INTRODUÇÃO
“O SENHOR é o meu pastor...”
Gosto
de estudar a história de Davi, como pastor, partindo da perspectiva do texto de
I Samuel 17.34,35, quando o jovem pastorzinho diz a Saul: “Teu servo
apascentava as ovelhas de seu pai; e vinha um leão ou um urso e tomava uma
ovelha do rebanho, e eu saía após ele, e o feria, e a livrava da sua boca; e, levantando-se
ele contra mim, lançava-lhe mão da barba, e o feria, e o matava.” Tais
palavras só poderiam ser ditas de um pastor dedicado e destemido que
arriscava sua própria vida para salvar uma de suas ovelhas. Ele sabia a importância
de sua função, por isso fazia tudo que estava ao seu alcance para ver suas
ovelhas bem, mesmo que pra isso, fosse preciso empenhar força laboriosa para
afastar o perigo. Só alguém assim poderia ter escrito o Salmo 23.
Um
pastor vivia em função de suas ovelhas. Ser pastor era mais que profissão, era
uma missão; uma vida de entrega afetuosa e um apego de coração (Pv. 27.23) pois,
além dos cuidados mantenedores (Cf. Ct. 4.2;) restava-lhe a obrigação de
proteger o rebanho dos animais ferozes e dos perigos diversos. Alguns pastores
dispensavam cuidados noturnos às ovelhas (Cf. Lc. 2.8) e os mais devotos às
apascentavam próximo aos lírios (Cf. Ct. 2.16) e faziam cabanas para elas (Cf.
Gn. 33.17). Quando alguém não fazia jus a sua missão pastoral, além de expor as
ovelhas ao perigo (Na. 3. 18 ; Jo.10.12), poderia ser destituído, por não fazer
jus ao mérito de ser chamado pastor. No âmbito espiritual, Deus condenou
aqueles que não honraram sua tarefa, ao afirmar: “Vivo eu, diz o Senhor
JEOVÁ, visto que as minhas ovelhas foram entregues à rapina, e vieram a servir
de pasto a todas as feras do campo, por falta de pastor, e os meus pastores não
procuraram as minhas ovelhas, pois se apascentaram a si mesmos, e não
apascentaram as minhas ovelhas (...)” (Ez. 34:8. Cp. Zc.11.17) Davi, jamais
receberia tal reprovação. Ele nunca tiraria proveito de seu cargo nem
permitiria um animal feroz devorar as suas ovelhas, antes, se lançava ao perigo
por elas.
As
qualidades, do filho mais novo de Jessé, atraíram os olhares de Deus. Ele era
tão dedicado no que fazia, que o SENHOR o escolheu para apascentar o Seu
povo. O profeta Natã pode testemunhar
esta realidade quando Deus o disse: “Agora, pois, assim dirás a meu servo, a
Davi: Assim diz o Senhor dos Exércitos: Eu te tirei do curral, de detrás das
ovelhas, para que fosses chefe do meu povo de Israel.” (1 Cr.17:7). E Davi
não decepcionou a Deus, neste aspecto. Assim como cuidou das ovelhas de seu
pai, soube apascentar, sábia e amorosamente, o rebanho de Deus. Asafe confirma
isso em forma de cântico quando diz: “Também elegeu a Davi, seu servo, e o
tirou dos apriscos das ovelhas. De após as ovelhas pejadas o trouxe, para
apascentar a Jacó, seu povo, e a Israel, sua herança. Assim os apascentou,
segundo a integridade do seu coração, e os guiou pela perícia de suas mãos”.
(Sl. 78:70-72. Grifo nosso). Nada poderia ser dito de mais bonito sobre os
cuidados pastorais do moço belemita.
Davi
tinha uma relação amorosa com as ovelhas e tinha um coração sensível às coisas
de Deus. Quando o SENHOR disse a Samuel que fosse à casa de Jessé, pois dentre
os seus filhos, havia escolhido um para ser rei, (I Sm. 16.1), está claro que o
pastorzinho tinha um coração devoto a Deus, aliás, era um homem segundo o
coração de Deus, pois quando o SENHOR declarou reprovação a Saul, Samuel
declarou o novo projeto divino para Israel, afirmando :“ Porém agora não
subsistirá o teu reino; já tem buscado o SENHOR para si um homem segundo o
seu coração, e já lhe tem ordenado o SENHOR, que seja capitão sobre o seu
povo, porquanto não guardaste o que o SENHOR te ordenou.” (1 Sm. 13:14) Davi
não foi escolhido porque era o menor; porque tinha postura de trabalho duro;
por ser formoso de semblante... O que o tornou escolhido, se reflete no que Deus
disse a Samuel: “o Senhor olha para o coração” (I Sm. 16.7). E por
conhecer o coração do jovem pastor, foi que o Pai Eterno ordenara a Samuel: “Levanta-te,
e unge-o, porque este mesmo é”. (v.12).
Davi,
apesar de muito moço, tinha uma delicada experiência com Deus. Ele era um rapaz
diferente. Sua devoção a Deus era visível ao ponto das pessoas dizerem a seu
respeito: “... o Senhor é com ele.” (I Sm. 16.18; cp. I Sm. 18,14). Até
Saul percebia isso (1 Sm. 18:28), e, por esta razão o temia (1 Sm. 18:12).
Apesar
de todo este ressalto, Davi sentia na pele o que era tribulação, desprezo,
fome, sede, traição, inveja e perseguição. Ele sabia contar o que era dormir na
frieza do campo; andar no calor do deserto e pernoitar nas cavernas. Ele
experimentou a angústia da fuga imprevisível; a dor da ameaça de morte; o gosto
da decepção de pessoas queridas; o desprezo de alguém que deveria está ao seu
lado... Ele sofreu a dor da perda; enfrentou crises na família; vivenciou
pressão psicológica e sentiu o desconforto da solidão e a frustração da busca
cansativa de algo que insistia em não vir.
É
cruel. Vivendo sob estas condições e convivendo nos ambientes mais inóspitos, o
triunfante Davi não se sentia mais um pastor. Agora ele tinha a sensação de está
sob os cuidados do Supremo Pastor. E, agora se vendo nas condições de uma
daquelas suas ovelhas, indefesa, assustada e frágil, ele pode se ver, como
assistindo a uma tela em sua frente, enfrentando o frio noturno e o calor do
dia para cuidar e proteger seus cordeirinhos de qualquer perigo. Aí a transferência
é certa: Ele era aquela ovelhinha desprovida, amparada pelo amor providencial do
Pastor. Então, brota um alívio na dor e uma esperança que transcende o
sofrimento que o motivou a sussurrar crédulo e esperançoso: “O SENHOR É O
MEU PASTOR, NADA ME FALTARÁ.”.
A
célebre afirmação de Davi, que reflete o prelúdio da poesia augusta, enseja
suas três motivações diante das experiências aversivas, a saber: convicção
(O Senhor é...); intimidade (... o meu Pastor...) e confiança
na providência divina (... nada me faltará). Estas motivações é o prefácio
do Salmo e precedem a manifestação áurea dos cuidados de Deus. E, sem dúvida,
são ingredientes indispensáveis para o enlevo espiritual do cristão de todos os
tempos e de todos os lugares, pois a mensagem do Salmo continua tão atual como
nos dias em que foi escrita.
É
com este olhar primoroso, caro leitor, que lhe convido e ler, a recitar, a
meditar e a pregar o SALMO 23. Convido-lhe a fazer uma abordagem espiritual.
Jesus é nosso Grande Pastor (Hb. 13.20; I Pe.
2:25; Mt. 2:6 ) e seus cuidados não nos são negados.
Ele mesmo falou: “Eu sou o bom pastor; o bom pastor dá a sua
vida pelas ovelhas. (Jo. 10:11). Ele sabe quais as nossas carências e os perigos que nos
rodeiam, pois Ele conhece suas ovelhas e delas é conhecido. (v.14).
Independente da situação que nos encontramos, Deus, tal qual um Pastor Amável,
nos guiará (Sl. 80.1). É certa a promessa de Isaias: “Eis que o Senhor JEOVÁ virá como o forte, e o seu braço dominará; eis
que o seu galardão vem com ele, e o seu salário, diante da sua face. Como pastor,
apascentará o seu rebanho; entre os braços, recolherá os cordeirinhos e os
levará no seu regaço; as que amamentam, ele os guiará mansamente” (Is.40:10-11.).
Aleluia!
Deus
como Pastor é uma das mais belas metáforas da vida cristã. Seus cuidados
pastorais são consoladores. Seu amor sacrificial, sua dedicação acolhedora e
sua cortesia são incomparáveis. Felizes aqueles que estiverem em seu aprisco e
os que forem por ele guiados. Nesta vida, os tais terão a convicção de serem cuidados
por Ele, e no porvir a garantia de serem recompensados por tudo, como bem
afirma o apóstolo Pedro: “E, quando se
manifestar o sumo Pastor, recebereis a imarcescível coroa da glória.” (1
Pe. 5:4)
SALMO 23: A Manifestação Áurea dos Cuidados
de Deus não foi escrito para
falar à cabeça, mas ao coração; não é um tratado teológico nem um comentário
bíblico; não é o resultado de uma pesquisa austera e meticulosa;
não se trata de um estudo exegético exaustivo de um capítulo das Escrituras
Sagradas; não foi produzido com o intuito de torná-lo um best-seller; não objetiva atrair glórias para o seu autor, nem
admiração da crítica literária. Esta singela obra foi produzida para inspirar
vidas diante da realidade do sofrimento, motivando-as a enxergar os infortúnios
sob a perspectiva da eternidade. Sim, este livro prima em ampliar a zona de
operacionalidade de nossa confiança em Deus, o qual, como nosso Supremo Pastor,
está sempre pronto a oferecer o seu auxílio e amparo.
Se o amado leitor, ao chegar à
última página deste livro puder dizer, que conseguiu otimizar sua percepção acerca das amarguras deste mundo, tendo
convicção de que Deus nunca o deixará só, nas vicissitudes da vida, estarei
certo que esta obra terá cumprindo seu propósito. Analisaremos, portanto, Doze Cuidados Divinos, expressos nas
melodiosas palavras de Davi, que certamente servirão de lenitivo e bálsamo para
os corações feridos pela dor, seja ela de que natureza for. No final dos doze
capítulos há um bloco de conselhos práticos. Um bloco para cada mês. Uma
espécie se sinopse de cada capítulo. E segue-se um glossário das palavras menos
conhecidas de nosso público, para facilitar-lhes a compreensão da mensagem do
livro.
Que o Supremo Pastor das ovelhas nos agracie com seu consolo, pois Ele,
pela Sua Palavra, já nos deu a assertiva: “Vós,
pois, ó ovelhas minhas, ovelhas do meu pasto; homens sois; porém eu sou o vosso
Deus, diz o Senhor JEOVÁ.” (Ez. 34:31).
E, que cada um de nós, tal qual
José, tenha os braços “fortalecidos pelas
mãos do Poderoso de Jacó, o Pastor, o Rochedo de Israel”. (Gn. 49.24).
Amém.
Sérgio Geremias
Junho – 2014