te responder sobre este
negócio. Eis que o nosso Deus, a quem nós servimos, é que nos pode livrar; ele
nos livrará da fornalha de fogo ardente, e da tua mão, ó rei. E, se não, fica
sabendo ó rei, que não serviremos a teus deuses nem adoraremos a estátua de
ouro que levantaste. (Dn 3:16-18)
Logo, a
existência das calamidades não anulam a Bondade, o Poder nem o Querer de Deus,
antes, confirmam seus atributos soberanos.
Em terceiro
lugar, é importante dizer, que algumas calamidades no mundo são instrumentos do
castigo divino a rebeldia do homem. Desde os primórdios da raça humana a presença
do castigo de Deus de forma coletiva é uma constante. O Exemplo mais clássico
desta verdade é o dilúvio, a maldade do homem acionou a ira de Deus ao ponto da
Terra sofrer uma enchente desproporcional, como a tal. A Bíblia mostra que Por causa da idolatria e
de outros pecados Deus permitiu secas causticantes; enfermidades, escassez de
alimento; Tempestades; destruição social e comunitária etc. Basta ler
lamentações de Jeremias para ver como a calamidade se constrói como castigo
àqueles que viram às costas para Deus. Na Verdade, Deus não deixa de ser bom,
mas os homens sendo maus atraem a justiça divina. Hoje não é diferente, não
podemos generalizar e dizer que todas as vezes que há uma calamidade é castigo
divino, mas também, não podemos negar este principio da equidade de Deus. É
interessante dizer que as calamidades, neste caso são consequenciais.
Finalmente, as
calamidades, também, devem ser analisadas como fenômenos escatológicos: Tanto
aquelas de ordem sociais como as climáticas aparecem no sermão profético como
prenúncios da vinda de Jesus. Logo devem acontecer.
Um texto
bíblico que nos convence que muitas catástrofes naturais se encaixam nesta
observação se encontra em LC 21.25,26 que diz E haverá sinais no sol e na lua e
nas estrelas; e na terra angústia das nações, em perplexidade pelo bramido do
mar e das ondas. Homens desmaiando de terror, na expectação das coisas que
sobrevirão ao mundo... (Lucas 21:25-26)
Coloque essa profecia, diante da realidade do Tsunamis da Ilha Sumatra,
no final do ano de 2004 e do desastre do Grande Terremoto do Japão de 2011 e
veja se faz sentido ou não.
Então
concluiremos afirmando que, conforme as as observações postuladas, as
calamidades que a humanidade enfrenta não contrariam a natureza de Deus. Ele é
Bom e Poderoso idependente de tudo de nal que vem ocorrendo no mundo.
4. OS LIMITES
DA TOLERÂNCIA DE UM DEUS ILIMITADO
Antes
de comentar qualquer coisa, é bom que se afirme que tudo que alguém consiga
dizer de Deus, é pouco demais diante da inesgotável fonte que é sua natureza.
Ninguém consegue perscrutar a Pessoa de Deus na sua plenitude, e sim, lançar
mãos das verdades que por sua graça e Ele nos revelou em Sua palavra. E, com
muita humildade e rendição ao Espírito Santo, para não incorrer em erros de
interpretação do que nos foi disponibilizado pelo Documento divino.
Para
compreendermos como um Deus ilimitado limita seus atributos, como paciência e
tolerância, nós iremos analisar quatro verdades fundamentais referentes a esse
assunto.
A primeira
verdade é: Deus é grandemente paciente e
misericordioso. Essa verdade nos leva a entender que todos os atributos de
Deus e todas as atividades de sua natureza e de seu caráter são, em sim mesmas,
inesgotáveis e infinitas. Em Lm 3.22, Jeremias afirma que as misericórdias do
Senhor não têm fim; Paulo diz que Deus é riquíssimo em misericórdia (Ef. 2.4);
Moisés, por sua vez anuncia que Ele é
tardio em irar-se e grande em beneficência. (Êx. 34.6). No Sl. 86.5, o
salmista Davi corrobora essas afirmações, quando canta: "Pois tu, Senhor, és bom, e pronto a perdoar,
e abundante em benignidade ...".
Bem, o que se
conclui das afirmações em apreço é que tudo em Deus é ilimitado. Ninguém esgota
seus atributos, porque como sua própria natureza é imensurável, assim também é
tudo que diz respeito a ela. Neste caso, seria correto dizer que o homem pode
fazer o quiser, porque Deus continuará complacente para com ele? Se o homem não
esgotar a paciência de Deus, por que ele se ira?
Vamos compreender, lançando mãos da segunda verdade : Deus possui o mais alto padrão de Justiça. Ora, que Deus é
misericordioso não temos dúvida, mas sua compaixão não pode fazer vista grossa
ao erro do homem, porque ele é justo. Em Números 14.1 está escrito: "O SENHOR é longânimo, e grande em
misericórdia, que perdoa a iniquidade e a transgressão, que o culpado não tem
por inocente, e visita a iniquidade dos pais sobre os filhos até à terceira e
quarta geração." Note bem, que a longanimidade e a misericórdia de
Deus não anulam sua justiça. Ele não pode aceitar o culpado por inocente,
embora o ofereça o perdão; por isso Davi diz complemente no salmo 85.6 que ele
é misericordioso para os que o invocam. Bem, então vamos entender: Deus é
imensuravelmente misericordioso e paciente, mas por ser justo, não pode ignorar
o erro humano. Então como entender Isso?
Prestemos
atenção na terceira verdade: O Deus
tolerante estabelece um limite para o comportamento humano. Ora, se Deus é
infinito e sua misericórdia e paciência, bases de sua tolerância, são imensuráveis,
então o homem ilimitado não pode esgotá-los. Fato. Porém, o Deus que não pode
ser limitado pelo homem, estabelece um limite para o comportamento humano. Até
que o homem não ultrapasse esse limite, ele será alvo das misericórdias do
Senhor, portanto, quando rompe essa trégua, manifesta-se, então, a ira de Deus
em lugar de sua misericórdia. Note que o homem não esgota a paciência de Deus,
mas ultrapassa a linha tênue que divide sua compaixão e sua ira, visto que os
atributos divinos, mesmo diferentes se harmonizam. O mesmo ocorre se homem recuar, ou seja, se
deixar de insistir no erro, terá a misericórdia ao invés da ira como aconteceu
com Acabe, Manassés e muitos outros personagens bíblicos.
Então, só assim entenderemos a quarta verdade que arremata esse assunto:
A tolerância de Deus tem limite. Escrevendo
aos romanos sobre a tolerância de Deus, Paulo diz no capítulo 2 e versículo 4: "... desprezas tu as riquezas da sua
benignidade, e paciência e longanimidade, ignorando que a benignidade de Deus
te leva ao arrependimento?" Paulo enfatiza que Deus, mesmo paciente, não
tolera que o homem trate sua bondade com desprezo. E, se esse assim o faz,
Paulo assegura no versículo 5: "Mas,
segundo a tua dureza e teu coração impenitente, entesouras ira para ti no dia
da ira e da manifestação do juízo de Deus."
O que está claro pela Palavra de Deus é
que Ele é, em essência misericordioso e paciente; Se o homem errar, ele aplica
Sua Justiça. O interessante é que a primeira ação da justiça de Deus é oferecer
ao homem oportunidade de arrependimento. Isso está claro no tempo do dilúvio.
Os homens mesmo tendo causado repulsa à natureza santa do Senhor, tiveram a
oportunidade de se voltar para Ele. Porém, insistiram em seus pecados, e, Pedro
diz deles: Os quais noutro tempo foram
rebeldes, quando a longanimidade de Deus esperava nos dias de Noé, enquanto se
preparava a arca; na qual poucas (isto é, oito) almas se salvaram pela água. (I
Pe. 3.20) Eles ignoraram a compaixão de
Deus; abandonaram o recurso de sua misericórdia, o escape do castigo que era
certo. Então, tendo rompido insanamente o limite que Deus estabelecera, Sua tolerância chegou ao limite, e os homens atraíram,
assim, a ira divina que culminou com a destruição.
Que
Deus continue nos abençoando, e que os amados leitores postulem seu viver
de forma que as misericórdias do Senhor não sejam ignoradas, pois são elas as
causas de não sermos consumidos.
5. OS CONFLITOS EM TORNO DO ARREPENDIMENTO DE DEUS
Bem, a
princípio gostaríamos de enfocar que a Bíblia é um livro de Deus, escrita por
homens para homens. Muitas coisas relacionadas ao Deus imensurável, não seriam
alcançáveis se a Bíblia não trouxesse para a dimensão humana a revelação de Sua natureza. Por isso os escritores foram
inspirados a usar uma linguagem onde Deus pudesse ser compreendido, daí, muitas
vezes Ele é apresentado com sentimentos humanos, numa figura de linguagem
chamada antropopatismo, muito embora, em essência, esses sentimentos diferem
cabalmente da conduta humana, um destes sentimentos é o arrependimento.
É interessante
dizer também que não há nenhuma contradição nos textos que tratam do
arrependimento de Deus, basta colocá-los no ponto de equilíbrio: Alguns versículos
tratam da essência imutável da natureza de Deus, ou seja, de sua linha de
conduta moral e pessoal numa posição de imutabilidade perfeita tanto de seu Ser
bem como de seus propósitos, promessas,
princípios e atributos, sem carecer aprimoramento e sem riscos de decadência.
Outros textos, apontam o arrependimento de Deus como um pesar e uma atitude
diferente, não por ele ter mudado, mas pela mudança do comportamento humano.
Vamos analisar
primeiro sobre a imutabilidade da natureza divina: Em Ml 3.6, as afirmação de
Deus é uma assertiva: "Eu, o Senhor,
não mudo". Esta autodeclaração é confirmada explicitamente em outros
dois textos: Em Nm. 23.19 está dito: Deus
não é homem para que minta, nem filho do homem para que se arrependa, e, em
I Sm.15.29 que reitera "...Aquele que é a Força de Israel
não mente nem se arrepende; porquanto não é um homem para que se
arrependa...".
Observemos
que a ênfase nestes dois últimos versículos recai sobre a negação do arrepender-se
de Deus. De fato, ele não se arrepende no que a gente entende por
arrependimento. Pra nós humanos arrependimento está ligado a nossa índole
volúvel. Ou seja, nos arrependemos quando queremos e deixamos de querer; quando
somos algo e depois deixamos de ser; quando pensamos algo e deixamos de pensar; quando fazemos
alguma coisa e desistimos de fazer etc. Isso acontece porque a natureza humana
é mutável. Deus não tem uma natureza instável. Ele não se arrepende, neste
aspecto. Por isso a Bíblia afirma que ele não é o homem.
Agora
vamos entender a que se refere o arrependimento de Deus. Lembremos que às vezes
a bíblia fala de Deus como homem, para que nós homens possamos o compreender.
A palavra arrepender-se no hb. nãhar, refere-se a uma mudança de mente,
ou seja um pesar ou sentimento interior de profunda tristeza. A maioria do uso
desta palavra é atribuída ao arrependimento de Deus. Ex.
•
Gn.
6.7: E disse o SENHOR: Destruirei o
homem que criei de sobre a face da terra, desde o homem até ao animal, até ao
réptil, e até à ave dos céus; porque me arrependo de havê-los feito.
•
1
Sm. 15:11 Arrependo-me de haver posto a Saul como rei; porquanto deixou de me
seguir, e não cumpriu as minhas palavras. Então Samuel se contristou, e toda a
noite clamou ao SENHOR.
Nestes dois
textos, o arrependimento de Deus se refere a um pesar ou sentimento de decepção
que o Senhor teve, pelo investimento feito e não correspondido. A Bíblia diz
que Deus ao criar o casal o abençoou e
viu que era muito bom (Gn. 1,28,31), porém, ao passar dos anos, os homens não
fizeram jus a atitude graciosa do Criador. Isso entristeceu a Deus. Logo, o
arrepender-se de Deus, era seu descontentamento espantoso em ver a que ponto
sua criatura havia chegado. O mesmo pode se dizer de Saul: Deus o elegeu como
rei de Israel, mas ele o desagradara, fazendo-o sentir-se pesaroso por sua
postura pecaminosa.
É importante
afirmar que o arrependimento de Deus também se refere a uma mudança de atitude,
não porque Ele muda, mas por causa da mudança do homem. Veja atenciosamente o
texto que se segue de Jeremias 18.7-10:
No momento em que falar contra
uma nação, e contra um reino para arrancar, e para derrubar, e para destruir,
Se a tal nação, porém, contra a
qual falar se converter da sua maldade, também eu me arrependerei do mal que
pensava fazer-lhe.
No momento em que falar de uma
nação e de um reino, para edificar e para plantar,
Se fizer o mal diante dos meus
olhos, não dando ouvidos à minha voz, então me arrependerei do bem que tinha
falado que lhe faria.
Perceba que
tanto o mal como o bem que Deus intentara fazer seria mudado, de acordo a
mudança do comportamento humano. Esta mudança de uma atitude abençoadora para
uma atitude de juízo ou vice-versa, é chamada de nãhar, que João
Ferreira de Almeida a traduziu por
arrependimento. Foi esse sentimento que fez com que Deus desistisse de
destruir os ninivitas, porque eles mudaram ao se converter pela mensagem de
Jonas, então Deus se arrependeu do mal que disse que faria, ou seja, suspendeu
a sentença, porque houve uma atitude de mudança por parte dos homens. (Jn.
3.10) A mesma ideia se encontra em, 1
Cr. 21.15; Am. 7.3,6 e outros mais, onde se entende que Deus se arrependeu, ou
seja, agiu conforme a mudança de comportamento dos homens, pois ele seria
injusto se não o agisse assim.
Concluindo
dizemos Deus não se arrepende, no que concerne a mudança de sua natureza, pois
ela é absolutamente perfeita, sem nenhuma chance de mudar; seu arrependimento,
fala de seu descontentamento diante de alguém que não agiu com fidelidade a seu
investimento ou ainda se refere a uma mudança de atitude, seja de julgamento
para bênção ou de bênção para julgamento, em resposta a mudança do
comportamento humano. Logo, não há contradição nenhuma nos textos da bíblia.
6.
O MAL PROVENIENTE DE DEUS
O Texto de
Isaias 45.7, que afirma que Deus cria o mal é um dos mais polêmicos
concernentes ao caráter de Deus. Todos nós desde a mais tenra idade somos
ensinados que Deus é bom, que faz o bem e que nele não há maldade alguma, sendo
o Diabo autor e a essência do mal. De Repente, somos surpreendidos por
afirmativa chocante: O próprio Deus diz: “Eu
crio o mal”. Como, pois, entender essa afirmação sem ultrajar a natureza
divina?
Antes de
qualquer coisa é interessante certificarmos de que Deus é moralmente benigno.
Não há nenhum vestígios do mal moral em Sua pessoa. A Bíblia diz que sua
benignidade dura para sempre (Sl 118.1,27). Davi em um de seus cânticos afirma:
“Porque tu não és um Deus que tenha
prazer na iniqüidade, nem contigo habitará o mal.” E Tiago assegura que “toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vem
do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de
variação.” Logo, Deus não é responsável pela existência do mal no mundo;
Não compactua com o pecado porque ele é bom e puro. Então como entender a
afirmação de que ele cria o mal?
Em primeiro
lugar, em Isaias 45, Deus está revelando seu total domínio sobre o Universo,
contrariando o paganismo da Pérsia, que acreditava que o universo era regido
por dois deuses, que viviam numa luta constante, a saber: Ahuda Mazda, o deus
da luz e do bem e Arimã, o deus das trevas e do mal. Deus mostra que luz e
trevas, bem e mal estão sob seu controle e que tudo obedece a sua soberania.
Em segundo
lugar, quando Deus diz que cria o mal, é confirmado em outras passagens, que se
trata do mal como uma punição ao pecado
- o mal consequencial. No capítulo 9 e versículo 4 de seu livro, o
profeta Amós registra as palavras de juízo de Deus, aos judeus rebeldes, quando
afirma; “E, se forem em cativeiro diante
de seus inimigos, ali darei ordem à espada que os mate; e eu porei os meus
olhos sobre eles para o mal, e não para o bem.” Perceba que o mal, neste
particular, é trazido por Deus como castigo. O mesmo é dito em Am. 3.6 “Tocar-se-á a trombeta na cidade, e o povo
não estremecerá? Sucederá algum mal na cidade, sem que o SENHOR o tenha
feito?”
Ora como
podemos traduzir Deus cerrando os céus para não cair a chuva? E as
pestilências? E nações que eram levantadas para destruírem outras? E as
calamidades trazidas por Deus registradas em lamentações? O que seria isso
senão o mal criado por Ele? Sim, este é o mal calamitoso ou catastrófico,
produto de sua grandeza para deter a impertinência dos homens. Em Jr. 18.11
Deus diz: “Ora, pois, fala agora aos
homens de Judá, e aos moradores de Jerusalém, dizendo: Assim diz o SENHOR: Eis
que estou forjando mal contra vós; e projeto um plano contra vós;
convertei-vos, pois, agora cada um do seu mau caminho, e melhorai os vossos
caminhos e as vossas ações.”.
É
bom que se diga que o mal que Deus intenta pode ser anulado, caso o homem
busque o bem e se converta dos seus pecados. É isso que Deus diz por meio de
Amós 5.14 “Buscai o bem, e não o mal,
para que vivais; e assim o SENHOR, o Deus dos Exércitos, estará convosco, como
dizeis.”). Em Jr.26.16, essa ideia é reforçada, quando o profeta exclama: “Agora, pois, melhorai os vossos caminhos e
as vossas ações, e ouvi a voz do SENHOR vosso Deus, e arrepender-se-á o SENHOR
do mal que falou contra vós.”
Esse
mal é a retribuição pelo pecado. É a punição do caráter santo de um Deus que
reage com justiça os feitos dos homens:
Há
muitos outros textos na bíblia que corroboram que Deus é autor do mau como
punição. Vejamos alguns:
•
Assim diz o SENHOR dos Exércitos,
Deus de Israel: Vós vistes todo o mal que fiz vir sobre Jerusalém, e sobre
todas as cidades de Judá; e eis que elas são hoje uma desolação, e ninguém
habita nelas (Jr.44.2)
•
Tomou o capitão da guarda a
Jeremias, e disse-lhe: O SENHOR teu Deus pronunciou este mal, contra este
lugar. (Jr. 40.2)
•
E Deus mandou um anjo a Jerusalém
para a destruir; e, destruindo-a ele, o SENHOR olhou, e se arrependeu daquele
mal... (I Cr. 21.15)
•
Portanto assim diz o SENHOR dos
Exércitos, Deus de Israel: Eis que eu ponho o meu rosto contra vós para mal, e
para desarraigar a todo o Judá. (Jr. 44.11)
•
Por isso assim diz o SENHOR Deus
dos Exércitos, o Deus de Israel: Eis que trarei sobre Judá, e sobre todos os
moradores de Jerusalém, todo o mal que falei contra eles; pois lhes tenho
falado, e não ouviram; e clamei a eles, e não responderam. (Jr. 35:17)
•
E dirão: Porque deixaram ao
SENHOR Deus de seus pais, que os tirou da terra do Egito, e se deram a outros
deuses, e se prostraram a eles, e os serviram; por isso ele trouxe sobre eles
todo este mal. (2 Cr. 7.22)
•
E Deus viu as obras deles, como
se converteram do seu mau caminho; e Deus se arrependeu do mal que tinha
anunciado lhes faria, e não o fez. (Jn. 2.3)
•
Porque a moradora de Marote sofre
pelo bem; porque desceu do SENHOR o mal até à porta de Jerusalém.( Mq.1:1)
•
Porventura da boca do Altíssimo
não sai tanto o mal como o bem? (Lm. 3:38)
Bem
todos estes textos se referem ao mal que Deus determina. E, mesmo sendo criado
por ele, esta decisão de sua soberania não fere sua natureza bondosa e sua
benignidade, pois ele é essencialmente bondoso, promotor do bem e aborrecedor
de todo o mal, inclusive do autor do mal moral – seu arqui-inimigo.
Finalizando
afirmamos que Deus cria o mal, não porque possui uma essência má; não porque
coabitam nele o bem e o mal; não porque ele criou um querubim mal, como alguém
tem inventado, mas, simplesmente ele cria o mal, quando determina o que não é
bom, como ação de sua severidade em resposta ao comportamento rebelde do homem.